SALAMES E MENTIRA

 Meus prezados amigos,

Suponhamos que eu queira o mal de uma pessoa. E que, por isso, eu afirme que eu vi a tal pessoa pegando uma tangerina sem pagar na venda da esquina. Isso é uma mentira.

Suponhamos que eu desconfie que tal pessoa pegue tangerinas, mas nunca a vi fazer tal coisa, mas o dono da loja me diz que sempre "somem" tangerinas, se eu afirmar que "é" ou mesmo que "pode ser", eu estou cometendo um juízo temerário, ou seja, eu estou acusando direta ou indiretamente uma pessoa, mas sem ter certeza, sem ter tido um "julgamento correto", e aqui no sentido de julgamento mesmo. Chamar a pessoa, conversar, perguntar se ela pegou, investigar etc.

Mas, se eu vou no mercado e o gerente (mentindo para vender mais) me diz que o salame está em promoção, e eu compro o salame e aviso meus amigos que o salame está em promoção, mas na verdade não está, então eu cometi um engano, não menti.

Aparentemente engano e mentira são muito parecidos e onde há um engano há uma mentira, mas como distinguir uma coisa da outra?

Vamos ao exemplo que eu dei:

Quem mentiu? O gerente. Ele sabia a verdade e no entanto me disse uma mentira. Uma vez que o gerente é o responsável pelo mercado e eu ouvi da boca dele, eu agi com o que se chama de "fé humana", não havia razões para duvidar. É como se eu fosse indiciado como cúmplice de estelionato por subir num ônibus guiado por quem não tem carteira... Se eu olho para o motorista, está uniformizado, o ônibus é de uma empresa e tal, eu não vou pedir a carta de habilitação do motorista...

Existem pessoas cujas palavras não deveriam ter a necessidade de serem averiguadas, e se alguém repete essas palavras não está nem mentindo, nem sendo cúmplice da mentira.

E, se eu coloquei no "zap da família" que o salame estava em promoção, eu não menti. Eu me enganei porque mentiram para mim, é possível compreender a diferença? E a minha responsabilidade sobre esse engano é menor na medida em que a responsabilidade de quem me enganou é maior no assunto em questão.

Quem me disse que o salame estava em promoção não foi a dona Zezé, nem mesmo a caixa do mercado, mas a pessoa designada para cuidar do mercado. Também não foi uma ideia minha porque esqueci o preço anterior e considerei o atual mais barato: o gerente falou.

Também, creio que seria desonesto dizer que o dono do mercado mentiu. O dono do mercado não pode ser responsabilizado por ter escolhido um gerente mau-caráter, mas que lhe parecia uma pessoa íntegra. É necessário ser objetivo, sem ir nem mais, nem menos do que a questão em vista.

Agora, imaginemos que uma das pessoas do grupo do zap, fosse à delegacia dizer que eu estou espalhando fake news por causa do salame, e por isso, eu tivesse que sofrer alguma consequência! Absurdo, não é? Mas infelizmente isso acontece. 

O ideal seria que nunca precisássemos julgar ninguém em nossa vida, sendo porém isso impossível, cuidemos pelo menos de o fazer com alguma justiça.

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