Pensamento Sacerdotal

Não gosto de ano novo. Sei que posso parecer antipático nesse último dia do ano. Talvez você nem queira ler o resto do texto, mas desculpe minha objetividade lusitana, e tente ler até o fim. Não gosto de ano novo, porque as pessoas geralmente desejam ao ano aquilo que deveriam a si. Só que desejar a si, paz, exige reconciliação com os inimigos. Desejar saúde, talvez signifique cortar o açúcar. Desejar prosperidade talvez signifique usar menos o celular enquanto trabalha... Então é melhor desejar ao ano, compromete menos. Não devo desejar um ano bom, mas que eu seja bom ao longo dessa jornada que se descobre diante dos nossos olhos. Queridos amigos, não caiamos nessa histeria coletiva! Festejemos, celebremos, alegria! Passou um ano, chega outro! Mas a maior parte das coisas que esperamos dele, estão dentro de nós.

A oitava do Natal e a oitava da Páscoa têm um ritmo diferente. A da Páscoa tem um ciclo semanal: de Domingo a Domingo, de modo que há uma concatenação de idéias mais centrada. Já a oitava do Natal é um ciclo do dia 25 de dezembro a 1 de janeiro, onde há ainda o Domingo da Sagrada Família que, sendo embora de capital importância, quebra um pouco o ritmo das leituras desse tempo de oitava. Assim, ontem ouvimos a fuga da Sagrada Família para o Egito, enquanto que, se não fosse o Domingo da Sagrada Família, teríamos ouvido a primeira parte da Apresentação do Menino Jesus no Templo.  E hoje, então, ouvimos a segunda parte, onde protagoniza não mais o velho Simeão, mas a velha Ana. São velhos porque é a Antiga Lei que jubilosamente cede o seu lugar à Nova. São velhos, porque acenam de longe já o cumprimento das profecias. Mas sobre essa veneranda idosa, é-nos dado um fato que não nos é fácil descobrir se deve ser compreendido na literalidade, na simbologia, ou em ambos. O Evange

O que é queimar incenso? Basicamente, nada. O que significa queimar incenso? Reconhecer como Deus, mostrar profunda veneração ou mesmo adoração. É possível separar as duas coisas? Sim. Para isso serve a intenção. A intenção liga o ato a um significado. Porém, a intenção só pode ser conhecida se for revelada pelo agente da ação. Eu posso queimar incenso, porque considero um lugar fedorento, e, como o incenso é um perfume, eu quero simplesmente perfumar. Eu posso queimar incenso, porque considero um lugar santo e habitáculo da divindade, por isso queimo incenso para homenagear a divindade. Eu sei que isso pode parecer simples demais, mas marcou a história de gerações de cristãos. Acontecia o seguinte: uma pessoa era denunciada como cristão. Então ela era levada junto com um juiz para diante de uma imagem de um Deus pagão, se queimasse incenso, tudo bem, estava livre. Se não queimasse, ele e sua família seriam postos na miséria, presos e provavelmente depois mortos. Como

Desde sempre glorificamos a Santíssima Trindade. A Trindade do Céu: o Pai, o Filho e Espírito Santo. O Pai fonte da vida, o Filho que é a Sabedoria do Pai e o Espírito Santo que é o Amor do Pai e do Filho. Mas a Santíssima Trindade, a Trindade do Céu, quis ter uma imagem sua nesse mundo, e criou a Trindade da Terra. Para ela, Deus Pai entregou a sua missão à S. José, que escolheu desde toda a eternidade para ser o Pai de Deus Filho nesse mundo, para que a imagem fosse muitíssimo fiel, Deus Filho, a Segunda Pessoa da Trindade do Céu, veio ser membro também dessa Trindade. Em sua humildade divina, embora fosse o mais perfeito de todos, quis obedecer a todos, fazendo-se obediente a José e à Maria. E se o Espírito Santo é o Amor na Trindade do Céu, a sua Esposa fidelíssima torna-se sua fidelíssima representante na Trindade da Terra. Queridos amigos, renovemos nossa devoção à Sagrada Família, Trindade da Terra, peçamos a intercessão dos Três para que sendo participantes da família da

