JOSÉ CASTÍSSIMO

 Talvez em poucos momentos da história poderíamos identificar a castidade como uma virtude urgente. A falta de castidade é como um verme capaz de corroer como mortos organismos vivos, dando a estes uma expressão cadavérica, ainda que se articulem e se movimentem. 

Ao contrário, a castidade dá um gosto de eternidade a todas as coisas, ou desprezando-as porque não haverá lugar no céu para elas, ou ordenando-as em vistas do céu. Não à toa, ao descrever os que se fazem "castrados" por causa do Reino dos Céus, Jesus os compara aos anjos do céu.

A castidade em grau superlativo de S. José (castíssimo) não está "apenas" no fato de ter tido um casamento virginal com a Mãe de Deus. Se assim fosse, José seria apenas "casto". Castíssimo significa que toda a vida de S. José foi envolta pela castidade.

A idade de S. José, um eventual primeiro casamento, são conjecturas de estudiosos. Na verdade não há grandes evidências sobre isso. Por outro lado, pensar num S. José muito idoso para mostrá-lo casto, é um grave erro: a castidade não se adquire como rugas ou como surdez, com o passar dos tempos. O jovem impuro, se não se converte radicalmente, prestará ao mundo o triste espetáculo de um velho imoral. Especialmente porque a castidade não está tanto naqueles membros que Deus destinou para a procriação humana, mas na mente, nas palavras, nos sentimentos. Mesmo um homem impotente para uma cópula, pode ser mais depravado que um Calígula.

A castidade de S. José não é fruto de sua idade, ou fruto de um casamento terminado tragicamente com uma viuvez, ou fruto de uma falta de apetência sensual. É fruto do Espírito Santo, como ensinará anos mais tarde o Apóstolo S. Paulo.

E é ao jovem José, a quem Deus como Daniel dera a glória da senectude, que é confiada a Virgem Mãe de Deus. Convenhamos que a profissão e a vida de S. José, particularmente depois dos desposórios com Maria não são muito convenientes para um ancião: a viagem a Belém, a fuga no meio da noite para o Egito, a volta do Egito com a necessidade de estabelecer-se profissionalmente em cada um desses lugares. Nisso está o vigor de S. José, vigor que só se encontra no homem casto.

O homem impuro, não é capaz de centrar seu vigor em qualquer coisa que não o próprio prazer, por isso se torna um lânguido ser sombrio no meio das exigências da vida, alternando a sua existência entre a lamentação e a revolta, e com pena de si mesmo, entrega-se aos prazeres como uma consolação "merecida" para uma existência tão difícil.

A castidade de José não consiste tanto na preocupação de "não fazer" isso ou aquilo, mas de "fazer" tudo por Jesus e tudo por Maria a tal ponto que Cristo e Maria se tornam a essência da vida de José e ele mesmo se torna um detalhe para si mesmo.

Isso é castidade.

Na luta pela castidade, muitos sem perceber, aumentam ainda mais o foco sobre si mesmos: "Eu não posso", "Eu não devo", "Eu não faço", "Eu não olho", mas essa é armadilha mais tosca do diabo. A castidade não se vence em si, mas fora de si. Ensimesmar-se é o primeiro passo para a queda.

A cura da impureza está na consideração de si como um dom para o outro. Na "pouca conta de sua vida, para a salvar". Nenhuma criatura humana, depois de Nossa Senhora, compreendeu a razão de sua vida unicamente a partir de um outro como S. José. Aberto para fazer o que Deus quer, mesmo dormindo, fez de toda a sua vida um ato de adoração ao Verbo Encarnado.

E assim, o que lhe restava para si mesmo? Nada.

Seu trabalho para Jesus e Maria, seus pensamentos para Jesus e Maria, seus bens para Jesus e Maria, seus sonhos para Jesus e Maria. O demônio rondava o coração de José para encontrar uma fresta, uma fissura pequena, mas tudo estava selado com os nomes de Jesus e Maria.

Isso é castidade.

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