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Mostrando postagens de março, 2024

AUSÊNCIA

 Na narrativa pascal segundo S. João, o discípulo amado "viu e acreditou". Mas, se formos analisar bem essa frase, talvez se tivéssemos a soberba de corrigir S. João, diríamos "ele não viu e acreditou". Ou seja, ele não viu o corpo do Mestre e, ao não ver o corpo morto, acreditou que Jesus estava vivo. Porém não foi assim que o Espírito Santo inspirou o autor sagrado. Ele viu e acreditou.  Mas o que ele viu? Ele "viu" a ausência. Estudiosos do Santo Sudário explicam que não há nele nenhum sinal de que aqu'Ele que estava envolto nele tenha sido retirado de um modo normal, como que "desembrulhado", não há no sudário sinais de como um tecido que se sobrepõe à uma ferida e que se gruda a ela quando é retirado. Os indícios seriam de que o Corpo ali envolvido teria produzido uma energia e um clarão semelhantes ao de uma bomba, a ponto de gravar nele uma imagem enquanto saía do tecido. O Sudário, de fato, tem marcas de Sangue. Mas a imagem gravada n

Novo

 Existe um fascínio no novo. O novo é tão bom que fizemos até que tem cheiro: casa nova, carro novo etc. Vez por outra vejo nos mercados a tentativa - sempre frustrada - de reproduzir esse cheiro, há por exemplo, os sachês cujo nome é carro novo, mas nada é igual ao novo. A Páscoa, com todas as suas celebrações, também aquelas que marcam a piedade popular, traz esse cheiro de novo para a vida cristã. Não um novo recauchutado, de segunda mão, mas um novo realmente novo. S. Paulo não teme ser redundante, quando o assunto é Páscoa, ao dizer que devemos andar na novidade da nova vida. Nada é mais contrário ao novo do que a imitação do novo, não podemos viver uma Páscoa pirata, com cheiro de Rua Uruguaiana. Mas uma Páscoa, com cheiro de novo, com o cheiro da nossa vida passada queimada junto aos grãos do incenso para dar lugar a esse bom odor de Cristo que os nossos narizes por pouco não são capazes de sentir. Nesse sentido, nos ajuda a refletir a saudação mais antiga de Páscoa, comum ainda

DONS PASCAIS - ESPÍRITO SANTO

Imaginemos, meus queridos amigos, que existisse um povo que nunca conheceu nada doce. Não há frutas, mel, açúcar... nada. Toda a sua vida se resumisse a coisas onde a presença de coisas doces fosse absolutamente desconhecida. Pouco adiantaria falar de açúcar, bolos, doces... As pessoas até poderiam imaginar o que seria o doce, mas nunca saberiam o que é o doce. Quando vemos a pregação de Nosso Senhor, vemos que na imensa maioria das vezes Cristo trata da caridade e da fé. Ele não deixa de tratar sobre a esperança, mas ela não ocupa um lugar principal, pelo fato de que para as demais pessoas era impossível ter esperança. Ainda não podiam conhecer a verdadeira esperança. As pessoas podiam ter otimismo, pensamentos positivos, boas perspectivas, mas que necessariamente teriam que ser concluídas com o "famoso final feliz". Elas poderiam perdoar quem lhes pedisse perdão, poderiam não fazer o mal a seus perseguidores, na esperança que Deus "lhes faria vingança". Mas não er

DONS PASCAIS - MARIA

 Dentre os três dons pascais de Cristo está Maria. Um dom que somente o discípulo amado é capaz de receber. Ao não dizer "eu", mas "o discípulo que Jesus amava" o Evangelho de João permite a cada discípulo de Cristo, independente do tempo e lugar, viver o Evangelho em primeira pessoa, colocar-se sempre junto a Jesus e assim tê-lo não como uma personagem distante na história, mas alguém que divide a sua história comigo. Maria é o dom pascal que Cristo nos dá, como todos os três grandes dons pascais, a partir da Cruz. É do alto da Cruz que Cristo dá Maria aos seus discípulos amados. É interessante observar que nos textos mais antigos da Sagrada Escritura não aparece a palavra "casa", "o discípulo a acolheu em sua casa", mas o que aparece é simplesmente "em sua": "o discípulo a acolheu na sua". Sua casa, é claro. Mas, mais do que isso, sua vida, sua alegria, sua tristeza. Maria não é um objeto decorativo na casa do discípulo, mas

