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Mostrando postagens de setembro, 2018

UM PURO TEMOR

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Dentre os dons do Espírito Santo falamos do Temor de Deus. No Salmo Responsorial da Eucaristia de hoje ouvimos falar do "puro temor do Senhor", o que significaria esse puro temor? O dom do temor é puro porque não é fruto dos erros, como geralmente acontece com nossos medos... o dom do temor é fruto do amor. Não é um mero respeito, como tantas vezes tentamos explicar, temer não é respeitar... Maria no Magnificat usa o verbo temer, no texto grego de Lucas é esse o verbo: phobeo... temer! Mas pode haver um temor fruto do amor? Pensemos na nossa vida quotidiana: Alguém em casa vai para a cozinha e faz um prato para o almoço. Todos se sentam e começam a comer. Aquele que fez, não experimenta um "frio na barriga"? Ele teme que a comida não agrade, não porque vá ser castigado ou expulso da família... Mas porque os ama e quer lhes dar uma alegria. Assim o nosso temor é o "medo" de não sermos agradáveis a Deus. Não tanto pelos castigos que mereceríamos, m

NÃO ENTREGAR ARMAS

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No dia 29 de setembro celebramos a Festa dos 3 Arcanjos: Miguel, Gabriel e Rafael. Os Santos Arcanjos celebrados outrora separadamente se juntaram sob uma única festa, que antigamente celebrava a dedicação da Igreja de S. Miguel, próxima à Via Salária em Roma. Celebrar os Arcanjos é celebrar a inefável Providência de Deus que envia os seus anjos para nos ajudar a melhor servi-lO. De um modo especial voltamos hoje nossos olhos para S. Miguel, o Príncipe da Milícia Celeste. Numa célebre meditação S. Afonso Maria de Ligório pedia a S. Miguel que nos defendesse das armas do inferno. Mas quais seriam essas armas? No dizer do mesmo Santo, as armas do inferno são nossos pecados. Quando pecamos entregamos armas ao inferno, uma arma atual, ou seja, o pecado cometido e uma arma futura, a recordação dos pecados que pode nos levar ao desespero. Não entreguemos armas ao inferno! Ao contrário, recorramos aos Santos Arcanjos, invoquemos constantemente os Santos Nomes de Jesus e Maria, para que

TEMPO

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Se agora alguém perguntasse a você: È tempo de quê? Qual seria a sua resposta? Geralmente não sabemos qual tempo estamos vivendo. E uma grande razão disso é não estarmos de fato naquilo que é a nossa ocupação mais imediata. E isso é algo sério. São Josemaría escreveu certa vez: "Faze o que deves e está no que fazes". Uma frase simples mas que pode mudar a nossa vida. E pra melhor. Fazer o que devo, ou seja o que é bom o que é justo, o que se espera de um discípulo de Jesus. Ou simplesmente fazer aquilo que cabe a mim, ainda que seja descascar batatas... E estar no que faço. Não teremos nós todos já percebido aquela bem-humorada consideração de S. Teresa de que a "imaginação é a louca da casa"? Não só fazer coisas boas, mas estarmos de corpo e alma no que que fazemos, sem devaneios, sem deixarmos a imaginação (a louca) solta... Isso é muito importante na oração, mas também nas outras atividades próprias de uma pessoa normal. Quando dirigimos, caminhamos,

VAIDADE

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No livro do Qohelet encontramos a curiosa expressão: "Vaidade das vaidades, tudo é vaidade". Quando pensamos em vaidade, talvez nos venha à mente uma senhorita sentada em frente do espelho com um kit de maquiagem... vaidade... Na verdade o Qohelet, ou seja, aquele que está na qahal, na assembleia (Eclesiastes), não está revelando a vaidade feminina ou masculina, o cuidado com a aparência física ou coisas do tipo... A palavra hebel, que nesse caso é traduzida como vaidade, seria literalmente algo como vapor, nuvem, vento leve... A compreensão de vaidade aqui é de algo que é vão, não adianta, porque vai passar. Não é essa compreensão necessária para nós? Sempre! Tudo é vão. Tudo passa. Estamos bem? Aproveitemos, glorifiquemos o Senhor, mas isso vai passar. Estamos tristes, desolados? Confiemos! Isso também vai passar. Tudo é um vapor, uma nuvem que passa. Os ciclos quase eternos da vida e do trabalho humano não são novidade. Nada há de novo debaixo do sol.