Quero contar a história de duas senhoras francesas. Há muitas coincidências sobre elas, a começar pelo nome: as duas chamam-se Église. As duas têm três filhos e eles têm a mesma idade: oito, dez e quinze, com as questões próprias de cada idade. As duas são peritas criminais. As duas têm um tio que têm sérios problemas com drogas e bebidas. As duas são católicas. Para facilitar as coisas chamarei uma com o nome de Église, a outra chamarei simplesmente como "outra". Église como perita criminal acaba tendo acesso à histórias, fotos etc. Além de vários livros que narram crimes terríveis. Para que os filhos não vejam, nem leiam aquelas coisas ela os coloca numa parte superior de uma estante de seu quarto, trancados com chave. Já a outra, acha que deve confiar nos filhos, então ela deixa em qualquer lugar. Uma ou outra vez ela disse para eles não mexerem, mas se mexerem, é a liberdade deles. Certa vez, o filho de oito anos de Église chegou com a borrachinha de um colega que

Na missa da meia-noite no Natal do Senhor, a antífona de entrada da Missa colocava na boca do Senhor que nascia: O Senhor disse a mim: Tu és meu filho e eu hoje te gerei. É um trecho do Salmo segundo, que cai como uma luva na noite de Natal. Porém, logo em seguida, o versículo escolhido para compor com a Antífona, pode nos causar alguma estranheza: Por que os povos agitados se revoltam, e os príncipes conspiram todos juntos contra o Deus Onipotente e o Seu Ungido? Acabou a graça... Toda tranquilidade, singeleza e beleza daquela noite já são marcadas por uma guerra, por uma trama contra aquele indefeso recém-nascido, que com certeza vencerá. Mas vencerá na mesma medida que parecer perder, por isso sua cruz será o seu máximo triunfo. O nascimento de Cristo não é simplesmente um aniversário, mas é o grito de Deus proclamando a sua vitória contra o mal. O mal, por costume, fica escondido. Só se mostra claramente quando desafiado. A crueldade de Herodes ultrapassa a maldade puram

Na Antiguidade Cristã a palavra teólogo tinha um significado bem diferente da que consideramos hoje. Para nós hoje, o teólogo é o estudante ou a pessoa formada em teologia. Porém na Antiguidade Cristã teologia era como se considerava a vida íntima de Deus, a Trindade em Si mesma. Não sendo possível aos homens compreender tão inefável mistério. Considerava-se então a compreensão de Deus a partir de sua ação no mundo e a isso chamava-se oikonomia. O que hoje chamamos de teologia é o que na antiguidade chamava-se de oikonomia. O título de Teólogo não era algo comum... Porém há um santo que a tradição da Igreja sempre se referiu como "O Teólogo" e este é São João Evangelista. O celebramos hoje, na oitava do Natal porque Ele é, em certo sentido, o poeta do Verbo Encarnado. S. João é chamado de "O Teólogo" porque é capaz de compreender o Mistério de Cristo pela perspectiva de Deus. Assim o Cristo compreendido como Palavra feita carne; Maria Santíssima compreendida co

Quando pecam, Adão e Eva seguem uns passos que, de certa forma se tornam universais, comum a todos os que pecam. Muitos não percebem que seguem exatamente o mesmo caminho. O descreverei aqui para que mais facilmente deixemos de seguir os passos do velho Adão e sigamos os do Novo, ontem nascido para nós. "A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente."  1. A consideração da possibilidade de pecar. Quando consideramos a possibilidade real de pecar, o pecado já começa a reinar em nós. É claro que, em tese, eu aqui sentado, enquanto escrevo, posso cogitar matar uma pessoa; isso é uma coisa (que já não é boa, evidente). Outra bem diferente, e bem pior seria sair armado indo na direção da casa do vizinho que me ofendeu outro dia. Ao considerarmos um pecado como uma possibilidade real em nossa vida, a primeir

Na própria essência do nome cristão está a imitação. O cristão é mais cristão quanto mais imita a Cristo. O ideal do cristão é Cristo e a sua vida é uma imitação-conformação-configuração. Reproduzir em si os atos de Cristo. Ter em si os sentimentos de Cristo. Assemelhar-se espiritualmente a Cristo. Essa é a razão principal pela qual S. Lucas nos Atos dos Apóstolos praticamente reescreve o sofrimento e a morte de Cristo no sofrimento e morte de Estêvão. O Diácono se apresenta como verdadeiro cristão ao ter um fim semelhante ao de Cristo: ódio, calúnia, inveja, julgamento iníquo, sentenciado à morte, posto para fora da Cidade, morrer perdoando os inimigos e entregando o espírito a Deus. Cristo-Estêvão, Estêvão-Cristo. Ao reescrever a vida de São Francisco, essa foi a mesma preocupação de S. Boaventura: apresentar S. Francisco como "Alter Christus", o outro Cristo. Esse pensamento, ainda que aparentemente ambicioso, é, como já dizemos, o cerne da vivência de cada cris

