AO CARO BERNARDO
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PAX!
Prezado Sr. Bernardo,
Não sou muito ligado à internet ou redes sociais, de modo
geral sei o que outros me enviam. Nesse sentido, pude conhecer ao menos parte
de seu trabalho e, não tenho razão para ocultar isso, admirar o seu trabalho.
Porém, chegou até mim uma pequena afirmação sua, mas que
pode fazer uma injustiça muito grande, que seria a de que a Fraternidade S. Pio
X não seria “sedevacantista”, nome que em si mesmo é um despropósito, mas que
agiria como.
Primeiro, meu caro Bernardo, creio ser bom clarear que na
história da Igreja aqueles que não aceitaram os Papas, ou aceitaram até certo
Papa e depois rejeitaram os demais (como é o caso dos ortodoxos) não são
sedevacantistas, são cismáticos.
Não reconhecer o Papa como chefe visível da Igreja, e,
consequentemente não reconhecer os Bispos em suas sedes (que recebem do Papa),
constitui cisma. Sedevacantista é um infeliz eufemismo.
Mas voltemos à Fraternidade S. Pio X com seu “sedevacantismo
prático”, segundo a sua afirmação. Por que você chegou à essa conclusão?
Seria por que a Fraternidade mantem a Missa que praticamente
está proibida? Ou quando não proibida, muito bem delimitada, nas periferias
eclesiais?
Seria por que a Fraternidade olha com precaução certas
canonizações recentes?
Seria por que a Fraternidade não admite à comunhão quem vive
em adultério?
Seria por que a Fraternidade não admite batizar ou ter como
padrinhos travestis ou pessoas homossexuais ativas sexualmente?
Meu caro amigo, não defende você exatamente as mesmas
coisas?
Você chamou Dom Hélder Câmara de Bispo vermelho, o Papa o
chama de Bispo santo. Você combateu a Campanha da Fraternidade que o Papa louva
e incentiva. Você denuncia os erros dos sínodos, pelo menos o da Amazônia,
feito na presença e com aprovação do Papa.
Compreender que o Papa erra e que não devemos seguir seus
erros, não é a postura da Fraternidade, é a postura de qualquer católico que
honre esse nome. Nome que você honrou e, tenho a certeza quer honrar, até a
morte.
Mas se você não admite esse “processo sinodal”, o anterior
sínodo da Amazônia, a bênção de pares gays, a santidade exemplar de Dom Hélder
Câmara etc, você, meu caro Bernardo, é um “sedevacantista prático”.
Você chama os fiéis a ajudarem seus párocos em suas
paróquias. Isso é muito nobre. Mas é possível? A verdade, Bernardo, e não é
possível que você não saiba isso, é que um padre não pode fazer nada em sua
paróquia. Ele está sob o Bispo que, dependendo do que o padre fizer, o removerá
imediatamente. Vi vídeos seus em que você dizia não revelar o nome de padres
amigos seus, de seu confessor, para que não fossem perseguidos... Você sabe o
quão vulnerável e limitado é um padre em sua paróquia.
Outra coisa, você crê que é possível ajudar a Igreja de
outro modo que não seja a restauração da Tradição?
Aconselhar os fiéis a tentarem mudar suas paróquias é muito
bonito, e leva os fiéis ao heroísmo, mas um heroísmo que levará à derrota. Um sofrimento
inútil que, como ensina S. Afonso, deveria ser evitado.
Se um fiel em sua paróquia conseguir convencer seu padre a se
vestir como sacerdote, celebrar piedosamente, a não usar orações eucarísticas
protestantes (basta pôr no You Tube: missa luterana), a regular os cânticos,
privilegiando o órgão, a convencer a todo o povo a comungar diretamente na boca
e de joelhos, a renunciar a essa epidemia de ministérios, tendo apenas
coroinhas homens, sem ministros e ministras disso e daquilo... se conseguir
esse milagre, o padre será substituído por outro de camisa polo no dia
seguinte.
E se o Bispo em sua diocese for “bom” e criar uma ou várias
gerações de padres “bons”, e se ele conseguir o milagre de não ter uma “visita
apostólica” ou algo do tipo, um dia ele fará 75 anos.
Bernardo, é necessário ser humilde – não estou dizendo que
você não seja – mas você já ouviu aquela breve alocução de Mons. Lefebvre antes
das Sagrações? Ali, ele reconhece a sua impotência diante de tudo que acontecia
na Igreja. Também Dom Antonio quando se retirou da CNBB, reconheceu que não era
possível que ele tivesse que defender o catolicismo contra os Bispos do Brasil,
e, por isso, se retirou.
