QUARESMA

 


Não sei se já chegaram à conclusão de quem foi que veio primeiro o ovo ou a galinha (embora eu tenha a certeza de que foi a galinha), mas em relação à liturgia não temos porque ter a menor dúvida de quem veio primeiro se o tempo da quaresma ou o tempo pascal.
A quaresma é o tempo mais antigo e mais rico da liturgia da Santa Igreja, daí se pode perceber a sua importância. E essa importância se deve ao fato de que a Quaresma é o tempo que mais se assemelha (ou que mais se deveria se assemelhar) à vida comum dos cristãos.
Para esse fato, por exemplo, já chamava atenção o Patriarca S. Bento, ao dizer que a vida do monge deve ser em todo o tempo uma constante quaresma (RB 49,1). E ao considerarmos a quaresma em seus elementos essenciais, percebemos o quanto ela deve ser realmente perene em nossas vidas, refiro-me à oração, à esmola e à penitência.
Do mesmo modo que para o bom filho, todo dia é dia das mães, para o bom cristão todo o dia é quaresma, ou seja é dia de oração, de esmola e de penitência, sendo a quaresma apenas um tempo em que se vive com ainda mais vigor o que deve ser a nossa vida diária.
Por isso, a Igreja tradicionalmente oferece aos cristãos uma preparação para a quaresma, chamada de septuagésima, ou seja uma preparação para a preparação.
Consideremos que nossa vida é sempre acelerada demais, e que a septuagésima dá a possibilidade de que não tenhamos uma "freada brusca", mas, aos poucos, possamos ir desacelerando e preparando o nosso espírito para o tempo quaresmal.
Hoje já é o Domingo da Quinquagésima, ou seja o último domingo antes da Quaresma.
Portanto é o momento mais oportuno para já formularmos os nossos propósitos para a Quaresma, ou seja, aquilo que será o diferente, o mais intenso, desse tempo santíssimo que está às portas.
Desse modo, gostaria de propor algumas sugestões para o tempo da Quaresma: 
1. Meditar pelo menos seis vezes por semana sobre a Paixão do Senhor;
2. Meditar uma vez por semana sobre o que mais me afasta de Deus;
3. Elencar quais serão as abstinências que farei;
4. Determinar que esmolas eu darei e para quem;
Consideremos cada um dessas quatro sugestões.
Algo comum aos santos é que não se deva passar um dia sem meditar a Paixão do Senhor. E por que isso? Porque a Paixão do Senhor é um remédio para TODOS os males, ou no dizer de Santo Tomás de Aquino é uma "escola de todas as virtudes". Meditando a Paixão do Senhor aprendemos a ter horror dos pecados, que foram a causa de tanto sofrimento; nos sentimos convidados a unir os nossos sofrimentos aos do Senhor, aprendemos a suportar as fraquezas alheias e, o mais excelente de todos, crescemos em caridade para com Deus e para com o próximo.
A meditação diária da Paixão do Senhor pode se dar pelos mistérios dolorosos do Santo Rosário, pela leitura dos Santos Evangelhos ou de algum livro de espiritualidade (A Paixão do Senhor de Frei Luiz de La Palma, A P; A Paixão de Cristo segundo o cirurgião, de Pierre Barbet, por exemplo) e também pelo exercício da Via Sacra (particularmente as escritas pelos Santos e as do Dr. Plínio Correa de Oliveira). Essa meditação não deve durar menos que 15 minutos e não mais que 30 minutos.
Uma grande tentação que podemos ter na quaresma é jurar que vamos nos converter, mas sem saber em que consistirá essa conversão. Por isso, cada fiel poderia pensar assim: qual ou quais pecados sempre estão presentes na minha confissão? Olhando para os sete pecados capitais, qual seria a cabeça (capital vêm de cabeça) dos meus principais pecados? 
Por exemplo, se sempre me irrito, se não aceito ser corrigido, se quero sempre que tudo saia como planejei, ao que tudo indica, meu pecado principal é a soberba (ira, inveja, avareza vão juntas). Se sou mole, preguiçoso, não termino o que começo, durmo e como demais, não consigo ficar sem TV ou celular... provavelmente meu pecado principal é a luxúria (gula, preguiça vão juntas). 
Desse modo, é importante que eu medite sobre o pecado que mais me afasta de Deus. Que tente compreender suas raízes em minha alma e, o principal, que eu conheça e tente praticar a virtude oposta a esse pecado.
A editora quadrante têm livros bem pequenos sobre várias virtudes (fortaleza, bom-humor, pudor etc), esses livros poderiam orientar essas meditações.
Opa!
Já ia esquecendo de falar o que é meditação.
Muita gente pode pensar que é ficar naquela posição horrível dizendo oummmmmmm.
Não. Meditação ou oração mental é um tempo de oração em que se começa pondo-se na presença de Deus e pedindo a Ele que inspire esse tempo. Tem-se já um tema pré-estabelecido e um livro que está lendo em sequência sobre o tema. Reserva-se um tempo final para propósitos ou para considerar alguma inspiração ou afeto que tenham surgidos. E conclui-se agradecendo a Deus por aquele tempo e pedindo a sua graça para pôr em prática o que foi pensado.
Outra coisa importantíssima na quaresma é elencar as abstinências que farei: carne? refrigerante? suco? banho quente? cochilo? cerveja? joguinho de celular? Unida à abstinência estará também a penitência corporal, a qual nunca deve ser decidida pela pessoa sozinha, mas sempre com o auxílio de um diretor.
E, por fim, determinar as esmolas e o seu direcionamento.
Por esmola está em primeiro lugar o dinheiro (se você gosta de pensar em esmolas que não sejam financeiras, geralmente você sofre do vício da avareza), mas também o tempo, comida e outros modos de suprimir ou diminuir as necessidades alheias. Mas essas esmolas necessitam de alguma organização, porque se deixamos para ver o que sobra, coitadinho de quem iria receber a esmola...
Queridos amigos, particularmente aqueles a quem dirijo espiritualmente, dediquem esses três dias que nos separam da quarta-feira de cinzas para escrever num papel e no coração essa sua "programação" quaresmal e juntos vivamos esse tempo caminhando rumo à Pascoa que não terá fim.
Que Maria Santíssima seja a Estrela que nos conduza por esses mares.




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