O PÃO DE HOJE

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Na primeira leitura da Santa Missa de hoje encontramos uma oração retirada do Livro dos Provérbios onde se reconhece a própria fraqueza. O autor sabe que a abundância e a carência podem afastar do Senhor, por isso pede o necessário, o pão que é necessário. O que nos é necessário? Geralmente não sabemos. Primeiro porque dificilmente pensamos no hoje. As tentações do ontem e do amanhã nos acompanham fazendo-nos atrasar ou correr por isso pensamos no que precisávamos ou precisaremos, mas esquecemos do que precisamos. Há ainda um terceiro lugar, além do ontem e do amanhã, talvez mais perigoso, chamado "se". O "se" é a visão equivocada do hoje. É um hoje que não existe, que poderia ser diferente, geralmente pra melhor, se... O pão de hoje. O pão de hoje é um desafio e Jesus retoma isso no Pai nosso. O pão de ontem ficou dormido, o de amanha ainda vai pro forno, e o do "se"... será tão especial que ninguém consegue fazer... Pão de hoje. Os mártires

OUVIR PARA SER OUVIDO

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Ouvimos na Santa Liturgia de hoje o Espírito Santo nos dizer que aquele que tapa os ouvidos quando o pobre pede, também pedirá e não será ouvido. Ouvir é, em certo sentido, um dos verbos prediletos de Deus. A grande oração da identidade do povo escolhido não será outra senão o Shemá Yisrael, Ouve, Israel. A escuta para o povo da antiga e da nova aliança será a condição principal e talvez única de pertença. O escutar o Senhor e, sem cessar de escutá-lo, escutar o irmão, especialmente o pobre. Bento de Núrsia repropondo o ideal do seguimento de Cristo, abre a sua Regra com o mesmo verbo: Obsculta! Escuta! É na escuta que se entra na escola do serviço do Senhor, e se serve o Senhor nos mais necessitados. Aqui encontramos uma linha de força que separa bem o cristão do pagão. Para o pagão é necessário fazer. A divindade se torna propícia mediante ofertas, dádivas oferecidas em sua honra. Já o cristão compreende que se honra o Senhor no próximo. João Crisóstomo recordava aos cristão

NOSSA SENHORA DAS MERCÊS

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Fonte: ACIDIGITAL Neste dia 24 de setembro é celebrada Nossa Senhora das Mercês, que significa “misericórdia”, devoção que remonta ao século XIII, quando a Virgem apareceu a São Pedro Nolasco e o encorajou a seguir libertando os cristãos escravos. Naquela época, os mouros saqueavam regiões costeiras e levavam os cristãos como escravos para a África. Nessa horrível condição, muitos perdiam a fé por pensar que Deus os tinha abandonado. Pedro Nolasco, vendo essa situação, vendeu até seu próprio patrimônio para libertar os cativos. Do mesmo modo, formou um grupo para organizar expedições e negociar resgates. Quando o dinheiro acabou, então, pediram esmolas. Entretanto, as ajudas também terminaram.  Foi quando Nolasco pediu a Deus para ajudá-lo. Em resposta, a Virgem apareceu a ele e pediu que fundasse uma congregação para resgatar os cativos. Nolasco lhe perguntou: “Ó  Virgem Maria , Mãe da graça, Mãe de misericórdia, quem poderia acreditar que tu me envias?”. Maria responde

QUEM TEM TERÁ MAIS

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No Santo Evangelho de hoje, Nosso Senhor nos convida a sermos uma luz posta acima, não por vaidade, mas para que possamos iluminar. Quanto mais alta está uma lâmpada, tanto mais é capaz e iluminar. É verdade que a Palavra de Deus nos diz que é bom guardar os segredos do Rei, e que a Imitação nos recorda que não é bom sair contando a todos as consolações recebidas, mas, ao mesmo tempo, é necessário que haja em nós uma "naturalidade" em ser de Deus, que se manifeste de forma espontânea e eficaz. Nesse sentido, Nosso Senhor aponta o caminho do progresso espiritual: pôr os dons a serviço. Quando nos escondemos como lâmpadas debaixo da mesa, não permitimos que os dons ao serem partilhados possam crescer, de modo que podemos ainda perseverar um pouco, mas cedo ou tarde, tudo se perderá. Ao contrário, aquele que se entrega, como os cestos da multiplicação dos pães não fica vazio, e recebe ainda mais dons de Deus para a edificação da Igreja.