DONS PASCAIS - OS SACRAMENTOS

 Meus prezados amigos, Nos dias anteriores pensamos em edições fictícias de um "Diário de Jerusalém" onde imaginávamos o que seria noticia sobre Nosso Senhor nesses dias. Hoje porém, necessito meditar com vocês sobre um outro prisma. Um prisma que vai nos acompanhar hoje, amanhã e depois no qual nosso foco estará nos três dons pascais que Cristo confere à Sua Igreja no mistério de Sua Paixão. Quando consideramos os dons pascais, por mais estranho que possa parecer, não é possível nem estabelecer uma ordem, nem uma importância. É claro que não são a mesma coisa e nem mesmo têm o mesmo valor, mas há algo que os nivela: o fato de serem dados à Igreja na Paixão de Cristo. Então não os abordamos por uma ordem cronológica ou de importância, mas simplesmente vamos a cada dia abordar cada um dos dons pascais, para os considerar na Paixão de Nosso Senhor e em nossa vida. Nossa primeira meditação se dirige ao conjunto dos sacramentos. Os sacramentos brotam da Paixão de Cristo e é nesse

DIÁRIO DE JERUSALÉM - EDIÇÃO DE HOJE

 Depois das quase infindáveis discussões no Templo com todos os partidos religiosos de Jerusalém, deixando os líderes sem argumentos, Jesus retornou para Betânia para a casa de seus três amigos: Lázaro, Maria e Marta. Maria, segundo informações, foi a que comprou o perfume caríssimo na botica do Samuel na segunda-feira, ainda não sabemos qual foi exatamente o seu uso, mas nossas fontes com exclusividade conversaram hoje cedo com um dos discípulos mais próximos de Jesus que afirmou que Maria é uma pessoa rígida, que esbanja dinheiro com Cristo, ao invés de deixar o dinheiro na bolsa comum e que o dinheiro que ela gastou com Jesus poderia muito bem ser dado aos pobres. Esse discípulo, que não quis ter seu nome divulgado e por isso o chamaremos de J. I. segundo informações seguras de nossa equipe esteve com os sacerdotes dos judeus e saiu de lá com uma bolsa com conteúdo desconhecido.  Após esse encontro, não pudemos deixar de perceber que os sacerdotes que estavam muito mal-humorados fic

A LIÇÃO DE LINDALVA

  Os dias da Semana Santa, particularmente os do Sagrado Tríduo, têm precedência sobre qualquer outra comemoração, mesmo uma solenidade do Senhor é deixada para depois da Oitava de Páscoa,   para manter os fiéis atentos aos mistérios da nossa Redenção. Mas, por serem datas móveis, esses dias podem nos trazer lembranças que nem sempre coincidem com o calendário. Nesse sentido, podemos recordar que alguém nasceu numa quinta-feira santa; mas seu aniversário não será sempre a quinta-feira santa, mas o dia e o mês do nascimento. Porém, não deixaremos de lembrar dessa pessoa em cada quinta-feira santa. Nesse sentido, a sexta-feira santa, dia da doação total de Jesus por nós (já dizia um Padre da Igreja que se Jesus já nos deu a sua morte, como podemos duvidar que nos dê a sua vida?) também é o dia da doação total de uma mulher de quase 40 anos, Filha da Caridade, que cuidava de velhinhos de um asilo: Lindalva. Convenhamos que após o Concílio Vaticano II, em certos aspectos, a Igreja

DIARIO DE JERUSALÉM - EDIÇÃO DE HOJE

 Ao contrário do que prevíamos de que Jesus ficaria isolado em Betânia, na casa de amigos, Ele surpreendeu a todos, voltando no dia de ontem a Jerusalém. Aliás o dia foi quente: o conflito com os judeus começou quando eles exigiram que Jesus dissesse em nome de quem ele fazia tudo aquilo. Jesus disse que responderia se os judeus respondessem se o batismo e a pregação de João Batista (outro famoso pregador morto a mando de Herodes há algum tempo) vinha dos céus ou dos homens. Como os judeus disseram não saber, ele também não lhes respondeu. Mas não parou por aí! Casamento, ressurreição, vida eterna, futuro da cidade e o nível de obediência que se deve aos doutores da Lei, tudo foi pauta para Jesus. Pontífices, doutores da Lei, Fariseus, Saduceus todos se ergueram contra Jesus lançando-lhe inúmeras e até mesmo esquisitas questões às quais ele não apenas respondeu com grande sabedoria como deixou em descoberta hipocrisia dos chefes religiosos do povo. Foi um dia quente. Até uma figueira q

