JUNTOS


Terminou há pouco a celebração presidida pelo Santo Padre Francisco. Nela ouvimos o Evangelho da tempestade acalmada onde os discípulos perguntam a Nosso Senhor: "Não te importas conosco!" O Santo Padre direcionou parte de sua reflexão a esta pergunta.
Sim, o Senhor Se importa conosco, e não é porque atravessemos noites e tempestades que Ele não esteja conosco, ou ainda, não se importe conosco.
O problema não é se Deus se importa conosco, mas se nós nos importamos com Deus. Disse o Santo Padre que nós não ouvimos o grito de Deus, nem dos pobres, nem do planeta e que quisemos viver sadios num planeta doente! Não ouvimos a voz de Deus.
Mas Ele está conosco.
Ele se importa conosco.
Essa pergunta dos discípulos feriu, de certo modo, o Coração de Jesus, porque não há nada pior para quem ama, do que a suspeita do amado. Sim, Ele se importa.
Após sua reflexão, o Santo Padre dirigiu-se à Nossa Senhora, cujo ícone "Saúde do Povo Romano" estava na praça, e foi entoada a mais antiga oração à Maria Santíssima: Sub tuum praesidium... Debaixo da tua proteção... Pode estranhar que o Papa vá primeiro à Maria, mas é assim que faz o Evangelho de João nas Bodas de Caná, primeiro recorda a presença da Mãe, porque a presença da Mãe é geradora de vida e é por Ela que nos vêm a vida.
Depois, com seus passos cansados e abatidos o Papa deteu-se diante do "Santíssimo Crocefisso", um crucifixo que escapou ileso a um incêndio que destruiu a Igreja onde ele estava e que foi levado em procissão pelas ruas de Roma durante uma grave epidemia, criando-se o costume de ir de S. Marcello (a Igreja onde ele fica) até o Vaticano em cada Ano Santo. No ano 2000 S. João Paulo II abraçou e beijou esse crucifixo.
Do ponto de vista da arte e da medicina, consideram esse crucifixo o "mais realista" de Roma, o que melhor representa, não só do ponto de vista da arte, mas mesmo da anatomia humana o que se passou com o Senhor na cruz. A chuva que caía sobre a Praça de São Pedro conferia a esse crucifixo um ar ainda mais real, a água da chuva misturava-se com a pintura do Sangue do Salvador tornando-nos difícil distinguir a representação do Representado.
Ali, aos pés do crucifixo estava toda a Igreja na Augusta Pessoa do Sucessor de Pedro, e o coro entoou: "Parce, Domine!", Perdoa, Senhor o teu povo. 
Falamos sobre esse belo hino há alguns dias...
Perdoa, Senhor! Pois sempre tendes a perdoar e nós sempre temos a ser perdoados. Perdoa, Senhor, o teu povo que não ouviu teu grito, nem dos teus pobres, nem da tua criação! Parce, Domine!
E o Papa entrou então no átrio da basílica vaticana, um dos cônegos agostinianos, sacristãos da basílica, trouxe o Santíssimo Sacramento como Rei, sob a umbella. E entoou-se o hino composto há setecentos anos por Santo Tomás: Adoro-te com devoção, Deus escondido...
Deus escondido no Santíssimo Sacramento, mas também escondido debaixo das pilhas e pilhas de seguranças, agendas, prioridades, progressos e invenções com as quais O fomos soterrando em nossos corações... Toda essa situação agora nos levou a vê-l'O com novos olhos, e a admirar a pobreza e simplicidade da Hóstia que não conseguimos ver mais em tantas das nossas Igrejas.
E depois de silêncio e algumas orações, o Papa, vindo até a soleira da basílica abençoou Roma e o Mundo.
No Antigo Testamento, quando Deus foi à soleira do Templo foi porque tudo estava no fim, o Templo não servia para mais nada, e a glória retirou-se. Mas ali, naquela hora, o nosso Templo não estava sendo abandonado, ao contrário, o Senhor veio até a soleira daquela Igreja que representa toda a cristandade para mostrar que está vivo, que nos aguarda, que nos abençoa, que nos ama!
E depois dos louvores habituais e do Sl 116 terminou a celebração.
Mas os cinegrafistas continuaram filmando, e nesse momento duas cenas (são as que estão acima) me impressionaram:
Uma pomba voa sob o céu escuro do Vaticano. Lembramos do Espírito Santo que não abandona a Igreja, mas também do fim do dilúvio, da reconciliação do homem com Deus.
Depois o Santíssimo Crucifixo certamente fascinou algum câmera que focalizando no rosto do Cristo deixou aparecer na ponta do seu nariz uma gota. Não parece ser um milagre, estava chovendo e o Crucifixo estava debaixo da chuva. Ao que tudo indica era chuva no nariz do Crucifixo, mas ao ver essa cena, lembrei-me de Bernardo de Claraval que dizia que o sofrimento condiz com Deus, Deus não pode sofrer. Mas, continua o Santo Abade, esse mesmo Deus que por Si mesmo não pode padecer, se compadece de nós. Se nele, não pode haver padecimento por sua natureza, nele se encontram todos os nossos padecimentos por seu amor por nós. Aquela gota de chuva no nariz de um crucifixo para mim foi um modo do Senhor dizer: estou junto a você.
Você está bem, junto a você. Você está doente, junto a você. Você está ficando curado, junto a você. Você está morrendo, junto a você. Você está angustiado, estou junto a você...
De coração estejamos unidos, juntos, ao Santo Padre e com ele imploremos a misericórdia de Deus sobre todo o mundo, sobre cada um de nós. Amém.

Comentários

  1. Que bela reflexão, realmente os detalhes mostrou muitos sinais e graças de Deus,após a contemplação ao Crucifixo com o Beijo,o semblante dele mudou e muito.
    Sua bênção Padre

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  2. Acompanhei este momento maravilhoso, juntamente com meu esposo. Foi pleno e reconfortante. Percebi todos esses detalhes citados, a água da chuva, que escorria pelo rosto e corpo de Cristo no crucifixo, as cores: vermelho, azul e branco, que sutilmente se misturavam, como na imagem que temos de Jesus Cristo Misericordioso, a nos abençoar. Maravilhada foi a sensação que tomou conta de mim, e, com certeza de cristãos no mundo inteiro. Imploro ao nosso Deus misericordioso que abençoe o nosso Santo Papa. Tão cansado. Trazendo visivelmente consigo as dores dos que hoje sofrem por essa enfermidade. É tão generoso conosco ao nos abençoar e orientar. Deus o ilumine e conforte.

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