A CRUZ É QUERER DE DEUS

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No Evangelho desse domingo, Nosso Senhor anuncia aos seus discípulos o mistério de sua Paixão. A Paixão do Senhor não foi um "acidente de percurso", a cruz é querer de Deus. Teremos dificuldade para compreender esse querer, que não é apenas do Pai, mas também do Filho. Jesus quer a cruz. Anseia por ela. Mas a cruz chega a Jesus pelo caminho do mentira, do ódio e da inveja, dentre outros pecados. O livro da Sabedoria traz esse retrato da Paixão do Senhor, onde se quer forçar Deus a agir: se for justo, Deus o libertará. Esse coro se faz sentir novamente no drama da Paixão: "que desça da Cruz!", gritavam os judeus. Por outro lado, também temos a tendência de desconversar... Jesus fala da cruz e os discípulos desconversam... querem descobrir quem é o maior... Nada mais oposto à cruz... Aos que odeiam, a cruz causa cegueira; aos medrosos causa surdez... Nesse dia recordamos os 50 anos do nascimento para o céu de S. Pio de Pietrelcina. Padre Pio se tornou image

FELIZES?

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Nesse sábado somos convidados a voltar o nosso olhar para a Virgem Santa Maria, consoladora dos aflitos.Na Missa própria dessa invocação mariana ouvimos o Evangelho das Bem-aventuranças, que numa linguagem mais coloquial poderia ser entendido como o Evangelho da felicidade, porque é isso que quer dizer bem-aventurança. Todavia, a classe dos felizes que Jesus aponta é bem particular. A felicidade das bem-aventuranças é radicalmente oposta a qualquer outra felicidade, porque a felicidade, no nosso entender aumenta à medida em que diminuem os sofrimentos. Mas a felicidade das bem-aventuranças não está "apesar de" mas "com" os sofrimentos. Aqui Jesus nos ensina que o oposto da alegria é a tristeza, não necessariamente o sofrimento. Uma mulher que está em trabalho de parto está sofrendo, mas, esperamos, não estará triste. Assim estamos continuamente gemendo, no dizer de S. Paulo, mas na esperança de um novo nascimento. O nascimento da vida de Jesus escondida na no

MISERICORDIANDO

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Celebramos hoje a Festa de S. Mateus, Apóstolo e Evangelista. S. Beda, o Venerável, comentando a eleição de Levi usa uma expressão muito bela: "Miserando atque eligendo", que poderíamos traduzir como "tendo misericórdia e escolhendo", em latim existe o verbo "misericordiar"... em português e no coração de muitos de nós esse verbo não existe... Os Evangelhos geralmente não nos apresentam os sentimentos mais íntimos dos que dividem a cena com Jesus, sabemos que Jesus chama Mateus na coletoria de impostos, não sabemos se Mateus estava realmente empenhado num processo de conversão ou se simplesmente Jesus o "misericordiou"... apesar de tudo, com tudo... De algum modo, Jesus sabia que esperar Levi mudar para chamá-lo era o mesmo de não chamar... Miserando... Em nossa vida, não só somos objetos da misericórdia de Jesus, mas também precisamos ser "misericordiadores". E nessa função não precisamos, nem devemos esperar o primeiro passo do

HÁ 100 ANOS

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Lembramos hoje os 100 anos da estigmatização de S. Pio de Pietrelcina. Naqueles dias o convento de San Giovanni Rotondo estava quase vazio, muitos frades foram convocados para a Guerra... Após celebrar a Santa Missa, era uma sexta-feira, Padre Pio foi para o coro superior da Igreja para rezar em ação de graças pela missa que celebrou. Ali, diante do crucifixo, Padre Pio experimenta uma paz imensa e uma profunda consolação. Quando então vê diante de si o Senhor Jesus Crucificado que lhe diz: "Associo-te a minha paixão". Após essa visão, o Santo percebe que em suas mãos, pés e peito estavam as marcas da paixão de Jesus. Como pode, ele se dirigiu à sua cela e tentou esconder os estigmas, o que não foi muito eficaz... Padre Pio os escondia, porque os considerava como um sinal da justiça de Deus diante de seus pecados... Coisas de santo... O Padre Guardião percebeu logo o que ocorria e, como não podia simplesmente sumir, algumas senhoras também perceberam que escorriam sa

ALABASTRO

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No Evangelho da Missa de hoje, Nosso Senhor aceita a homenagem da mulher pecadora na casa de Simão, o Fariseu. O Evangelista S. Lucas apresenta na fala do Senhor as diferenças entre as atitudes da mulher e do fariseu. O Senhor sente falta dos detalhes de carinho que foram neglicenciados pelo fariseu e que se tornam ainda mais visíveis pela generosidade das ações da mulher. A generosidade acaba denunciando a mesquinhez. Para Jesus a superabundância dos carinhos da mulher suscita a abundância da misericórdia. Os muitos pecados alcançam o perdão pelo muito amor. Que consolo encontramos nessas palavras! Não nos importará mais a quantidade de nossos pecados passados, basta que nos importemos com que o amor lhes exceda. Creio que talvez essa seja uma das prioridades esquecidas da nossa vida. Talvez nos preocupemos mais com a quantidade dos pecados, do que com a qualidade do amor. Nesse mundo atual a frase de Agostinho: "Ama, e faze o que queres" pode ser a fórmula de uma b

