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Mostrando postagens de agosto, 2020

DISCURSOS

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  Na primeira leitura da Santa Missa de hoje, o Apóstolo cria uma oposição entre a pregação do Evangelho e os discursos da sabedoria humana. Em outras palavras, S. Paulo reforça a simplicidade do Evangelho e a natural mudança que o Evangelho produz em nossa vida. A força do Evangelho não está em discursos habilmente preparados, com recursos da oratória e capacidade de convencer, mas em expor de forma clara o amor de Deus por nós manifestado na Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, Nosso Senhor. Essa simplicidade do Evangelho pode ser causa de desprezo para aqueles que, não o querendo compreender em sua grandeza, imaginavam uma doutrina mais rebuscada e palavras mais difíceis... Celebramos há poucos dias S. Agostinho, antes de sua conversão era um homem acostumado à leitura dos grandes autores de sua época, com palavrórios rebuscadíssimos, frases de várias linhas, parágrafos imensos, jogos de palavras... e, quando tem nas mãos os Evangelhos, acaba por desprezá-los por julgar uma

CORPOS

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O fato de termos certa intimidade com as Sagradas Escrituras, o que é bom, pode ter como "lado ruim" que certos textos nos sejam tão familiares que o julgamos uma fonte jé esgotada. Mas jamais será assim. Já recordavam os Santos Padres que ninguém deve se sentir chateado por beber de uma fonte até saciar-se e a fonte continuar jorrando, porque voltaremos a ter sede e voltaremos à mesma fonte que sacia sem acabar. Assim lemos hoje um texto da Santa Escritura e apoiados na Tradição da Igreja o compreendemos de um jeito. Ano que vem o mesmo texto, apoiado na mesma Tradição nos revela um sentido novo, mais útil às nossas almas. Assim, na Segunda Leitura da Missa de hoje, bem curtinha por sinal, o Apóstolo diz, segundo a tradução do Lecionário: "Eu vos exorto irmãos a vos oferecerdes a Deus (...) este é o vosso culto espiritual." Só que não seria errado que busquemos o mesmo texto em outras traduções, e se formos ao texto grego mais próximo do que seria um "original

PREÇO

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  Você está andando na rua. Um pobre mendigo todo mal-tratado se aproxima de você e implora pelo amor de Deus um prato de comida. E você, generosamente, o convida a sentar-se na praça e lhe explica como ele deve gerir um futuro negócio para que tenha lucro e assim não precise mais pedir comida. Afinal, você sempre ouviu que não adianta dar o peixe, tem que ensinar a pescar. Ok.  Mas e a fome do mendigo? Será ele capaz de prestar atenção às suas progressões aritméticas e geométricas enquanto o estômago lhe adentra as entranhas? É necessário reconhecer um problema imediato que exige uma solução imediata. Quando chegou em Ars, S. João Maria Vianney deparou-se com uma realidade que ele mesmo descreveria mais tarde: "Deixai uma paróquia vinte anos sem um padre e os homens se tornarão animais!" Ars não tinha ficado vinte anos sem padre, mas tinha ficado séculos sem um padre como Vianney. Isso, somado ao espírito da revolução francesa e à própria natureza decaída das pessoas gerou u

CONFISSÃO

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  Celebramos hoje a Festa de S. Agostinho. A primeira vez que ouvi falar desse Santo foi um sacerdote que numa homilia disse assim: " E ele acabou escrevendo um livro confessando todos os seus pecados!", eu era criança e essa frase me impactou: "um livro contando todos os pecados!" Ora eu pensava que ele devia ter tido muita coragem, ora muita vergonha... Até que um tempinho depois descobri na biblioteca da escola um livro chamado Confissões e o autor era exatamente ele: Santo Agostinho. Fiquei na dúvida se pegava o livro ou não. A curiosidade me venceu, afinal quais seriam os pecados de um santo? E li. É verdade que Santo Agostinho fala também de seus pecados nesse livro, mas o livro não é uma "confissão pública" como o nome poderia parecer. Só mais tarde compreendi que em latim confessar pode ser entendido como "confessar" um pecado ou também (e, às vezes, sobretudo) confessar, proclamar a grandeza de Deus. Ao escrever Confissões, S. Agostinho