Queridos amigos, todo o parto é algo maravilhoso! Admirável! Mas de todos os partos há um único, realmente ímpar: o parto da Virgem Maria. Não é próprio de Deus destruir, mas consagrar. Assim, a Virgem concebe sem concurso de homem, virginalmente. E no seu parto, a sua Virgindade não é destruída mas consagrada. A Santíssima Virgem não teve as dores de parto, nem as debilidades próprias de uma puérpera. Nosso Senhor realmente nasceu d'Ela. Saiu dela. Mas saiu a "portas fechadas", tal como Ressuscitado entra no Cenáculo "a portas fechadas". A Igreja canta hoje esse nascimento virginal. É ele o prodígio que a liturgia da Missa nos leva cantar: "Cantai ao Senhor um cântico novo, porque Ele fez prodígios". Essa verdade, do nascimento virginal de Nosso Senhor, se mostra claramente no relato que temos no Evangelho de S. Lucas que aponta Maria Santíssima "agindo" imediatamente após o parto: é ela quem enfaixa o menino e o põe na manjed

Se teve uma palavra que marcou o Natal de Nosso Senhor é o não. Assim se referem dois evangelistas: Lucas e João. De um modo muito concreto S. Lucas fala da falta de lugar na hospedaria. E S. João de modo mais teológico fala da luz que é rejeitada pelas trevas, dos homens que preferem as trevas, e dos "seus que não O receberam". O "não" acompanhará os passos do Verbo Encarnado. É o não ao lugar na hospedaria, o não à vida da parte de Herodes, o não ao próprio país no desterro para o Egito, o não ter onde repousar a cabeça, o não aceitar suas palavras da parte dos mestres da Lei e Fariseus, o não querer se comprometer de Pilatos, o não ter sepultura... O não é uma moldura na vida de Nosso Senhor. O não se torna tão evidente na vida de Nosso Senhor porque Ele é o Sim. Quando olhamos a obra de certos artistas como Murilo, ou El Greco percebemos o jogo de luz e sombra que eles fazem justamente para realçar o principal de suas obras, assim o fundo escuro cha

Nesse dia 24 de dezembro a Santa Igreja propõem três Missas cada uma com uma riqueza espiritual própria. Na primeira celebramos o término do tempo do Advento, é a Missa Matutina de 24 de dezembro. Nela, a Igreja parece gritar: Vem, Senhor. Rompa o céu! Aguardamos-Te com tanta ansiedade! O Cântico de Zacarias, que lemos no Evangelho ao falar do Sol nascente que veio nos visitar assume uma força ainda maior ao contemplarmos o sol que nasce no próprio dia que antecede a chegada do Senhor. Depois há a Missa da Vigília de Natal, ao entardecer nos é recordado através da primeira leitura que aquele que nasce é o Esposo, de ora em diante, ninguém se sinta sozinho, há um Emanuel nascido da Virgem, há um Deus conosco, Deus que quis habitar entre nós. Por fim aquela Missa que une o dia de hoje ao de amanhã: a Missa da meia noite. Missa da Noite de Natal. Nessa Missa a Colecta quase nos leva a perguntar: "Que noite? É tanta luz, é tanta glória, que nem percebemos ser noite!" O Ev

No Santo Evangelho desta ante-véspera de Natal, quando nas vésperas a Igreja já o entoará a última das Antífonas do Ó, chamando o Senhor de Emanuel, vemos a cena da circuncisão e da imposição do nome de S. João Batista. Os parentes de Santa Isabel e de São Zacarias desejam dar ao Precursor o nome do pai, Zacarias. Mas os pais insistem, cada um a seu modo, a mãe falando e o pai com sinais e escrita que o nome do menino será João. João era o nome que o Arcanjo São Gabriel ordenara ao duvidoso Zacarias impusesse sobre o menino ainda não concebido. Mas também é o sinal de um novo tempo. Zacarias quer dizer: "o Senhor recordou-se" e João quer dizer: "o Senhor é misericórdia". Agora não se trata mais de uma recordação, mas de uma ação. O Senhor não precisa mais se recordar do povo, Ele agora está no meio desse povo. É o Emanuel. Não mais recordação. Misericórdia. Se Zacarias recorda a perene lembrança de Deus pelo seu povo e do povo por seu Deus, João anuncia a mi