ENTENDA O MILAGRE DO SANGUE DE S. GENNARO

Fonte: https://padrepauloricardo.org/blog/por-que-o-milagre-de-sao-januario-e-tao-importante Não é a primeira vez que o milagre da liquefação do sangue de São Januário vira notícia recentemente. Em 21 de março de 2015, dia incomum para a ocorrência do fenômeno, os restos sanguíneos do padroeiro de Nápoles se dissolveram à vista do Papa Francisco. Agora, no último dia 16 de dezembro, o que causou estranheza mundo afora foi justamente a ausência do milagre, a qual,  como já dito , "sempre esteve ligada a momentos nefastos da história da cidade" italiana. Considerando toda a atenção que se vem dando a este acontecimento de caráter realmente sobrenatural, transcrevemos abaixo uma pequena matéria,  publicada no blog português  Senza Pagare , que descreve de modo bem resumido em que consiste este milagre e qual é, afinal, a sua importância. No passado dia 16 de dezembro, ao contrário do habitual, não aconteceu o milagre da liquefação do sangue de S. Januário, em Nápoles.  Es

RENOVOU-SE HOJE O MILAGRE DO SANGUE DE SÃO GENNARO

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SÃO COMO CRIANÇAS

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No Evangelho da Missa de hoje, antigo e sempre novo, Nosso Senhor aponta para a constante insatisfação dos judeus de seu tempo. Para os quais João não poderia ser um enviado de Deus por ser um penitente e Jesus também não poderia por ser "normal" demais... Não é a mesma coisa que acontece conosco nos dias de hoje. Rejeitamos todos os sinais de Deus, porque não são nossos. Os nossos sinais é que valem. Os de Deus não. Não queremos nos tornar imagem de Deus, queremos que Deus se torne imagem nossa. Não estaremos querendo encaixar Deus nas estreitezas de nossos pensamentos? O problema dos judeus não era a penitência de João, ou a proximidade de Jesus. O problema dos judeus era a estreiteza do coração. Merton gostava de apontar a maturidade como o momento em que percebemos os outros, não em função de nós, mas conosco. Por isso tantos se encontram numa absoluta imaturidade. Ou porque não percebem os outros ou porque só conseguem entender os outros a partir do grande po

ENTREGOU À MÃE

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Em muitos lugares, especialmente nas maravilhosas cidades de Minas há o costume da Procissão do Encontro: duas procissões, uma com o Senhor dos Passos e outra com Nossa Senhora das Dores, saem de lugares diferentes e se encontram num lugar determinado. Muitas pessoas se emocionam com esse encontro das procissões. No Evangelho de hoje vemos algo parecido. Por duas vezes São Lucas fala de "grande multidão" uma com Jesus, outra com a viúva. Uma entrando, outra saindo. Uma na alegria, outra na tristeza. E as procissões se encontram. S. Lucas descreve que a viúva enterrava seu filho único. Não se fala absolutamente nada do rapaz, se era bom ou mau, se estava doente ou morreu de repente... E Jesus também como que não se preocupa com o rapaz. O que toca Jesus são as lágrimas da mãe. Mãe para a qual o filho era tudo, não só num sentido figurado, mas real. Aquele filho único da mãe viúva era o tudo para sua mãe, a tal ponto que sem ele, pouco poderia ela esperar da vida. Nosso S

SANTUÁRIO DO MONTE ALVERNE

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Partilho com vocês umas imagens do Santuário do Monte Alverne (La Verna) onde S. Francisco recebeu os estigmas. Ao fundo o Cântico das Criaturas em italiano.

A VIDA DE CRISTO EM NÓS

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Neste 17 de setembro recordamos o dia em que em 1224, dois anos antes de sua morte, S. Francisco foi marcado pelos sinais da Paixão de Nosso Senhor. Trata-se não apenas do primeiro caso de estigmatização, mas de um caso único, uma vez que nas estigmações posteriores reconhecidas pela Igreja os estigmas eram feridas, mas no caso de S. Francisco, os estigmas das mãos e dos pés não eram apenas feridas, mas a sua própria carne enegreceu e endureceu como se fossem os pregos da cruz de Jesus. Em S. Francisco assinalado com as marcas da Paixão podemos contemplar mais uma vez a atitude do orante diante do Crucificado. Não se limita em pedir: "Tu, Jesus, que tanto sofrestes, alivia meus sofrimentos", mas, ao contrário, se põe a querer partilhar as dores de Jesus e trazer em seu corpo a Paixão de Cristo. Talvez isso, ainda mais no mundo de hoje, não seja fácil de compreender. Primeiro porque não é um masoquismo, não é um gosto de sofrer. Mas é a comprovação de que o sofrimento s