O DIÁRIO DE JERUSALÉM - EDIÇÃO DE HOJE

 Jerusalém continua agitada diante dos grandes fatos que Jesus de Nazaré proporcionou-lhe ontem. As estradas porém já estão livres dos mantos e das folhas de palmas e oliveiras que as pavimentaram ontem para que o "Filho de Davi" passasse por elas. O Templo também voltou à sua normalidade com as compras e vendas habituais e os cambistas. Quanto ao que o Profeta Jesus disse no Templo já não há mais concordância: alguns dizem que ele disse que ia destruir o templo, outros disseram que ele disse que ia reconstruir em dois dias, outros disseram que ele disse que o templo de mãos humanas seria destruído e reerguido um outro sem mãos humanas. Enfim, não sabemos. Testemunhas disseram que no meio da exultação de sua entrada, viram lágrimas correr sobre o rosto de Jesus tão logo viu a cidade santa e que ele teria dito algo sobre a galinha que reúne os pintinhos, mas que a cidade não quis. "Tu não quisestes!" teria repetido Jesus várias vezes. Hoje, segundo nossas fontes, Jes

EXTRA! REPORTAGEM ESPECIAL DO DIÁRIO DE JERUSALÉM

 Distintos leitores, Nossa edição da manhã já estava pronta quando fomos surpreendidos por fatos que envolvem o famoso profeta chamado Jesus de Nazaré. Embora os que tomaram parte nos eventos tenham dito que tudo foi misteriosamente espontâneo, o fato é que Jesus entrou hoje em Jerusalém montado num jumentinho e que a um numeroso grupo de seus discípulos já o acompanhava desde o monte das Oliveiras se juntou boa parte da multidão dos peregrinos que estão em nossa cidade para a Páscoa. Todos ovacionavam Jesus, chamando-o de filho de Davi e enviado de Adonai. Todos o saudavam com Hosanas, e agitavam ramos de palmeiras e oliveiras, outros colocavam os ramos no chão junto com mantos para que o profeta passasse. Alguns representantes do greenshalom reprovaram o uso das folhas das árvores. Nossa equipe procurou entrevistar alguns dos participantes. A maioria das pessoas, dizia que acreditava que Jesus estava entrando em Jerusalém para instaurar o definitivamente a linhagem de Davi e que dian

CASOS DE IGREJA

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Meus queridos amigos, Sempre gostei muito do SBT, quase exclusivamente por passar os seriados Chaves e Chapolin. Naturalmente acabava por saber da existência de outros programas, cujas chamadas se davam nos comerciais, dentre eles havia um que, embora nunca tenha assistido, parecia ser movido por escândalos, brigas, confusões etc carinhosamente chamado de "Casos de Família". Naquele tempo, acho que não havia ainda a expressão "treta", cujo significado também não saberia definir oficialmente, mas que creio seria o que resumiria tudo o que falei acima. Creio que muitas pessoas hoje jamais assistiriam programas desse tipo, e inclusive diriam que são bregas, foras de moda, que é "tudo combinado" dentre outras coisas. Mas o novo mundo da internet, traz exatamente a mesma coisa com uma aparência diferente: as tretas. A diferença é que ao invés de um programa são infinitos posts, shorts, instagrans, youtubers, sobre exatamente a mesma coisa. O Papa Francisco espi

PERSEVERANÇA

 Meus prezados amigos, Já estamos bem próximos do fim da Quaresma. Semana que vêm já é Semana Santa. Hoje vi uma frase: Corra! Faltam nove dias para a Páscoa! Era uma promoção de ovos de Páscoa, mas creio que vale para nós essa frase. Corra! Estamos há semanas na quaresma, ainda que cada dia se tenha uma missa própria e em Roma haja as estações, para a maior parte dos fiéis não há grandes diferenças entre um dia da quaresma e um dia fora da quaresma, e, quando há diferença, é uma diferença que custa à nossa carne: rezar mais, sacrificar mais... e isso cansa. Corra! Não estagne, não pare. Segue, dá mais, seja generoso. Mantém o passo. Quando estava em Paróquia, gostava muito de uma música que o pessoal cantava que dizia algo mais ou menos assim: "eu te ofereço o cansaço do passo mantido". Conquanto quem me conheça não imagine isso, eu já subi algumas montanhas, e conheço bem aquele cansaço de manter o passo, que muitas vezes dá a impressão de que o próximo passo será o desmaio

