FUGI





Quando pecam, Adão e Eva seguem uns passos que, de certa forma se tornam universais, comum a todos os que pecam. Muitos não percebem que seguem exatamente o mesmo caminho. O descreverei aqui para que mais facilmente deixemos de seguir os passos do velho Adão e sigamos os do Novo, ontem nascido para nós.

"A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente." 

1. A consideração da possibilidade de pecar.
Quando consideramos a possibilidade real de pecar, o pecado já começa a reinar em nós. É claro que, em tese, eu aqui sentado, enquanto escrevo, posso cogitar matar uma pessoa; isso é uma coisa (que já não é boa, evidente). Outra bem diferente, e bem pior seria sair armado indo na direção da casa do vizinho que me ofendeu outro dia.
Ao considerarmos um pecado como uma possibilidade real em nossa vida, a primeira coisa a fazer é desfazer tudo o que nos possa levar a que essa possibilidade se concretize. Seja criativo!

2. O "bem" proporcionado pelo pecado.
O pecado se apresenta a nós como um "bem", um "prazer", uma "justiça" etc. Aquele peca, ainda que saiba que age mal, pensa no "bem" que vai alcançar através do pecado. Um padre idoso certa vez comparou o pecado a um "bombom envenenado", é gostoso, mas mata.
Além de considerar comer do fruto, Eva admira, vê que "era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência". Aqui a consideração da ofensa a Deus já não passa mais na mente de Eva, e nem na de Adão. 
Aqui podem nos ajudar duas coisas: a constante recordação de que Deus está conosco (através do uso de sacramentais como água benta, crucifixo, medalha milagrosa...), Dom Bosco gostava de recordar aos seus meninos: "Deus te vê!" e a consideração do "veneno" ou seja do mal posterior que certamente o pecado fará.

"Então os seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram fo­lhas de figueira, ligaram-nas e fizeram tangas para si."

3. A dificuldade em se arrepender do pecado
O pretenso "bem" causado pelo pecado, muitas vezes impede o verdadeiro arrependimento do pecado. Por exemplo, alguém mata um filho meu, e eu num ímpeto de ódio, buscando uma falsa justiça busco e mato essa pessoa. Nem sempre será fácil sinceramente considerar que fiz um mal. Por isso, Deus nos deu a sua Lei. Algumas vezes na liturgia há uma proeminência do lado direito sobre o esquerdo, para indicar que em tudo é enganador o coração (lado esquerdo) e que temos que nos guiar pelo razão (lado direito). Não importa que eu lá no fundo ainda considere que fiz uma coisa boa, isso é sentimento. A minha razão, iluminada pela palavra de Deus, me diz que pequei. 
A partir daí busco a contrição, que é dom de Deus, e por isso deve ser pedida humildemente.

E eis que ouviram o barulho (dos passos) do Senhor Deus que passeava no jardim, à hora da brisa da tarde. O homem e sua mulher esconde­ram-se da face do Senhor Deus, no meio das árvores do jardim. 
Mas o Senhor Deus chamou o homem e perguntou-lhe: “Onde estás?”.E ele respondeu: “Ouvi o barulho dos vossos passos no jardim; tive medo, porque estou nu; e ocultei-me”. 

4. Fugir de Deus
Aquele que peca, começa a agir como se Deus "estivesse de mal" com ele. Deixa a oração, não visita o Santíssimo, não reza o terço...
É claro que aquele que cometeu pecado mortal não pode comungar. Mas não deve parar de rezar, muito menos de ir à Missa, ainda que não possa comungar. Fugir de Deus não resolve, ao contrário.
Aquele que peca parece receber uma "capacidade imensa de piorar as coisas", deixa de rezar, deixa de usar os sacramentais, e... entrega-se aos mesmos ou a novos pecados.
Pensemos em nosso corpo: a pessoa doente geralmente perde o apetite, se se deixar levar pela perda de apetite morre. Assim é com a alma: quem peca, perde a vontade de rezar, se se deixar levar por isso...
Pensemos agora num alpinista que num descuido escorrega três metros na sua subida para o topo do monte. Ele não pensa: "Ah... já que escorreguei três metros, vou cair mais dois..." Não! Ele sabe que quanto mais escorregar, tanto mais longe fica da meta, como mais esforço terá que fazer só para voltar ao lugar onde estava. Assim é com nossas almas: se nos entregamos a mais pecados, teremos que fazer um esforço ainda maior não tanto para progredir na vida espiritual, mas apenas para se voltar onde estava antes de cair.
É justamente quando nos afastamos de Deus que mais necessitamos da oração. Com seu jeito brincalhão o Pe. Léo costumava dizer que o demônio têm horror dos bêbados, porque eles muitas vezes quando bebem vão para a Igreja, querem rezar... nem com o pecado da bebedeira eles se afastam da oração. É claro que isso era apenas uma consideração bem-humorada, hein!

O Senhor Deus disse: “Quem te revelou que estavas nu? Terias tu porventura comido do fruto da árvore que eu te havia proibido de comer?”. 

5. A mentira
Deus dá ao homem decaído a possibilidade de dizer a verdade. Deus até facilita indicando o pecado cometido. Mas o homem não é capaz de dizer a verdade. Nessa hora crê mais fácil mentir. Não reconhecer o pecado.
Assim nós muitas vezes mentimos ou criamos eufemismos para o pecado. Interromper a gravidez, fazer uma rachadinha, dar um jeito, contar um negocinho... São mentiras, são modos menos desagradáveis de dizer coisas horríveis e que acabam tirando do nosso coração a necessidade de pedir a Deus a conversão e o arrependimento.

O homem respondeu: “A mu­lher que pusestes ao meu lado apresentou-me deste fruto, e eu comi”."

6. Culpar alguém
Um outro expediente muito comum é culpar os outros, mesmo Deus. Eu não pequei porque sou fraco, pecador, feito de barro... Foi o outro que me levou a pecar, foi aquela menina, foi aquele meu amigo, foi a minha vizinha, é esse marido, é aquele padre...
De repente a culpa é até de Deus, que fez isso ser pecado...
A minha experiência de alguns anos sentado num confessionário me levou à uma conclusão: a quantidade de justificativas que um penitente dá é inversamente proporcional ao seu arrependimento...
Eu fiz.
Eu pequei.
E basta.

Enfim, queridos amigos, cada vez mais tenho falado menos, até mesmo por causa da vida que escolhi, ou que escolheram para mim. Me é difícil hoje escrever ou falar muito, mas espero que essas sucintas linhas te ajudem a desarmar o ciclo no qual tantas vezes caímos e nem sempre conseguimos sair.

Em resumo. 
Confesse.
Não se acostume com o ciclo pecar- confessar- tornar a pecar.
Esforce-se. Lute.
Mas Deus sabe sua luta. Se o padre te der uma bronca... paciência. Confesse. A bronca foi do padre, mas o perdão foi de Deus, que nunca "ficou de mal com você!"

Comentários