TERROR DOS DEMÔNIOS

 Muitas vezes, quando rezava em comunidade a Ladainha de S. José, percebia uma certa "animação" quando o dirigente fazia essa invocação. De fato, ela é "forte". Mas não seríamos bons devotos de Nosso Senhor S. José sem compreender bem essa invocação, ou seja, sem compreender o porquê de S. José ser o Terror dos demônios.

Creio que em S. José convergem três coisas que, sendo o completo oposto do espírito infernal, não faz com que o diabo apenas "evite" S. José, mas lhe tenha verdadeiro pavor.

Duas delas foram tratadas imediatamente anterior: a castidade e a obediência de S. José.

É verdade que se atribuiu um apoftegma em que um demônio teria aparecido a um pai do deserto como uma criatura casta, uma vez que não tem corpo para pecar. Sim, o demônio não tem corpo, mas a impureza é apenas um pecado sensorial? Não são os demônios chamados pelo próprio Cristo como "espíritos impuros"?

Se um homem sofresse um acidente e ficasse completamente paralisado, mas com sua mente funcionando, por isso, estaria confirmado na castidade? 

A impureza, meus amigos, mais do que os atos ou pensamentos sensuais é o desejo de prazer como fonte de consolação e gáudio que deveriam ser esperados no céu. O demônio com a impureza não quer que as pessoas façam sexo, quer que elas se esqueçam do céu. O impuro é o que troca o céu. Por isso satanás é impuro.

Em sua castidade, José não só desejou o céu: já o viveu na terra. A castidade de José lhe fez viver num lar sob o mesmo teto que Jesus e Maria. Só um guarda virgem poderia zelar pela Virgem e proteger o Filho que "ao nascer não diminuiu mas consagrou a integridade virginal" de sua Mãe.

Santa Teresinha dizia que a castidade a tornava irmã dos Anjos. S. José é Rei dos Anjos.

A outra virtude exorcística de S. José é a obediência. Mas o que é a obediência senão o aniquilamento de si? Hoje se fala muito em "tóxico", existe uma obediência "tóxica" que é aquela que se torna meio para se alcançar posições, se manter "na corte", uma obediência que adianta-se para manipular os superiores a fazer o que eu quero, não o que Deus quer. O segredo para destruir a obediência tóxica é o silêncio. Quanto menos se fala, mais chances temos de que só o que Deus quer se cumpra. E assim foi S. José num ponto tal, que a Sagrada Escritura não registra nenhuma palavra dele, nem mesmo uma oração. A oração de José era obedecer.

Por fim, há uma virtude que a ladainha não traz. Durante muito tempo, de fato, ela não foi bem compreendida, é a alegria. O maior exorcismo é a alegria.

Mas qual alegria?

Se alguém que me ler for franciscano, creio que basta que eu recorde o seguinte: "Cai a tarde de inverno impiedoso e Francisco e Leão sobre a neve caminham..." É um canto que narra a história da "Perfeita Alegria". Nela S. Francisco chega a dizer que "se até os demônios fugissem, ao comando de nosso olhar, e que mortos nós ressuscitássemos, isso ainda não é a perfeita alegria..." A perfeita alegria consiste em considerar que o sofrimento permitido por Deus, "nos deixa na noite e na cruz, se soubermos que esse abandono imita a Jesus" e nisso "conservarmos a paz, isto é a perfeita alegria".

O evangelho não fala da alegria de José.

Mas creio que nem Jesus e Nossa Senhora suportariam conviver com uma pessoa amarga que o tempo inteiro lamentava o quanto Deus tinha destruído seus planos de casar, ter filhos, e criar a "Bar-Jacob Wood's Service Ltda"... Uma lágrima de José tinha mais alegria que todos os desfiles de escola de samba. Mas não qualquer alegria, a Perfeita Alegria.

Por isso, Terror dos demônios, rogai por nós.

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