ÁRVORE

 Não sei quando é o dia da árvore. Lembro que ele existe. Mas, "privadamente" comemoro hoje o dia da árvore. Porque as árvores vivas são um grande símbolo de força e de resistência, dão aos animais e aos homens sombra, flores, alimento, frescor, seiva. E, como se diz, morrem de pé. E mesmo mortas servem aos animais e aos homens de mil maneiras diferentes dando-lhes abrigo, conforto, luz e calor. Hoje, celebramos o Trânsito de S. Bento. Trânsito, ao contrário do que significa hoje, quer dizer passagem (geralmente a última coisa que encontramos no "nosso" trânsito moderno é passagem), passagem da morte para a vida, passagem para o Céu. E como morreu S. Bento? De pé. Após receber a comunhão, sustentando por dois monges, com os braços erguidos, aquele homem abençoado por graça e por nome deixa esse mundo. Morre de pé, porque na verdade em S. Bento e em sua obra, deu-se o que o Senhor contou na Parábola do grão de mostarda, a pequenina semente que abriga as aves do céu.

SALAMES E MENTIRA

 Meus prezados amigos, Suponhamos que eu queira o mal de uma pessoa. E que, por isso, eu afirme que eu vi a tal pessoa pegando uma tangerina sem pagar na venda da esquina. Isso é uma mentira. Suponhamos que eu desconfie que tal pessoa pegue tangerinas, mas nunca a vi fazer tal coisa, mas o dono da loja me diz que sempre "somem" tangerinas, se eu afirmar que "é" ou mesmo que "pode ser", eu estou cometendo um juízo temerário, ou seja, eu estou acusando direta ou indiretamente uma pessoa, mas sem ter certeza, sem ter tido um "julgamento correto", e aqui no sentido de julgamento mesmo. Chamar a pessoa, conversar, perguntar se ela pegou, investigar etc. Mas, se eu vou no mercado e o gerente (mentindo para vender mais) me diz que o salame está em promoção, e eu compro o salame e aviso meus amigos que o salame está em promoção, mas na verdade não está, então eu cometi um engano, não menti. Aparentemente engano e mentira são muito parecidos e onde há um

ESPOSO DA MÃE DE DEUS

Meus prezados amigos, gostaria de concluir nossa novena a S. José com essa invocação que traz um profundo mistério: a palavra esposo. O único sacramento que a Sagrada Escritura chama de grande é precisamente o matrimônio e, embora, o matrimônio de José e Maria tivesse as suas peculiaridades, não podemos negar que de fato foi um matrimônio, que de fato, não só por efeitos legais ou sociais, José foi verdadeiro esposo de Nossa Senhora. Aqueles que compreendem o matrimônio como uma especial licença para obter prazeres carnais, podem escandalizar-se diante da "veracidade" do casamento de José e Maria. Mas aqueles que compreendem que o prazer carnal vêm em consequência de uma mútua doação, de uma uma plena disponibilidade em cuidar do outro, de estar disposto a entregar a vida pelo outro até a morte e de, no meio de tudo isso, estar completamente nas mãos da Providência para acolher todos os filhos que Deus quiser enviar, esses não terão dúvida de que José era realmente esposo de

CHEFE DA SAGRADA FAMILIA

 Essa invocação, meus amigos talvez seja a mais odiosa aos olhos do mundo contemporâneo, porque ele odeia essas três coisas: qualquer autoridade, qualquer coisa santa e a família. O ódio à família é disfarçado pela tentativa diabólica de "propor vários tipos de família", lamento que até entre católicos fervorosos se tenha adotado o adjetivo "tradicional" para o único tipo de família que existe. Por isso essa invocação, como uma espécie de tris-hagion, volta três vezes a Deus: Chefe por escolha de Deus; Sagrada, porque santificada por Deus; Família, porque constituída de acordo com o desígnio de Deus. Ao mesmo tempo, essa invocação apresenta a solução para a reconstrução cristã da família: ter um chefe, ter autoridade, ter quem conduz. O mundo moderno faz do homem um pamonha e ensina que a mulher deve estar em qualquer lugar menos dentro de casa cuidando do marido e dos filhos,e, se ela opta por não trabalhar fora para se consagrar à vida familiar o mundo a chama de

