SOMOS CONTRA A PENA DE MORTE?

Há algum tempo o Papa Francisco reapresentou a doutrina da Igreja sobre a pena de morte. O Catecismo da Igreja apresentava certas condições para que fosse lícita, condições tais que faziam com que, na prática, ela fosse inaplicável.
E agora o Papa simplifica a questão mostrando que nas atuais circunstâncias e levando em conta a compreensão da Igreja sobre o valor de cada vida humana, a pena de morte não está de acordo com o Evangelho de Jesus Cristo.
Alguns setores mais conservadores, como seria de se esperar, protestaram contra uma suposta mudança da doutrina católica.
Creio que de modo geral, a maioria das pessoas é contra a pena de morte.
Mas, ao mesmo tempo, a questão do preso necessita de uma melhor reflexão e práxis entre os que dizem crer no Evangelho.
O show midiático de algumas prisões, em sua maioria indevidas e sem julgamento, traz uma mobilizaçao emocional um tanto quanto patológica, onde até o cardápio dos primeiros dias de prisão se torna objeto de curiosidade nacional.
E também se instaura uma espécie de big brother penal onde o que fizeram, como fizeram, como estão geram noticias não somente numa imprensa sensacionalista, mas até na que seria considerada séria.
Criou-se um clima de vingança e de curiosidade mórbida que longe de favorecerem a justiça, promovem o linchamento moral.
Outro dia ouvi a noticia sobre um condenado por homicidio que fazendo trabalhos na cadeia com os outros presos, creio que algo na linha da saúde bucal, foi mudado para uma cela um pouco melhor.
Isso se tornou notícia nacional. Noticiado de um modo que se induzia as pessoas a considerarem isso um absurdo, que ele era um homicida, que tinha que estar sofrendo na cadeia etc.
Mas a cadeia serve para que? Na mentalidade vigente, a cadeia serve para fazer o condenado sofrer. Não sofrer apenas a privação de sua liberdade, mas também uma privação de humanidade. De modo que a cadeia não servirá jamais para uma reconciliação do infrator com a sociedade, mas como uma crudelíssima vingança da sociedade para com o criminoso.
Diante disso, as palavras do Senhor: "Estive preso e me visitastes" se tornam não só proféticas, mas seletivas.
São elas talvez as mais fortes selecionadoras dos discípulos de Cristo. O faminto, o pobre, o peregrino, não deixam de ser simpáticos e sobram santos que passaram fome, frio, sede... Mas preso...
Sim, também muitos santos foram presos, mas injustamente.
O Cristo porém, não fez essa ressalva: "preso inocentemente", ele terminou na palavra preso. E isso, honestamente, nos fere.
Recordo-me de uma freirinha nordestina com quem convivi algum tempo que dizia que passaria um tempo no purgatório por causa dessa frase de Jesus. Honestamente... Jesus não falou de purgatório para que não fizesse o bem ao menor dos seus irmãos... falou de inferno.
Somos tanto contra a pena de morte, mas concordamos com uma pena de destruição?
"Foi a mim que o fizestes..."


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