Neste IV Domingo do Advento já ouvimos sobre Nosso Senhor São José. Ao descrevê-lo numa virtude S. Mateus o chama de justo. Virtude tão ligada e tão característica de Deus mesmo. A justiça nos textos bíblicos ainda não é como no direito romano "a dar a cada um aquilo que é seu", mas a santidade plena, a entrega total a Deus e a fidelidade às suas Leis. Num determinado momento, Maria parece um empecilho entre entre José e Deus. O empecilho é que José em sua justiça não podia acobertar um erro (ainda que no seu coração o considerasse mais do que impossível) de Maria; mas porque não acreditava no que viam seus olhos, temia que Maria sofresse o castigo cruel de um pecado que Ele era incapaz de crer cometido. Se Abraão creu no que não via, a Santidade Pleníssima de Maria fazia com que José não cresse no que via. Ir embora. Foi a decisão que Ele considerou mais oportuna ou menos inoportuna. Vêm o Anjo: "Não temas receber Maria". Maria não te afastará de

Há uma espécie de senso comum da santidade: calma, ponderação, lentidão... lerdeza. Isso é tão negativo que muitas vezes nós mesmos dizemos sobre alguém: "Seu fulano é um santo, coitadinho..." A santidade parece mais defeito que virtude, mas algo a lamentar do que a desejar. No Santo Evangelho de hoje, a Santíssima Virgem vai apressadamente visitar Izabel. Um Santo Padre comenta que amor e lentidão não combinam, como ama, corre. Porque ama, corre. Um biógrafo de Dom Bosco disse certa vez que os santos não intepestivos ou irresponsáveis são prudentes, mas que é uma prudência que só se reconhece anos depois de suas mortes. Se a paz de Jesus não é conhecida pelo mundo, também não o é a prudente pressa dos Santos. Queridos amigos a pressa dos Santos consiste no fato de que eles não desejam um mundo melhor, mas um fulano melhor. Eles não querem salvar o planeta. Querem salvar o José, o Joaquim, a Adelaide... que Deus pôs nos caminhos deles. Para salvar o mundo é nec

"No contexto da liturgia, esse introito é como a primeira palavra do Menino-Deus, a palavra pela qual Ele nos diz através da voz da Igreja quem Ele é e de onde Ele vem. Mas a esse testemunho de seu nascimento eterno se acrescenta um outro. No momento em que Ele vem ao mundo, em Belém, Cristo é verdadeiramente gerado: ele nasce do Espírito Santo e da Virgem Maria. O Ego Hodie [‘Eu hoje’] se compreende aqui, portanto, também quanto à Sua geração carnal, obra igualmente de Deus, e a palavra hodie , mantendo todo seu sentido de eternidade, indica o dia preciso em que tal obra se realiza. Por outro lado, Cristo jamais esteve sem seus membros. Gerando o Verbo em seu pensamento único e eterno, o Pai, no mesmo ato, O predestina a ser a Cabeça e o Salvador de toda a humanidade e Lhe dá todos os homens de boa vontade. Assim, nEle, desde toda a eternidade, nós fomos todos pensados, gerados espiritualmente pelo Pai. Quando Ele veio à Terra, ele nos trazia então todos em seu pensamento e

Geralmente nos sermões, nas aulas de catecismo, quando ouvimos falar sobre o Anúncio do Arcanjo S. Gabriel à Nossa Senhora, não falamos tanto em anúncio, mas em questionamento. Costumamos ouvir que o Arcanjo perguntou à Santíssima Virgem se Ela aceitava ser a Mãe de Jesus. Todavia, podemos ler milhares de vezes o texto de São Lucas e não encontraremos nenhuma pergunta do Anjo. Nossa Senhora é que pergunta o como se daria o fato, uma vez que, tanto ela como São José,  tinham consagrado a sua Virgindade a Deus. O Anjo não pergunta. É cheio de firmeza o modo como o anjo diz: "Eis que conceberás e darás..." Não há o que perguntar quando já se sabe a resposta.  E Deus sabe. Deus criou Maria como obra-prima de toda criação, encheu-a de todas as graças do mesmo modo como fez com que todas as águas se ajuntassem ao mar. Pensando nesse fato, vêm-me à mente as bodas de Caná, onde também Nossa Senhora não pergunta a Jesus se Ele podia transformar a água em vinho. Apenas L