ALMA

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 "Deus não deixará perecer o filho de tantas lágrimas!" A imagem acima mostra o encontro de S. Mônica com S. Ambrósio, que, conhecendo o grande desejo que aquela mãe nutria pela conversão de seu filho, e os sacrifícios, orações e lágrimas abundantemente derramadas, pode assegurar à Santa Mulher que as suas orações encontrariam eco no Paraíso. E assim foi. Só que... depois de 33 anos. Se pararmos para analisar a vida de S. Agostinho antes de sua conversão dentro dos parâmetros modernos, poderíamos dizer que "não havia nada de mal"... Era um grande filósofo, famoso orador, tinha uma condição financeira boa, tinha uma mulher (sem ser casado) e com ela tinha um filho. Mas a mãe só chorava. Mônica é daquelas mulheres como uma Branca de Castela (Mãe de S. Luís IX), que dizia ao filho: "Prefiro ver-te morto com lepra do que tu cometas um só pecado mortal", ou de uma Santa Rita que pede a Deus que leve seus filhos ao Paraíso antes que cometam um pecado mortal que

SE

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  Já falei bastante mal do "se" aqui... Mas hoje vou abrir uma exceção para falar bem de um "se" . Penso que, às vezes, certas frases que dizemos são um lampejo de nossa própria essência, dizem sobre nós muito mais do que os substantivos e verbos concatenados.  Por exemplo, quando S. João Paulo II fala do sacerdócio como "dom e mistério" no fundo compreendemos que é como ele compreendia a si mesmo diante de Deus. Mas estou falando de um "se", e, sem mais delongas, o "se" em concreto é: "se eu for morto por um índio, quero que ele seja absolvido".  Quem escreveu isso foi S. Junípero Serra. José Miguel nasceu na Espanha e desde cedo sentiu o desejo de consagrar-se a Deus. Fez-se franciscano e escolheu o nome do mais simples, humilde e... divertido dos primeiros companheiros de S. Francisco: Junípero. Sua grande inteligência o fez logo professor no convento e tudo indicava que cresceria bastante na hierarquia da Ordem, quando ped

LUÍS

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  Qual ambiente mais adverso para alcançarmos a santidade? Temos santos imperadores, reis, duques, mendigos, livres, escravos... Onde será mais difícil encontrar Deus? Na corte ou na sarjeta? No palácio ou na choupana? Onde será mais difícil encontrar Deus? Talvez mais importante que saber qual lugar é mais difícil, é saber qual lugar. O lugar do encontro de Deus e do homem é o próprio coração humano. Assim, o lugar mais difícil de encontrar Deus é o coração que não o busca. Pode-se buscá-lO no convento, no palácio, na rua... Como também pode-se evitar a todo custo encontrar-se com Ele nesses mesmos ambientes. S. Luís, Rei de França, encontrou Deus onde todo o cristão o encontra: no próprio coração. E cultivou a amizade de Deus com os únicos meios que existem: a oração e a penitência.  Por baixo das roupas finas de rei, usava uma camisa de cilício. Jejuava, disciplinava-se. Fez-se terciário franciscano e é hoje patrono da Ordem Franciscana Secular. Casado viveu com máxima fidelidade à

RAINHA

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  "Houve um tempo em que foi a filosofia do Evangelho a governar as nações..." Com essas palavras Leão XIII descrevia a essência do que chamamos como "cristandade". Nela, embora houvesse como em todas épocas, pessoas boas e ruins, santas e pecadoras, havia um ideal comum: o Reino de Deus. E a busca dos governantes e governados era buscar imitar o Reino de Deus, era transformar a cidade da terra na cidade de Deus. S. Agostinho descreveu magnificamente que os fundamentos dessas cidades (Jerusalém e Babilônia) são o amor de Deus até o desprezo de si mesmo (a cidade de Deus, Jerusalém) e o amor de si mesmo até o desprezo de Deus (Babilônia). Desse modo, partindo do amor a Deus estava toda a estruturação da sociedade que buscava imitar em tudo o céu. Até o princípio monárquico não era outra coisa que uma manifestação de fé no Deus Uno e Trino, se só existe um só Deus, só se têm um Rei. E a fé era o grande ponto de união dessa sociedade. Não significa que não houvesse que

