DONS PASCAIS - OS SACRAMENTOS

 Meus prezados amigos,

Nos dias anteriores pensamos em edições fictícias de um "Diário de Jerusalém" onde imaginávamos o que seria noticia sobre Nosso Senhor nesses dias. Hoje porém, necessito meditar com vocês sobre um outro prisma. Um prisma que vai nos acompanhar hoje, amanhã e depois no qual nosso foco estará nos três dons pascais que Cristo confere à Sua Igreja no mistério de Sua Paixão.

Quando consideramos os dons pascais, por mais estranho que possa parecer, não é possível nem estabelecer uma ordem, nem uma importância. É claro que não são a mesma coisa e nem mesmo têm o mesmo valor, mas há algo que os nivela: o fato de serem dados à Igreja na Paixão de Cristo.

Então não os abordamos por uma ordem cronológica ou de importância, mas simplesmente vamos a cada dia abordar cada um dos dons pascais, para os considerar na Paixão de Nosso Senhor e em nossa vida.

Nossa primeira meditação se dirige ao conjunto dos sacramentos.

Os sacramentos brotam da Paixão de Cristo e é nesse contexto, nesse momento, que eles são doados à Igreja. Naturalmente a Santíssima Eucaristia ocupa um lugar central, quando Nosso Senhor antecipa a sua Morte misticamente na última ceia. Gêmeo da Eucaristia nasce o Sacerdócio. A Eucaristia e o Sacerdócio se tornam imagem do Matrimônio Cristão baseado na entrega até a morte que cada um dos cônjuges promete, a água que purifica os pés dos apóstolos e aquela que brota do lado de Cristo crucificado recorda a purificação interior das águas do batismo e é a morte de Cristo que nos concede a filiação divina. O seu sangue derramado para a "remissão dos pecados" abre as portas do Sacramento da Confissão, o seu sopro na hora da morte é o Espírito dado para a Confirmação, as suas dores e sofrimento tocam os que sofrem pela Extrema-Unção.

Embora ao longo de sua vida mortal e após a Ressurreição Cristo trate dos Sacramentos de forma mais explícita, é em sua Paixão que como um rio eles vêm banhar e dar a vida à Igreja.

Não há sacramento que não tenha sua origem na cruz, no mistério pascal de Cristo. De modo que, se o cristão vive dos sacramentos, o cristão vive da cruz. A cruz é o lugar do cristão. A busca de um sacramento é sempre uma ida à cruz, a vivência de um sacramento é sempre uma vida na cruz.

Sempre e somente a cruz, porque só a cruz é a certeza de encontro com Cristo e de ressurreição com Cristo. 

Os sacramentos estão na cruz como um fruto está numa árvore. Quando retiramos um fruto de uma árvore, ele pode permanecer belo e viçoso por algum tempo, mas perdeu a sua vida. Logo, começará um processo de decomposição até se tornar um fruto estragado. Assim, quando tiramos um sacramento da cruz, ele pode sobreviver algum tempo, mas, mais cedo ou mais tarde morrerá.

Os sacerdotes que deixam o sacerdócio, os casais que deixam o matrimônio, os batizados que abandonam a Igreja... isso acontece porque, de algum modo, separaram o sacramento recebido da fonte de sua vida, isto é a cruz, e por isso morreram.

A missa mal vivida, mal celebrada, reduzida a um show ou à uma apresentação clássica, foi separada da cruz, da sua simplicidade, da sua sobriedade, da sua pobreza, da sua nudez.

Meus amigos, é fundamental  ter vida sacramental. Mas essa vida sacramental é uma vida na cruz, é uma vida crucificada. Se recebemos os sacramentos, mas não vemos seus frutos em nossa vida é porque talvez os dissociamos do mistério do Cristo Crucificado. Em que difere uma confissão onde o centro sou eu e meus pecados de uma análise psicológica? Mas se o centro da Confissão é Cristo e Cristo Crucificado, ah! que vida nova nasce em cada confissão!

Prezados amigos, a Igreja em sua sabedoria, associou a bênção à cruz. Não é a forma de um círculo, triângulo ou quadrado que conferem a bênção, mas a forma da Cruz. A bênção mais simples ou o mais solene dos sacramentos trará inevitavelmente a repetição desse sinal, porque não se pode compreender nada vivo, nada santo na Igreja, que esteja desvinculado do mistério pascal de Cristo, de sua Cruz.

Peçamos ao Senhor essa compreensão. E a partir dela renovemos nossa compreensão sacramental e litúrgica. Tudo é Paixão de Cristo, tudo é trazido ao Calvário, posto na cruz para de algum modo, banhado no Sangue de Cristo, encontrar vida, eficácia e redenção.

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