PENSAR COMO DEUS

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No Evangelho de hoje, Nosso Senhor repreende S. Pedro por "não pensar como Deus". Pensar como Deus... não faltam na história pensadores que viram na religião de modo geral uma tentativa de criar um deus à nossa imagem e semelhança. Mas na essência do cristianismo encontramos um processo de divinização do ser humano, uma divinização que não se apresenta através de "super-poderes", mas de uma conformação com aquele que fez-se homem para que nos tornássemos divinos: Jesus Cristo. Essa conformação com Deus se passa no interior humano, como exorta S. Paulo, ter os sentimentos de Cristo Jesus, e chega até às suas ações, especialmente a caridade com o próximo, como hoje também nos exorta São Tiago. Pensar como Deus... Quando vemos os grandes pensadores, é comum percebermos uma idéia principal a partir da qual eles interpretam todos os outros aspectos da existência. No caso de Deus, essa chave de interpretação não é outra senão a cruz. A cruz, loucura para os gregos e

STABAT MATER

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Stabat mater dolorosa juxta Crucem lacrimosa, dum pendebat Filius. Cuius animam gementem, contristatam et dolentem pertransivit gladius. O quam tristis et afflicta fuit illa benedicta, mater Unigeniti! Quae moerebat et dolebat, pia Mater, dum videbat nati poenas inclyti. Quis est homo qui non fleret, matrem Christi si videret in tanto supplicio? Quis non posset contristari Christi Matrem contemplari dolentem cum Filio? Pro peccatis suae gentis vidit Iesum in tormentis, et flagellis subditum. Vidit suum dulcem Natum moriendo desolatum, dum emisit spiritum. Eia, Mater, fons amoris me sentire vim doloris fac, ut tecum lugeam. Fac, ut ardeat cor meum in amando Christum Deum ut sibi complaceam. Sancta Mater, istud agas, crucifixi fige plagas cordi meo valide. Tui Nati vulnerati, tam dignati pro me pati, poenas mecum divide. Fac me tecum pie flere, crucifixo condolere, donec ego vixero. Juxta Crucem tecum stare, et me tibi sociare in planctu desidero. Virgo vi

DIVIDE COMIGO!

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Celebramos hoje a memória de Nossa Senhora das Dores. De modo geral quando pensamos em Nossa Senhora das Dores, imediatamente vêm à nossa memória as dores de Maria e também as nossas, e pedimos que a Virgem das Dores alivie, tome, afasta para longe as nossas dores, ela que tanto sofreu... Mas essa compreensão que certamente não é errada, precisa ser aprofundada. Como a Igreja compreende essa comemoração de Maria Santíssima? Creio que uma boa resposta a encontramos na Sequencia da Memória de hoje, o Stabat Mater. Trata-se de uma obra do século XII atribuída ao franciscano Jacopone da Todi. Num primeiro momento suprimida, desde o século XVIII está presente no Missal. Nela, não se vê Maria como quem vai tirar as nossas dores, mas como aquela que toma sobre si as dores do Filho e a quem pedimos que nos dê a graça de dividir essas dores conosco. Sim, a capacidade da dor é proporcional à perfeição. Quanto mais perfeita uma alma, tanto maior a sua capacidade de sofrer, por ser cheia de g

ENGANAMOS ELE, TOTÓ

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Num manicômio passeava um louco puxando uma caixa de sapatos por uma corda. Passou junto dele o médico que disse: "Oh! O senhor está passeando com seu cãozinho?" O louco, porém, respondeu: "Cãozinho? Ora doutor! O senhor está louco? Não vê que levo uma caixa de sapatos?". O médico se afasta satisfeito, pensando: "Esse, graças a Deus, está melhorando". E enquanto o médico se afasta, o louco se abaixa, pega a caixa de sapatos, olha para um lado e outro, e diz bem maroto: "Enganamos ele, Totó!" Para o louco, a caixa de sapatos pode ser caixa de sapatos e cachorro. Ele é louco. Para ele uma coisa não precisa ser apenas o que se vê. S. Paulo, ao falar da cruz, usa a palavra loucura. Creio que é a expressão mais forte sobre esse mistério: a loucura da cruz. Porque é a loucura da cruz que nos faz compreender que são a mesma coisa a morte e a vida, a dor e a felicidade, a contradição e a exaltação, o sofrimento e o consolo. A cruz é loucur

POR TRÁS DE UM GRANDE SANTO...

