DONS PASCAIS - MARIA

 Dentre os três dons pascais de Cristo está Maria.

Um dom que somente o discípulo amado é capaz de receber. Ao não dizer "eu", mas "o discípulo que Jesus amava" o Evangelho de João permite a cada discípulo de Cristo, independente do tempo e lugar, viver o Evangelho em primeira pessoa, colocar-se sempre junto a Jesus e assim tê-lo não como uma personagem distante na história, mas alguém que divide a sua história comigo.

Maria é o dom pascal que Cristo nos dá, como todos os três grandes dons pascais, a partir da Cruz. É do alto da Cruz que Cristo dá Maria aos seus discípulos amados. É interessante observar que nos textos mais antigos da Sagrada Escritura não aparece a palavra "casa", "o discípulo a acolheu em sua casa", mas o que aparece é simplesmente "em sua": "o discípulo a acolheu na sua".

Sua casa, é claro. Mas, mais do que isso, sua vida, sua alegria, sua tristeza. Maria não é um objeto decorativo na casa do discípulo, mas é presença em toda a sua... em todas as suas.

No texto do Evangelho, não se refere à atitude de Maria. Jesus a vê e a confia ao discípulo amado que a acolhe, mas não diz o que fez Maria diante desse último pedido de seu Filho. A humanidade recebe Maria como Mãe na Cruz, mas Maria recebe cada homem como filho ao conceber Jesus. 

Na teologia de S. João, o Cristo é o novo Adão, tudo que se refere a Cristo se refere a toda humanidade, portanto ao conceber Cristo, Maria se tornou a Mãe de todos os homens. Se a Redenção de Cristo abarca desde Adão até o último homem a nascer, a Maternidade de Maria se estende não só "a partir" de Cristo, mas igualmente a todos os homens: Ela é Mãe de Adão, de Abraão, de Isaac... de todos os homens.

Na Cruz a humanidade "conhece" a sua Mãe do mesmo modo como a criança recém-nascida "conhece" sua mãe após o parto. Nos trinta e três anos decorridos dentre a Anunciação e a Cruz, Maria gerou a humanidade. A Palavra e os Gestos de Cristo que Ela guardava no Coração era com o quê ela nutria a humanidade que gestava.

Maria é o dom pascal que mostra a magnanimidade de Deus. Deus não permite outros deuses, mas nos ordena a termos outros amores, amores que nos são dados por Seu Amor.

O Deus ciumento que se mostra no Antigo Testamento é também o Deus que no Paraíso Terrestre soube compreender a solidão de Adão. E que entendeu, de certo modo, que no coração de Adão havia um espaço que nem Ele seria capaz de abarcar. Deus não diz a Adão: "Olha, eu estou aqui com você, eu devo te bastar!" Mas enquanto Adão dorme, Deus como um Pai no dia de Natal, prepara um presente para Adão: a Mulher.

A Mulher Virgem, a Auxiliadora, como diz literalmente o relato do Gênesis, acabou fazendo o papel oposto, enganando-se junto a Árvore da Ciência e levou o Homem ao pecado. E aquela por quem a morte entrou no mundo passa a ser chamada de Eva: Mãe dos viventes, mas dos viventes condenados à morte.

Esse mesmo cenário Deus recria no Gólgota: A Cruz, árvore da vida, a Mulher Virgem, a Auxiliadora oportuna, tal como se diz no Gênesis, e o Homem, Cristo. E Deus então cura a história dos homens, dando-lhes agora na Mãe d'Aquele que morria, a Mãe de todos os que viverão por causa da Morte de d'Ele.

A morte de Cristo teve muitos espectadores - maus e bons; pecadores e santos - mas só teve uma auxiliar, só uma alma podia co-redimir com Cristo e esta é Maria. A Cruz é a doação total de Cristo, portanto precisava ser também o local da doação total de Maria por meio de Cristo.

Por fim, meus amigos, estendo o meu olhar a todas as mulheres.

Eu posso não parecer muito ortodoxo no que vou dizer, mas quando penso no fato de que Cristo tenha escolhido homens para o ministério apostólico, o que me vêm na cabeça é a frase de S. Paulo de que Deus escolhe o fraco, o que não é.

Nós vemos isso na Cruz, só um apóstolo, mas cem por cento das discípulas.

Se as mulheres estivessem à frente da Igreja, certamente a Igreja estaria bem melhor do que está hoje. Sua coragem, sua disposição ao sacrifício, sua amplitude de visão... a Igreja seria visivelmente invencível. Mas Deus escolheu o fraco, o homem. De modo que praticamente para tudo na Igreja precisemos de fé, para crer que apesar dos homens, Deus continua presente em sua Igreja.

Numa sexta-feira Deus criou o homem. Numa sexta-feira o redime, e o redime também dando-lhe alguém que ele acolha em sua... 

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