ZELOSO DEFENSOR DE CRISTO

 Na Ladainha invocamos a S. José como "Zeloso defensor de Cristo", honestamente creio que "defensor" e "Cristo" não precisam ser explicadas, mas é muito necessário que entendamos o que significa zelo. Especialmente na Sagrada Escritura. Em certo sentido, zelo seria o oposto do instinto de conservação da própria vida. Zela quem está disposto a morrer, só este é de fato "zelador". Jesus fala do mau pastor, mercenário, que foge diante dos lobos para conservar a própria vida, abandonando as ovelhas. Creio não estar errado em pensar que os três anos em que Jesus conviveu com os Apóstolos, foram unicamente para ensinar a eles o que é zelar. Não à toa, os sucessores dos Apóstolos foram chamados de epíscopos, que significa sentinela, protetor. Jesus não tem problema com o zelo dos apóstolos, mas com o zelo equivocado dos Apóstolos. Todos eram zelosos, tinha até Simão (não o Pedro) que era de uma facção chamada de Zelotes, mas o seu zelo era mau. O zelo i

LIMITES DE DEVOÇÃO

Eu amo Nossa Senhora. Mais do que isso. Eu a venero. Mais do que isso: eu a venero com uma veneração maior do que a dos santos e anjos. Com S. Bernardo eu digo que dela não se falará nunca o suficiente e, como a Igreja me permite crer (não me obriga) pelo testemunho de inúmeros santos, eu creio que Ela é Medianeira de TODAS as graças e Co-Redentora. Mas eu não digo (nem penso) que Maria seja Deus. Ou exponho um ícone da Virgem numa custódia para dar a "Benção do Santíssimo" com Tantum ergo etc. A devoção tem limites. Podemos pensar em limites mínimos e máximos, os quais habitualmente coincidem com a heresia. Não venerar Nossa Senhora, além de blasfêmia é uma negação das verdades de fé que a apontam desde o Evangelho como "bendita entre as mulheres", mas atribuir-lhe a natureza divina, alem de ser uma desonra contra ela (não há honra sem verdade) é também uma blasfêmia e uma heresia. O mesmo se aplica ao Papa. Dizer que ele tem um carisma especial por meio do qual o

PROTETOR DA SANTA IGREJA

 Os teólogos costumam afirmar que não há um momento preciso em que Cristo funda a sua Igreja. Há vários momentos em que Cristo se refere à ela, mas nenhum com uma conotação fundante. No primado de Pedro, na ordenação dos Apóstolos, na instituição da Eucaristia, no envio dos discípulos, Cristo refere-se à Igreja, ao Reino, ao seu Povo, mas não são nesses momentos que Ele constitui ou funda a sua Igreja. A Igreja, quando Cristo começa a sua vida pública, é o "Reino que já está entre vós". A Igreja precede a pregação de Cristo, mas não precede a sua vinda. A Igreja se funda pela fé e nesse sentido Cristo dá origem à sua Igreja nos corações fiéis de Maria e José. A Igreja nasce a partir da fé de Maria, feliz porque acreditou. E a partir da fé sempre transformadora de S. José. Que não é "apenas" quem acredita, mas quem "age" como quem acredita. Assim onde está Jesus, mesmo Menino, mesmo incapaz de falar ou ensinar, aí está a Igreja, como onde está a Cabeça, aí

QUAL O PODER DA IGREJA?

 Diante das ruínas da cristandade percebemos ainda certos costumes que ainda que sejam coisas "piedosas" em si mesmas, correm o risco de gerar o que habitualmente chamamos de escândalo. Escândalo é uma palavra técnica, não é uma pessoa dando um berro na rua, mas é quando a maldade é engrandecida. Escândalo, por exemplo, é dar a comunhão a um pecador público que não mostrou previamente suas obras de conversão. Considerando que o próprio Cristo disse que quem promove um escândalo, seria preferível amarrar uma pedra de moinho (algumas toneladas) no pescoço e ser lançado ao mar, a Igreja teve por hábito evitar os escândalos, ou seja evitar aquelas situações em que não é muito fácil separar o pecador do pecado e que alguma boa ação feita ao pecador pudesse parecer um incentivo ao pecado. E isso sempre foi de grande tranquilidade para a Igreja, porque não é ela que decide o destino eterno de uma pessoa, mas Deus. E esse é o ponto principal. Pensemos numa pessoa que morra em pecado