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No Evangelho da Missa de hoje, Nosso Senhor nos traz uma série de exortações para vivermos na santidade. Nesses ditos do Senhor nos são apresentadas regras para vivermos como irmãos, filhos do mesmo Pai. A Palavra do Senhor precisa ser inculcada em nosso coração e em nossa mente. Por isso, é tão importante que nas famílias se ensine e se viva a Palavra de Deus. Se por um lado a educação dos filhos é uma responsabilidade do pai e da mãe, seria difícil não concordar que a voz da mãe exerce sobre os filhos um domínio de ternura e um poder de convencimento pelo amor. Esse é um dom especial das mulheres, especialmente das mães. Feliz é a mulher que compreende esse dom recebido desse Deus que nos ama com coração materno. A Igreja, geralmente acusada de não valorizar as mulheres, não cessou de elevar aos altares tantas mães, esposas, religiosas, que em alguns casos não estiveram à frente dos grandes fatos, mas não existiriam os grandes fatos sem a sua presença discreta e eficaz. Uma de

E O NOME DA VIRGEM ERA MARIA

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Celebramos hoje o Santíssimo Nome de Maria; por isso, me limito apenas a transcrever um clássico texto de S. Bernardo: E o nome da Virgem era Maria  (Lc. 1, 27). Falemos um pouco deste nome que significa, segundo se diz,  Estrela do mar , e que convém maravilhosamente à Virgem Mãe. … Ela é verdadeiramente esta esplêndida estrela que devia se levantar sobre a imensidade do mar, toda brilhante por seus méritos, radiante por seus exemplos.  Ó tu, quem quer que sejas, que te sentes longe da terra firme, arrastado pelas ondas deste mundo, no meio das borrascas e tempestades, se não queres soçobrar, não tires os olhos da luz desta estrela.  Se o vento das tentações se levanta, se o escolho das tribulações se interpõe em teu caminho, olha a estrela, invoca Maria. Se és balouçado pelas vagas do orgulho, da ambição, da maledicência, da inveja, olha a estrela, invoca Maria. Se a cólera, a avareza, os desejos impuros sacodem a frágil embarcação de tua alma, levanta os olhos para Maria. Se, pe

ESCOLHIDOS PELA MISERICÓRDIA

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No Santo Evangelho de hoje, Nosso Senhor após passar toda a noite em oração chama os seus discípulos e dentre eles escolhe os 12 Apóstolos. S. Lucas então apresenta a lista dos apóstolos, começando por Pedro e terminando com Judas, o traidor. S. Beda Venerável, ao falar da vocação de S. Mateus usa uma bela expressão: "miserando atque eligendo", que poderíamos traduzir como: "tendo misericórdia e escolhendo". As nossas escolhas de modo geral não são frutos de nossa misericórdia, ao contrário, são fruto de nosso rigor, nossos critérios de seleção, geralmente muito bem definidos. E isso nas coisas mais simples, como por exemplo, os legumes de uma feira. Mas os Apóstolos do Senhor, são escolhidos por sua misericórdia. Não por dons ou aptidões que tenham, mas somente pela misericórdia do Senhor. S. Paulo na primeira leitura da missa, ao descrever aqueles que não poderão herdar os céus, não tem o receio de recordar que alguns dos discípulos de Corinto viveram aquela v

MILAGRES E FÉ

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No Evangelho da Missa de hoje, Nosso Senhor cura num sábado o homem da mão seca. No dia consagrado ao Senhor, Jesus opera esse milagre diante de todos na sinagoga. E a vista do milagre de Jesus não gera coisas boas no coração dos mestres da Lei e fariseus, ao contrário, a partir daí eles começam a tramar a morte do Senhor. Não é raro no Santo Evangelho que os milagres do Senhor provoquem ódio no coração dos judeus. S. João observa que, ao verem Lázaro ressuscitado dos mortos, os judeus decidem matar não só Jesus, o que já estava decidido, mas também Lázaro. O milagre, não gera a fé. A fé, vem pelo ouvido, quando o coração se abre ao assentimento da verdade revelada. Se não há um coração aberto, o milagre não auxilia na fé, ao contrário, leva a uma obstinação cada vez maior. Temos, muitas vezes sede de milagres. E queremos que Deus nos conceda, pelo menos de vez em quando, um milagre. Em seu "Testamento filosófico" Jean Guitton reflete sobre as pessoas que rezam a Deus