"Me ensinastes desde a minha juventude, até hoje canto as vossas maravilhas. " O Salmo de hoje traz esse belíssimo versículo que aplica-se, pela Liturgia de hoje, a Sansão e a São João Batista. Exemplos de homens que foram consagrados a Deus desde a sua juventude. É claro, que toda vocação é bela e cheia de mimos divinos; mas quando encontramos alguém que teve a graça imerecida de ser inteiramente de Deus desde os primeiros momentos de sua vida. A santidade assume um frescor e um vigor que se completam. Assim o forte Sansão, com seu grande coração e a coragem imbatível de João Batista, amigo do Esposo, nos trazem um convite divino a correspondermos a nossa vocação com alegria desde o primeiro instante em que o Senhor passou e olhou para nós até o momento em que nós "passarmos" e olharmos para Ele.

"Tu lhe darás o nome de Jesus" Assim disse o Arcanjo a Nosso Senhor São José. Nunca um "Tu" foi tão solene, tão grandioso, tão magnânimo. "Tu lhe darás" o nome sem o qual não há salvação. "Tu lhe darás" o nome ao qual todo joelho se dobra no céu, na terra e nos infernos. "Tu lhe darás" o nome que teus pais, teus avós e tua ascendência inteira suspirava esperando redenção. Se Deus dá graças compatíveis com a grandeza da missão à qual chama a criatura, como não considerar Nosso Senhor São José logo abaixo de Maria Santíssima na plenitude das graças, na grandeza de dons, na elevadíssima santidade. Como não recorrermos a ele, colocarmo-nos sob seu patrocínio e pedir que pronuncie sobre nossas cabeças aquele Nome que coube a Ele impor ao Verbo Encarnado.

O Evangelho do dia 17 de dezembro, quando começa a preparação próxima para o Natal segundo a carne de Nosso Senhor nos traz a Genealogia segundo S. Mateus. Celebrar o Natal segundo a carne, não é apenas celebrar a "descida" do Verbo, mas uma real inserção Sua em nossa história. Ele se faz carne, Ele se faz parte de nossa história. Ele assume a história humana não vindo de fora, mas tornando-se semente redentora plantada na terra da família dos justos Abraão, Isaac e Jacó e de outros não tão justos, mas que sendo parte da família humana se tornam parte da família do Verbo Salvador. Deus sabe que nada vindo de fora do homem terá o poder de purificá-lo como também não é o que está fora dele que o torna impuro. Geralmente queremos começar por fora, e a conversão se torna fantasia. Ao invés de olharmos tanto fora, peçamos ao Senhor a graça de começar a conversão por aquilo que de mais escondido teimamos em conservar para nos afastar de Deus.

Por alguma razão colocaram aquela Imagem do Cristo "muito chagado" ali. E ela, Teresa de Ahumada, agora Teresa de Jesus, ao ver aquela imagem do Cristo muito chagado, descobre quão tíbia era sua vida e deixa de ser uma freira a mais, com uma vida morna, contentando-se com um purgatório após a morte..., Ali ela se tornou a Madre Teresa, reformadora do Carmelo. É assim, ao ver o sofrimento do Senhor, a alma generosa sente um puxão para cima, uma força elevadora que lhe faz perceber o quão pouco ou nada retribuiu ao Senhor. Quid retribuam Domino? Que poderei retribuir ao Senhor por tudo o que me fez? Como O retribuirei pelas suas humilhações, prisão, agonia, crudelíssima flagelação, coroação de espinhos... Quid? O que farei para retribuir? A morte do Senhor na Sexta-feira Santa pôs, clemente, um fim ao sofrimento físico do Senhor. A lança que recebe do soldado, lhe fere, mas não lhe dói. Dói, sim, n'Aquela que com Ele oferecia-se ao Pai em sacrifício de suave odor. A

