Novo

 Existe um fascínio no novo. O novo é tão bom que fizemos até que tem cheiro: casa nova, carro novo etc. Vez por outra vejo nos mercados a tentativa - sempre frustrada - de reproduzir esse cheiro, há por exemplo, os sachês cujo nome é carro novo, mas nada é igual ao novo.

A Páscoa, com todas as suas celebrações, também aquelas que marcam a piedade popular, traz esse cheiro de novo para a vida cristã.

Não um novo recauchutado, de segunda mão, mas um novo realmente novo. S. Paulo não teme ser redundante, quando o assunto é Páscoa, ao dizer que devemos andar na novidade da nova vida.

Nada é mais contrário ao novo do que a imitação do novo, não podemos viver uma Páscoa pirata, com cheiro de Rua Uruguaiana. Mas uma Páscoa, com cheiro de novo, com o cheiro da nossa vida passada queimada junto aos grãos do incenso para dar lugar a esse bom odor de Cristo que os nossos narizes por pouco não são capazes de sentir.

Nesse sentido, nos ajuda a refletir a saudação mais antiga de Páscoa, comum ainda na língua grega: Christós anestí, Cristo levantou-se.

Compreendemos a carência de um idioma para exprimir um fato não apenas novo, mas nunca antes acontecido: o Filho de Deus que retoma a vida, mas de um modo novo. Não é apenas "reanimado" como Lázaro ou a filha de Jairo, voltou à vida, mas com um corpo onde até as chagas são gloriosas. Um corpo imortal, impassível um corpo com cheiro de eternidade.

É tão grande o que acontece que precisa ser expresso numa palavra simples, caso contrário os homens darão cabeçadas uns nos outros para tentar inventar uma palavra... Então, devem ter pensado, vamos de levantar. Cristo levantou-se. Christos anesti.

E então a ressurreição de Cristo parece tocar a cada um de nós por uma capacidade de participação. Participamos dessa ressurreição cada vez que nos levantamos. Nos levantamos da cama, vencendo a preguiça; da mesa, vencendo a gula; dos computadores e tv's, vencendo a ociosidade; e sobretudo levantando-nos do pecado, pelo arrependimento e confissão.

Mas levantar-se também têm uma conotação bélica. Tanto que falamos em "levante" quando há uma revolta. 

Basicamente hoje encontramos três tipos de cristãos: os que julgam não precisar lutar, os que desistiram de lutar e os que querem lutar.

Os que julgam não precisar lutar já aceitaram o mundo. Já se renderam à uma conciliação com o inconciliavel, Cristo não é o lutador contra o mundo, Ele é o vencedor, e para participarmos de sua vitória buscamos lutar, não acostumando a nossa mentalidade à uma mentalidade mundana.

Embora o efeito final seja o mesmo há os que desistiram de lutar. Chegaram a conclusão de que se nem o trânsito tem jeito quanto mais o mundo... Abaixaram as armas, achando que se deve esperar que Deus entre em ação. São os cristãos com síndrome de Spielberg... Quando algo maravilhoso acontecer nos levantaremos, enquanto isso, esperamos.

Por fim, há aqueles que sabem que vão perder e que a vitória vêm às custas de suas perdas. Aqueles que são espetáculo tétrico para o mundo, mas exército vitorioso para Deus. Esses ressuscitarão simplesmente porque levantar-se foi a postura de suas vidas.

Peçamos ao Senhor a graça de não desistir dessa novidade, de caminharmos passo a passo sobre as pegadas chagadas do Ressuscitado. Só este é caminho de ressurreição.

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