TERROR DOS DEMÔNIOS

 Muitas vezes, quando rezava em comunidade a Ladainha de S. José, percebia uma certa "animação" quando o dirigente fazia essa invocação. De fato, ela é "forte". Mas não seríamos bons devotos de Nosso Senhor S. José sem compreender bem essa invocação, ou seja, sem compreender o porquê de S. José ser o Terror dos demônios. Creio que em S. José convergem três coisas que, sendo o completo oposto do espírito infernal, não faz com que o diabo apenas "evite" S. José, mas lhe tenha verdadeiro pavor. Duas delas foram tratadas imediatamente anterior: a castidade e a obediência de S. José. É verdade que se atribuiu um apoftegma em que um demônio teria aparecido a um pai do deserto como uma criatura casta, uma vez que não tem corpo para pecar. Sim, o demônio não tem corpo, mas a impureza é apenas um pecado sensorial? Não são os demônios chamados pelo próprio Cristo como "espíritos impuros"? Se um homem sofresse um acidente e ficasse completamente paralisado,

JOSÉ OBEDIENTÍSSIMO

 Meus caros amigos, é muito difícil encontrar alguém que seja simplesmente obediente. Em sua ladainha, S. José é chamado de OBEDIENTÍSSIMO. Um exemplo não muito "fofo" de obediência que os místicos e ascetas sempre usaram é o do cadáver. Onde você coloca e do jeito que coloca, ele fica. Na vida comum, a obediência se dá por ordens, comunicações e, às vezes até, consultas ao próprio interessado. No caso de José, a sua obediência primeiro é direcionada unicamente à Deus e sua Lei, e ele a cumpre diante de comunicações sobrenaturais impossíveis de serem compreendidas plenamente pelo intelecto humano.  "O que nela foi gerado é obra do Espírito Santo..." Ok. Como assim Espírito Santo? A Santíssima Trindade se manifesta a José num momento de profunda dor e angústia, mas ele já a adora, fazendo da dor e angústia perfumes preciosos que derrama sobre o altar do seu coração erigido em honra da Trindade que acabara de conhecer. Quanto menos questiona, mais valorosa é a obediên

JOSÉ CASTÍSSIMO

 Talvez em poucos momentos da história poderíamos identificar a castidade como uma virtude urgente. A falta de castidade é como um verme capaz de corroer como mortos organismos vivos, dando a estes uma expressão cadavérica, ainda que se articulem e se movimentem.  Ao contrário, a castidade dá um gosto de eternidade a todas as coisas, ou desprezando-as porque não haverá lugar no céu para elas, ou ordenando-as em vistas do céu. Não à toa, ao descrever os que se fazem "castrados" por causa do Reino dos Céus, Jesus os compara aos anjos do céu. A castidade em grau superlativo de S. José (castíssimo) não está "apenas" no fato de ter tido um casamento virginal com a Mãe de Deus. Se assim fosse, José seria apenas "casto". Castíssimo significa que toda a vida de S. José foi envolta pela castidade. A idade de S. José, um eventual primeiro casamento, são conjecturas de estudiosos. Na verdade não há grandes evidências sobre isso. Por outro lado, pensar num S. José mui

NUTRÍCIO DO FILHO DE DEUS

 Poucas expressões podem conter um abismo entre duas proposições como esta. Nela nos referimos à S. José como nutrício, ou seja , como aquele que deve nutir, sustentar, prover as necessidades do... Filho de Deus. É como se pegásssemos um mendigo e lhe conferíssimos o título de ministro da economia. Essa invocação que engradece a S. José, nos dá uma pálida dimensão do aniquilimento de Cristo assumido livremente por amor de nós. A Santa Liturgia em outro momento comenta o fato de que "aquele que as aves sustenta, quis ser sustentado" com o leite da Santíssima Virgem. O despojamento de Cristo gerou um escândalo tão grande entre os primeiros fiéis que, os primeiros hereges quiseram reduzir tudo o que é humano em Cristo: fome, dor, sofrimento e morte à uma simples aparência, a algo que não era real. Que Cristo "parecia" passar por isso, mas lá no fundo de seu interior nada disso O atingia realmente. Por isso, S. João insistirá tanto na "carne", "sarx"