Na primeira leitura da Santa Missa de hoje, ouvimos o belíssimo poema que Balaão profere sobre as tendas e as moradas de Israel, ainda peregrino no deserto. E Balaão descreve as belezas do acampamento de Israel: "como são belas as tuas tendas!" Quando olhamos a trajetória do povo eleito do Egito para a Terra Prometida, percebemos que ainda que tivessem a perene consciência de sua instabilidade local, de que estavam em peregrinação, eles prezam pela beleza em suas tendas, e especialmente na Tenda do Senhor. É ainda nesse momento de transitoriedade que estabelecem suas principais liturgias e com grande solenidade. Ser transitório não é ser improvisado. O transitório conduz para o eterno. O improvisado manifesta a falta de amor. Sabemo-nos todos transitórios. Não sejamos jamais improvisados. Caminhamos de amor para Amor, de terra para Céu. De mesa de peregrinos para Banquete Nupcial do Cordeiro.

Neste domingo da alegria, S. João Batista que estava no cárcere mandou mensageiros perguntarem a Jesus se Ele era realmente o Messias ou se era devido esperar por outro. O pior cárcere do profeta é o silêncio. O profeta é aquele que se preencheu do silêncio com Deus, para transbordar a Palavra de Deus a quem é enviado. Pior que a morte para o profeta é o silêncio, porque o silêncio que a morte provoca é natural, mas o silêncio da prisão é devorador. João não estava preso apenas. Estava calado. E o que pode haver de mais devastador para a voz do que ser calada. É no meio desse tormento que João manda os mensageiros. O tormento de João era ter a certeza de que sua voz não era mais necessária. Saber se Jesus era o Messias era saber que sua vida tinha cumprido a missão. Em certo sentido, a resposta de Jesus dizia mais respeito a João do que ao próprio Jesus. Por isso, o Senhor não responde com um sim ou um não, mas manda dizer a João o que estava acontecendo. Não responde com pal

Na primeira leitura ouvimos aquela exultação sobre o profeta Elias: "Felizes os que te viram!" Creio que quando pensamos nos santos, pensamos nessa frase: como devem ter sido felizes os que viveram com os santos! Sim, muitos foram felizes, reconheceram nos santos o Senhor que visita o seu povo. Mas muitos também não puderam ou não quiseram reconhecer a visita de Deus em seus santos. Assim foi com São João da Cruz, o "meio-frade", como o chamava Santa Teresa, por ser baixinho, não foi reconhecido nem por seus irmãos de hábito que chegaram a mantê-lo preso. E depois o acusaram de ser o pai de uma criança concebida num momento em que o Santo estava há quilômetros de distância... Chega a lembrar a prostituta levada para acusar Santo Atanásio de impureza, só que Santo Atanásio adiantou-se e, apontando para seu secretário, perguntou a mulher se era verdade que ela tinha prevaricado com aquele Bispo Atanásio, e ela confirmou, mostrando a todos a mentira montada...

Ao celebrar a memória de Santa Luzia nossa mente se volta também para Santa Águeda, de quem Santa Luzia era devotas. Ambas eram da Sicília e hoje são nomeadas juntas no Cânon da Missa. Numa doença grave de sua mãe, Luzia ou Lúcia, é o mesmo nome, se dispôs a fazer uma peregrinação ao túmulo de Santa Águeda com um duplo propósito: o primeiro era a cura de sua mãe e o segundo é que, se sua mãe fosse curada, ela ficaria dispensada de ter que se casar, uma vez que já tinha consagrado a sua virgindade ao Divino Esposo, Cristo. Voltando com a mãe curada, Luzia dedica-se inteiramente a Cristo, mas os inúmeros pretendentes que eram rejeitados transformam o amor que sentiam em despeito e ódio e a denunciam como cristã.  Sabendo de seu propósito de virgindade a quiseram levar à força a um prostíbulo para que lá fosse desonrada. Porém nem um carro de bois foi capaz de tirar a Esposa de Cristo do lugar em que estava, tão pesada ficou. Chamada a queimar incenso aos deuses, negou-se. Po

"Aquele que me seguir nunca se cansará". Nosso Senhor nunca disse isso. Ao contrário, sabendo que nos cansaríamos Ele nos ensinou a irmos a Ele nessas circunstâncias. A não termos vergonha do nosso cansaço, mas a descansarmos nele. Ele não é apenas o "patrão" é também o descanso. Queridos amigos, aquele que não se sentir cansado é porque mente, ou porque não luta. Saibamos repousar em Deus. Pararmos um pouco e rezar com mais calma. Parar diante do sacrário e simplesmente olhar para o Senhor, não nos importando tanto com tempo ou palavras, deixar que o coração fale ao Coração. Não é problema cansar-se. Problema é não buscar descanso em Nosso Senhor.