OS POBRES

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A carta de S. Tiago que ouvimos na Eucaristia de hoje nos apresenta de forma mais do que clara um desafio da Igreja em todos os tempos: os pobres. A presença dos pobres na Igreja é uma presença desafiadora e, ao mesmo tempo, a intensidade do trato da Igreja com eles se torna um espelho de quanto a Igreja está conduzida pelo Espírito de Jesus. De forma bem concreta, Tiago fala do acolhimento ao rico e da falta de acolhimento do pobre. Ao rico destina-se um lugar de honra, ao pobre, todavia, um lugar qualquer. Essa postura nos acompanha há tantos anos. Certa vez, Dom Hélder Câmara comentava que sempre se esteve acostumado com a Igreja ao lado dos ricos, junto deles. Os padres e bispos frequentavam os palacetes, os jantares, e através dessa postura conseguiam muito para ajudar os pobres através de iniciativas sociais. Mas quando alguns padres e bispos resolveram ser mais presença junto aos pobres, mesmo que não conseguissem fazer muito, mas sendo presença junto deles, isso causou mui

NÃO TEMAS RECEBER MARIA

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Nessa festa da Natividade de Maria Santíssima, ouvimos no Santo Evangelho o Arcanjo S. Gabriel dizendo a S. José que não temesse receber Maria como esposa, porque o que nela estava sendo gerado era por obra do Espírito Santo. Por que José temeria receber Maria? Em sua justiça, ao não compreender o que acontece com Maria, José só encontra a solução de abandoná-la em segredo, para trazer para si a culpa que não podia crer estar sobre sua prometida. Em algum momento, para ser fiel a Deus, José pensou em abandonar Maria. Mas, através do anjo, Deus mostra a José que receber Maria é a sua vontade que não diminuiria a sua justiça, antes a consagraria. Tal como a Maternidade de Maria não diminuiu mas consagrou a sua integridade virginal. Não temas receber Maria. Assim também o Senhor nos diz no dia de hoje. Para muitos Maria poderia ser uma diminuição.  Alguns pensam que a presença de Maria diminui a santidade de Deus, a mediação de Jesus Cristo, a adoração à Santíssima Trindade... N

IDÉIAS PARA OS OUTROS

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No dia de hoje, 07 de setembro, rezamos ainda mais por nossa pátria. Pedimos na oração da missa pela pátria que tenhamos um povo honesto e governantes sábios. No Evangelho da Missa, os fariseus e mestres da Lei questionam a Jesus sobre o comportamento ascético dos seus discípulos. Os fariseus não podem apenas viver a sua vida, seguir as suas asceses. Eles precisam se meter na ascese dos outros. O seu jejum, causa de vanglória diante de Deus, como vemos na parábola do fariseu e do publicano, não lhes aquieta o coração levando à solidariedade, mas gera um desejo de tornar todos iguais a si, uma vez que se consideram melhores que os outros. Cuidar da vida alheia nunca foi algo bonito, mas, infelizmente não é tão raro assim e pode se manifestar de muitas formas, como a "fofoca de comadre" (e "de compadre!"), mas também se mostra através da nossa incrível capacidade de dar ideias maravilhosas para os outros. Penso nisso quando vejo o tal do "Brasil que eu q

NÃO APESAR...

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No Evangelho de hoje, Jesus escolhe a barca de Simão para a partir dela ensinar as multidões. Após ensinar, Jesus ordena a Simão que vá para águas mais profundas para pescar. Tanto pelo horário, quanto pela experiência da noite anterior, Simão ressalva que vai unicamente porque assim o disse o Senhor. E acontece a pesca milagrosa. Diante do milagre, Pedro, tomado de espanto, considerará que os seus pecados não podem coexistir com a presença de Jesus. "Afasta-te de mim, porque sou pecador!" Esta é, muitas vezes, também a nossa posição: Senhor, a tua santidade me constrange, porque sou um pecador. Afasta-te de mim! Pedro, e às vezes nós, parecemos nos esquecer que o Senhor nos conhece mais do que nós mesmos. Recordo mais uma vez aquela bela expressão de S. Agostinho: O Senhor é "interior intimo meo", mais íntimo de mim que mim mesmo... A confissão de ser pecador, não acrescenta nenhuma novidade a Jesus. Ele o sabe. Ele não escolheu Pedro apesar de ser um pecado

A TENTAÇÃO DO SUCESSO

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No Evangelho de hoje, Jesus, após operar muitos milagres, especialmente curas e exorcismos, escuta os apelos do povo para que fique. S. Lucas diz que a multidão quer impedir que Jesus vá embora dali. Depois de um início um tanto traumático na Sinagoga de Cafarnaum, Jesus se depara agora com o sucesso: multidões, milagres... e o apelo para que ficasse. Diante disso, o Senhor recorda ao povo a sua missão: ele precisa ir porque essa é a sua missão, para isso foi enviado. No Evangelho de Marcos, em alguns manuscritos aparecerá a expressão "foi para isso que saí do Pai". Jesus não saiu para o sucesso, mas para o anúncio da boa-nova. O sucesso depende dos outros, o anúncio depende do profeta. Sabedor disso, Jesus vai adiante. O sucesso pode se tornar uma tentação na vida do profeta. E, nesse sentido, o sucesso é pior que o fracasso. Porque o fracasso, de modo geral, nos obriga a nos reinventarmos, a tentarmos diferente, a irmos mais além. O sucesso, ao contrário, pode gerar um