José justíssimo

Não são muitas vezes as vezes que a Sagrada Escritura utilizará a palavra justo (tsadikk, em hebraico e díkaois, em grego) para alguém além de Deus mesmo. Certamente a ideia de justiça não diferirá em essência do que a palavra Santo significa, creio ser possível inclusive complementar as ideias. Qadosh ou hagíos, são como que a santidade em si mesma, a não mistura com os falsos. Já a tsadikk ou díkaios considerará o ente na sua relação com os outros. Nesse sentido Deus é intresnsecamente Santo e justo para com os homens. Será essa expressão grega, díkaios, que o evangelho usará para definir José.  Os dados filhos de David, morador de Nazaré não dizem muito sobre sua personslidade. Mas díkaois, justo, resume numa só palavra a vida do Santo Patriarca  Primeiro o coloca naquela grande linha dos justos, na companhia de Abraão, Isaac e Jaco, segundo reflete a sua disposição em buscar o Reino de Deus e a sua justiça, onde tudo o mais será dado em acréscimo. Como não imaginar que Jesus pensav

NOVENA A SÃO JOSÉ

  Meus caros amigos, Podemos começar hoje (no máximo amanhã) a novena de S. José. As novenas muitas vezes são usadas pelo povo fiel para impetrar graças de Deus. A primeira novena foi feita pela Virgem Maria com os Apóstolos no Cenáculo esperando a vinda do Espírito Santo. Mas também podemos fazer novenas para agradecer graças ou simplesmente para honrar certo aspecto da Vida Divina ou um Santo. Nesses nove dias que nos conduzem à solenidade de S. José, gostaria de durante esses nove dias meditar na figura do Santíssimo Patriarca, guiando-me por nove invocações de sua Ladainha. Esposo da Mãe de Deus. Sei que pode parecer um pouco macabro, mas quando tenho que ir à cemitérios antigos, gosto de parar para ler as lápides das sepulturas. A maioria diz apenas o nome e as datas de nascimento e morte do que está ali sepultado. Outras porém dizem algo mais, e é esse algo mais que me chama a atenção. Tirando as expressões saudades eternas e similares, que estão equivocadas porque

SANGUE

 Ainda que seja o mês de julho aquele dedicado ao Preciosíssima Sangue de Nosso Senhor, com a sua festa no dia 01; nesse tempo da Quaresma, caminhamos para o derramamento absoluto desse Sangue, por isso será benéfico às nossas almas considerá-l'O mais detidamente. A primeira consideração é que tudo o que diz respeito diretamente à Pessoa Divina de Jesus Cristo é digno de adoração. Seja adoração relativa, seja adoração absoluta. Explico: uma relíquia de Nosso Senhor recebe culto de latria (adoração) relativa, porque se adora não estritamente aquela coisa, mas o Cristo que nela exerceu a nossa Salvação. Nesse sentido, por exemplo, falamos de adoração da Cruz, por exemplo. Há relíquias do Preciosíssimo Sangue espalhadas pelo mundo: o Sudário, o véu de Verônica a Santa Escada etc. Em cada uma delas se adora a parcela do Precioso Sangue ali presente. Também quando consideramos na imaginação ou pela vista de uma imagem, ou na Via Sacra, o Precioso Sangue ali vertido, o fazemos "ador

HUMILDADE

 Meus prezados amigos, O tempo da Quaresma é um tempo de humilhação. Nele descobrimos o quanto somos dependentes das coisas que decidimos nos abster. Como somos fracos, como geralmente não queremos ser elogiados, mas não suportamos ser criticados. A Quaresma é um tempo de combate contra o demônio. Na compreensão mística dos padres e madres do deserto, demônio não é apenas aquele anjo caído com seus companheiros de perdição, mas também aquilo que sem que seja necessária uma influência preternatural trazemos em nós mesmos. E esse é o caso de muitos sentimentos que habitam nossa mente, desviando-nos de Deus, fim último de nossa existência e colocando-nos no eixo central de nossa vida. Deus se torna um ornamento de Nossa vida, quando Ele deve ser a nossa vida. E esse demônio do orgulho todos o trazemos muito forte em nós. A penitência precisa ser essa iniciativa que nos humilha. Uma humilhação que gravita em torno da misericórdia: pedimos a misericórdia de Deus e oferecemos misericórdia a