Todos nós sabemos o quanto o Senhor se ocupa com cada um de nós. Mas... E nós? O quanto o outro vale para nós? O Senhor é capaz de buscar só um. E nós capazes de buscar nenhum. Nossas multidões cada vez mais decadentes nos mostram que só conseguimos olhar para nós mesmos e preocupar-nos com nossas ninharias enquanto as almas se perdem. Vemos cem se perdendo e continuamos nos preocupando com quem vai ser o novo coordenador de uma pastoral que nada muda na vida da Igreja. Piedade, Senhor.

"Sou um João ninguém". Assim referiu-se a si mesmo São Juan Diego quando a Virgem Maria ordenou-lhe ir ao Bispo dizer que queria que ali se fizesse uma Igreja em sua honra. Juan Diego, Juan Ninguém... Ele e eu e você! Mas não importa o envelope, importa a carta. O envelope Juan Diego ou Juan Ninguém trazia a carta Maria Santíssima. O envelope vale nada, rasga-se, joga fora. A carta é o que importa. A carta é que torna grande o envelope. Juan Ninguém se tornou O Juan Diego, O Juan Dieguito da Virgem e de toda a Igreja. E nós, quem seremos.

Estou há alguns minutos parado. Já escrevi e deletei milhares de introduções. Pensei então em ir ao corpo do texto também não deu certo. Fiquei mais um tempo parado. Mais um tempo. Maria. Maria. Só esse nome me vêm na cabeça. Começo a frase: Maria. E penso na segunda palavra. Não consigo outra: Maria. Maria. Nome dulcíssimo como diz a música. Maria Nome que traz todo gozo aos bem-aventurados e toda dor aos condenados e todo terror aos demônios. Maria. Maria. Sou teu. És minha.

Celebrar a festa de S. Ambrósio, é ter saudade de um tempo que não vivemos. Já no Evangelho Nosso Senhor fala de poucos operários em sua vinha. Poucos, especialmente quando pensamos em Ambrósio. Ao pensar em Ambrósio sentimos uma saudade que chega a doer. De um tempo em que a glória de Deus era o único anelo da Igreja, dos Bispos da Igreja. Ambrósio que fecha a porta do templo impedindo a entrada de Teodósio. Do mesmo Teodósio que fizera do cristianismo a religião do Império Romano. Teodósio que ordenara um massacre em Tessalônica, vai solenemente à Eucaristia presidida por Ambrósio. Ao ver a comitiva do Imperador, o Bispo vai à porta do Templo não para saudá-lo, não para honrá-lo, não para ter um diálogo que não leva a nada. Vai à porta e a fecha e impedindo a entrada de César, ordena-lhe penitência pública. O que faz o Teodósio? Obedece. Veste-se de saco, cobre-se de cinza e fica na escadaria da Igreja, implorando ao fiéis que rogassem a Deus que perdoasse seus pecados. Qu

No Santo Evangelho, o Senhor cura dos cegos. Mas há um elemento que se repete duas vezes no texto e que não pode passar sem nota por nossa reflexão: a fé. Primeiro Jesus pergunta se eles acreditam realmente que Ele os possa curar, e depois o Senhor ordena que se faça de acordo com o que eles acreditam. Queridos amigos, a fé é um dom pessoal. A fé é um patrimônio da comunidade, mas a resposta da fé é pessoal. Acreditais? Aqueles cegos não estavam numa histeria coletiva motivada pela multidão, estavam na multidão, mas a sua fé era pessoal, única, própria. "Eles responderam: Sim, Senhor" Respondem a mesma coisa, porque a fé é única, mas respondem cada um, porque é uma resposta pessoal, individual, O segundo momento é quando o Senhor ordena que se faça de acordo com a fé deles: fé total, cura total. Queridos amigos, conosco é realmente assim? Temos a fé total? Nem sempre. Apoiamo-nos tanto em nossas seguranças, em nossos meios, que o Senhor nos parece mais um elemento,