A FÉ COMO MEIO DO AMOR

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No Evangelho de hoje, Nosso Senhor expulsa um demônio que proclama bem forte quem é Jesus. O demônio sabe perfeitamente que aqu'Ele que o expulsa é o Santo de Deus. Diante de uma proclamação tão solene, e talvez uma das mais belas definições de quem é Jesus, o Senhor lhe ordena que se cale e que deixe aquele homem. A "profissão de fé" do demônio, não tem valor algum diante de Jesus, porque não é conduzida ao amor. A fé é um meio, um caminho, que deve conduzir ao amor. Os demônios, ao se afastarem de Deus que é amor, rejeitaram o amor para sempre, por isso são incapazes de amar, o seu conhecimento de Deus, infinitamente superior ao nosso, não lhes gera amor, mas ódio, quanto mais conhecem a Deus, mais o odeiam. Já foi dito que a fé sem o amor é um atributo do demônio: Se crês e não amas és igual aos demônios, ou como no dizer de S. Tiago: os demônios também crêem e estremecem! Também nós corremos o risco de dissociar a fé como meio para o amor, e fazer da fé um fim.

SOMOS CONTRA A PENA DE MORTE?

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Há algum tempo o Papa Francisco reapresentou a doutrina da Igreja sobre a pena de morte. O Catecismo da Igreja apresentava certas condições para que fosse lícita, condições tais que faziam com que, na prática, ela fosse inaplicável. E agora o Papa simplifica a questão mostrando que nas atuais circunstâncias e levando em conta a compreensão da Igreja sobre o valor de cada vida humana, a pena de morte não está de acordo com o Evangelho de Jesus Cristo. Alguns setores mais conservadores, como seria de se esperar, protestaram contra uma suposta mudança da doutrina católica. Creio que de modo geral, a maioria das pessoas é contra a pena de morte. Mas, ao mesmo tempo, a questão do preso necessita de uma melhor reflexão e práxis entre os que dizem crer no Evangelho. O show midiático de algumas prisões, em sua maioria indevidas e sem julgamento, traz uma mobilizaçao emocional um tanto quanto patológica, onde até o cardápio dos primeiros dias de prisão se torna objeto de curiosidade naci

CONTINUAR O CAMINHO

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No Evangelho de hoje após a pregação na Sinagoga de Nazaré, a animosidade entre Jesus e os judeus cresce ao ponto de que eles desejam apedrejar o Senhor. Lucas, numa narração extremamente serena, diz que Jesus passando por eles seguiu o seu caminho. A palavra caminho em Lucas tem uma força especial, para Lucas na essência do ser cristão está o imperativo de se pôr a caminho. Seguir o caminho, porém, não é uma atitude automática, mas constantemente renovada. E para continuar o caminho é necessário conhecer o fim. Não é necessário "ver" o fim, mas "conhecer" o fim. A visão do fim, nem sempre acompanha o caminhante. As vezes é justamente a proximidade do fim que o torna invisível. Uma pessoa em Niterói vê melhor o Cristo Redentor do que alguém que já esteja na floresta da Tijuca... Por isso, é o "conhecer" o fim que se torna o motor da caminhada. Merton certa vez escreveu que é justamente a proximidade de Deus em nós que nos faz tomar consciência de co

ÉGLISE

Na França há duas senhoras chamadas Église. Nome bonito, simpático. Por acaso, as duas são mães e seus filhos moram consigo. Por acaso as duas são peritas criminais. Por acaso as duas moram com um primo que nem tem sérios problemas... Chamarei uma simplesmente de "Église", a outra Église chamarei apenas de "A outra". Église, tem seus três filhos, não são trigêmeos, um tem 06, outro 10 e um adolescente de 15. A outra também. Église considera a idade de cada um de seus filhos e preocupa-se com cada um deles de forma diferente, com quem se preocupa mais? Com os três, porque sabe que cada idade traz uma imensidão de preocupações próprias, o de 06, por exemplo, precisa compreender que o seu estojo não é o do coleguinha, por isso Eglise já até o deixou de castigo, quando chegou com uma canetinha que não era sua. O de 10 supõe ser um super-herói, e Église já lhe explicou que não é. Que não pode tudo. Que tem limites, por isso, mandou por tela de proteção nas janelas