Um padre que, de sua própria cabeça, cria uma missa híbrida
metade tradicional, metade nova com alguma influência mozarábica consegue
desobedecer a todos os missais ao mesmo tempo. Sem saber, está sendo soberbo,
está regulamentando o que só as autoridades romanas teriam poder para regulamentar; mas mesmo as autoridades romanas não são onipotentes, o poder que elas têm está
delimitado, de modo que não podem, por exemplo, suprimir um rito.
Um padre não pode proibir que os fiéis recebam a comunhão na
mão e é obrigado a dar assim, mesmo que em sua consciência isso possa ser
ocasião de uma profanação. Os conselhos de leigos, de padres, as conferências
episcopais é que decidem o que será feito, você sabe muito bem disso. E
geralmente a decisão não é muito boa...
O padre que não admitir como padrinhos um travesti, ou um “casal”
de lésbicas ou gays está, se você considerar resistir a isso como “sedevacantismo
prático” em desobediência; um padre que considerando a Bula Quo Primum de S.
Pio V sabe que não pode ser impedido de celebrar a Missa nela promulgada e a
celebra sem as várias licenças que hoje se deve ter, se você considerar isso “sedevacantismo
prático” está em desobediência; se o Bispo na sua diocese liberar um casal em
flagrante adultério para comungar e o padre não der a comunhão, a mesma coisa.
Você tem consciência de que dizer para os fiéis irem à suas
Paróquias e lá tentarem mudar o que está errado (que, infelizmente é
praticamente tudo) você pode cooperar a que muitos percam a fé e deixem a
Igreja Católica, porque se a Fraternidade for “sedevacantista prática” ela
simplesmente não é católica, e os fiéis ou viverão sem religião ou irão para
alguma seita ou grupo cismático?
Mas, então o que é a Fraternidade S. Pio X?
Pense, meu caro, que você está lendo um de seus milhares de
livros pelas nove da noite. Sua casa está iluminada, há várias lâmpadas na
sala, no corredor, no quarto etc. De repente, falta energia elétrica e
naturalmente falta luz, você então se levanta, talvez esbarra numa quina de
mesa ou numa cadeira, até que chega à uma vela e acende.
E talvez você acenda umas duas ou três velas na casa. Nem de
longe essas velas proporcionam toda a iluminação que você teria se tivesse
energia elétrica, mas pelo menos evitam que você leve um tombo.
Isso é a Fraternidade S. Pio X. A luz suficiente para não
cair. Ela não é a Igreja, ou outra igreja. Ela é NA IGREJA, pontos de luz para que
você tenha o estrito necessário: a liturgia, o catecismo, o modo de ser
católico como sempre se foi.
Ela é tão sedevacantista prática quanto você e quanto
qualquer fiel que sofra por amor à Santa Igreja vendo o que as autoridades atuais
estão fazendo. E o simples fato de dizermos autoridades atuais, o simples fato
de rezarmos pelo papa, pelos bispos do mundo inteiro, de nomearmos o Papa e o
Bispo da Diocese em que se celebra a Missa que o mesmo Bispo proíbe, nos salva
do cisma, ou se preferir do sedevacantismo prático, teórico, escrito, oral ou qualquer
outra aberração.
E isso custa, custa sobretudo a incompreensão de pessoas
boas como você. Que por alguma razão não compreende (embora você faça a mesma
coisa em outros aspectos) que resistir à autoridade é uma forma (dolorosa,
certamente) de reconhecer a legitimidade dessa autoridade e que, se há o
reconhecimento da autoridade a tal ponto de lhe resistir em face, pode haver
qualquer coisa, menos cisma.
A Fraternidade não é Oz. Não é um local de perfeitos. Clero
e fiéis têm suas limitações e seus pecados. Pode haver aqui ou ali alguma coisa
que deva ser revista ou corrigida; mas, desde o seu fundador, nada foi mais
repugnante à Fraternidade do que não reconhecer no Papa atual, de Paulo VI a
Francisco, o Sucessor de Pedro, o Vigário de Cristo, o Chefe e a Cabeça visível
da Única Santa Igreja Católica, e isto num ponto tal que Mons. Lefebvre de quem
seus próprios inimigos recordam sempre a gentileza, a nobreza e a amabilidade,
deixava sem respostas as cartas que chegassem a ele de grupos que não
reconhecem Paulo VI ou João Paulo II como autênticos Papas. Para que nem de longe esses grupos pudessem dizer ter algum apoio de Mons. Lefebvre.
Espero de todo coração que você compreenda isso. E, por justiça, retire o que disse.
Caso contrário, assuma diante de Deus a confusão que você mesmo causará em tantas almas que poderiam encontrar na Fraternidade a luz necessária para não caírem. E que, se persistir nessa posição, declare seu total apoio às Campanhas da Fraternidade e Sínodos que outrora combateu.
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