ESPOSOS

 Meus prezados amigos, vez por outra o Santo Padre surge com um pensamento, quase um neologismo e o repete em vários momentos. Há algum tempo, o Papa falou de "desmasculinizar" a Igreja. Creio que talvez a minha interpretação sobre essa expressão não coincida plenamente com a ideia do Santo Padre, mas gostaria de partilhar com vocês o que essa expressão me trouxe à mente. Creio que a Igreja se torna masculinizada quando tem à sua frente homens, não esposos. O homem é o forte, o que prevalece, o que luta. O esposo é o que faz isso tudo e muito mais. A diferença é que o "homem" faz isso por si mesmo e o "esposo" o faz pela esposa.  S. Paulo falando sobre o casamento lança sobre o esposo a imagem do Cristo que dá a vida, ou seja do Cristo Crucificado que na manifestação máxima de seu poder, pode e quis morrer para salvar a Igreja. Nesse sentido, se os que estão à frente da Igreja tem o foco em si e não nela, não são esposos, são apenas homens. O padre, o bisp

TER

 Meus queridos amigos, Eu creio que o maior sinal de contradição que Cristo traz diz respeito exatamente à posse de bens materiais. O Senhor não utiliza meias palavras quando se refere a deixar tudo, vender tudo. E o Senhor pode dizê-lo como Mestre e sobretudo como testemunha, quando o Apóstolo define a atitude de Cristo mais do que um desapego, mas um esvaziamento. Nisso é necessário compreender que existem necessidades pessoais e necessidades sociais. As necessidades pessoais como alimentar-se, respirar, descansar precisam ser vividas pelos discípulos de Cristo sob a ótica da mortificação, uma vez que o corpo sempre exigindo mais do que necessita enlanguidece a alma. Mas há também igualmente necessidades da sociedade, às quais algumas pessoas podem se desvencilhar, mas não todas, para o bem da sociedade: assim, por exemplo entendemos a posse de bens e mesmo a necessidade social da reprodução da espécie humana. Porém, essa segunda, ao longo dos séculos encontrou bastante especificação

QUANDO NÃO JULGAR É PECADO?

 Meus prezados amigos, Nosso Senhor nos disse: "Não julgueis para não serdes julgados". Sim, é isso mesmo. Mas Ele também disse: "Bem-aventurados os pacíficos!" No entanto, Nosso Senhor em outros momentos, exorta os seus fiéis a lutarem chegando a dizer que veio trazer não a paz, mas a espada. Podemos crer que algumas sentenças de Nosso Senhor não podem ser consideradas num sentido absoluto, mas que deveriam ser consideradas num contexto muito preciso. Falo isso porque muitos fiéis que conheço têm um verdadeiro pavor de "julgar". Realmente o ideal seria que nunca julgássemos, mas há situações em que somos OBRIGADOS a julgar.  Um juiz de direito ou um membro de um júri, por exemplo, DEVEM julgar para o bem da sociedade. Seu julgamento não é infalível, podem errar e devem estar cientes disso, por isso devem buscar o juízo o mais reto possível, livre de interesses, preconceitos, atendo-se aos fatos e provas apresentados.  Também um patrão deve julgar. Seu jul

SÍNDROME DE RUBEN

Meus prezados amigos, Quando lemos o livro do Gênesis sobre Jacó e seus filhos, particularmente sobre José, vemos o ódio dos irmãos para com este a ponto de tramaram e quase executarem a sua morte. Sabemos que José acaba vendido aos madianitas e parará no Egito. Mas nesse ínterim há um pequeno expediente: Ruben, segundo o autor sagrado, tenta evitar a morte de José, e inventa a ideia de colocá-lo num fosso para depois resgatá-lo. Será exatamente essa ideia que possibilitará a venda de José, afinal os irmãos não venderiam um cadáver... Ruben é a imagem de quem não admite o mal, mas não o combate diretamente. Tenta optar por uma via média, um caminho alternativo, nem tanto o céu, nem tanto a terra... Ruben é a imagem do bom fraco. Existe uma espécie de síndrome de Ruben: fica no seu mundo pensando em reverter um mal que deveria combater. Ao invés de enfrentar seus irmãos e defender José, tenta encontrar uma ideia que não contrarie os irmãos e não mate o outro irmão. Óbvio que não descobr