A LIÇÃO DE LINDALVA

 

Os dias da Semana Santa, particularmente os do Sagrado Tríduo, têm precedência sobre qualquer outra comemoração, mesmo uma solenidade do Senhor é deixada para depois da Oitava de Páscoa,  para manter os fiéis atentos aos mistérios da nossa Redenção.

Mas, por serem datas móveis, esses dias podem nos trazer lembranças que nem sempre coincidem com o calendário. Nesse sentido, podemos recordar que alguém nasceu numa quinta-feira santa; mas seu aniversário não será sempre a quinta-feira santa, mas o dia e o mês do nascimento. Porém, não deixaremos de lembrar dessa pessoa em cada quinta-feira santa.

Nesse sentido, a sexta-feira santa, dia da doação total de Jesus por nós (já dizia um Padre da Igreja que se Jesus já nos deu a sua morte, como podemos duvidar que nos dê a sua vida?) também é o dia da doação total de uma mulher de quase 40 anos, Filha da Caridade, que cuidava de velhinhos de um asilo: Lindalva.

Convenhamos que após o Concílio Vaticano II, em certos aspectos, a Igreja parece ter se tornado uma arena. Posições das mais variadas se degladiam em busca do que consideram o melhor para a Igreja. E isso, particularmente entre os padres e religiosos. Há verdadeiros inimigos declarados, às vezes vivendo sob o mesmo teto sem se falar por defenderem uma ou outra posição.

É claro que não é necessário ter um QI muito elevado para perceber que há uma crise na Igreja, e que a solução dessa crise estaria sem sombra de dúvida na afirmação de sua doutrina como sempre foi entendida, por todos em todos os lugares.

Mas a questão é que essa “crise” se tornou a razão da vida de muitas pessoas, umas tentando puxar a Igreja para a frente outras tentando-a manter onde sempre esteve. Mas é correto que isso seja a razão de vida de um católico? Sua única preocupação e sua única ocupação?

Lindalva viveu num momento grave dessa crise, no entanto, não encontramos nada sobre essa crise em sua vida. Dedicou-se a Deus, fez-se religiosa e vivendo seu carisma cuidava dos pobres.

Para Lindalva, como para muitos cristãos surgem as frases de Jesus a Pedro: “O que isso te importa? Tu, segue-me.”

É verdade que o autêntico cristianismo não nos leva para o interior de nós mesmos, como auge da contemplação, mas nos leva para Deus por meio dos nossos irmãos. Assim, ainda que pudesse perceber até mesmo em sua congregação um ou outro aspecto diferente, nada lhe fez esquecer o seu norte, esquecer a sua missão como filha de Vicente de Paulo e Luísa de Marillac.

Mudasse o que mudasse, o pobre continua o mesmo. E Lindalva também.

Tendo sido designada para um asilo, consumia sua vida no auge do amadurecimento pelos velhinhos, até que um homem mandado para o asilo, porém sem ter a idade suficiente, começa a importuná-la.

Sexta-feira santa pela manhã foi à Via Sacra, tornando ao asilo, enquanto servia o café da manhã aos idosos. Ocupada em servir, não notou que o homem se aproximava. Este com 44 facadas tirou a vida da religiosa de 39 anos que não tinha cedido às suas investidas.

Meus caros amigos, sei que alguns podem estranhar esse meu texto, uma vez que minhas posições sobre certas realidades na vida da Igreja são bem conhecidas. Mas o questionamento, a lição que Lindalva nos traz é que o mandamento de Jesus não é uma prova de catecismo, mas o amor.

Não o amorrrr que ninguém sabe definir. Mas o amor de cuidar dos pais, dos pobres, de guardar o que se prometeu a Deus, esse amor.

Quantos precisam desse amor enquanto muitos estão se degladiando por questões que são sim importantes, mas que diante da fome, da sede, da nudez, da prisão, da doença se tornam secundárias?

No mesmo dia de Sua Paixão, Cristo acolheu a Paixão de Lindalva.

E nisso o Senhor nos exorta a fazermos o que devemos fazemos. É claro que devemos estudar o catecismo, defender a fé, mas dentro do que nos compete, o que geralmente é círculo muito bem delimitado. Lindalva defendeu a fé ao não abandonar o pobre. E ao não abandonar o pobre, foi fiel ao Pobre, merecendo como coroa subir ao céu no mesmo dia em que Ele o abriu para nós.

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