POBRE

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 Celebramos hoje a festa do grande S. Pio X, certamente o maior Papa do século XX e um dos maiores de toda a Igreja. Talvez você possa discordar dos elogios que acabei de fazer, mas de uma coisa não se pode discordar: foi o papa mais pobre que se têm notícia. "Pobre???" Pergunta o ignorante ao ver a foto a acima. "Vejam quanto luxo, riqueza, conforto e poder!". "Graças a Deus - blasfema o estúpido - isso tudo já acabou!" Como a ignorância é a mãe de uma multidão que só faz aumentar, creio que podemos hoje pensarmos na virtude da pobreza tendo como modelo esse terciário franciscano eleito ao trono de S. Pedro. Giuseppe Sarto. José Costureiro, seria o significado de seu nome. Mas o nosso Santo brincava com seu sobrenome quando alguém dizia que ele era um santo por causa não apenas de suas heróicas virtudes mas também por seus prodigiosos milagres realizados em vida, ele respondia: "Não, não! Não sou santo, mas sarto!" Camponês, filho de camponeses,

CONTRÁRIO

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Nosso Senhor muitas vezes nos aponta algo que podemos chamar "a via do contrário".  O que significa isso? Ora, leiamos com atenção o Santo Evangelho: os humildes são elevados e os poderosos derrubados, o mais importante é o que mais serve, é perdendo que se ganha, morrendo que se vive... Precisamos nos acostumar com os contrários de Deus, especialmente na nossa vida de oração. E o Senhor não cessa de nos recordar deles. Por exemplo, quando pedimos ao padre uma bênção, que sinal ele traça sobre nós? Uma cruz. E muitas vezes não compreendemos que a cruz é uma bênção. Ao contrário, pedimos a bênção para livrar-nos das cruzes. Quantas pessoas pedem a Deus paciência, mas não compreendem que só se é paciente em meio a tribulações. Se Deus quiser tornar uma alma paciente permitirá tribulações que a tornem paciente. Pedimos a Deus que nos faça mais confiantes, e estranhamos que nos encontremos às vezes à beira de um abismo onde só nos restará... sermos confiantes... Então Deus é mal,

PEDIR

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  A oração é uma necessidade de nossa alma. Tal como a água para o peixe, no dizer do Cura d'Ars. Mas podemos compreender que existem várias modalidades de oração. E dessas, a mais misteriosa é a oração de petição. Não podemos imaginar que nos seja possível rezar sem uma consciência monumental da nossa absoluta indigência e que nos dirigimos aqu'Ele que tudo pode nos dar. Por isso devemos pedir. Pedir a Deus tudo o que não seja um pecado. Ainda que seja óbvio, secundário ou totalmente dispensável o que pedimos. Agrada a Jesus nossa oração de petição. Quantas vezes no Evangelho o Senhor força esses pedidos perguntando, por exemplo, a um cego: "O que desejas?". Pedir. Conheço alguém que quando mais novo "apaixonou-se" por pôneis. E desde então, implorava, suplicava, pedia aos pais pelo pônei. O fato de que morassem num apartamento era para aquela criança um detalhe sem importância. E assim, passando os aniversários, natais etc e o pônei não vindo, um dia ele t

GLÓRIA

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  Nesse dia 15 de agosto celebramos a Assunção da Santíssima Virgem ao céu. Certa vez o então Cardeal Ratzinger definiu a liturgia como "festa da fé", expressão que não podemos entender fora de seu contexto. Nesse sentido, o futuro Papa dizia que as celebrações litúrgicas, as comemorações do calendário romano não são um fim em si mesmas, mas trazem uma realidade de fé a ser recordada para incremento da verdadeira fé cristã. Seguindo esse entendimento, compreendamos os mistérios da fé que a celebração de hoje nos faz olhar: A morte. A morte não é uma fatalidade, uma falta de pericia médica. É para onde caminha todo ser humano. Todos morreremos. Se não morrermos hoje, talvez amanhã.  Se não vitimas de uma violência ou doença será pela exaustão de nosso pobre corpo. Morreremos. A Virgem morreu. O próprio nome "dormição", não exclui a morte. Era usual entre os primeiros cristãos referir-se à morte como adormecer no Senhor. Como concebida sem pecado a Virgem, poderia não

INCENSO

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Nossa novena terminou dia 13 de agosto porque hoje à tarde já celebramos a Assunção de Maria.  Como se deu a Assunção de Maria? Gostaria de responder com uma outra história. Certa vez o Arcebispo Fulton Sheem foi celebrar a Missa numa paróquia. E um dos coroinhas, na hora da Consagração pôs tanto incenso no turibulo que quase não se via a Hóstia... O Arcebispo gentilmente fez apenas após a missa uma piadinha com o fato e a vida seguiu.  Mas quando eu soube desse fato, concluí que nos momentos mais sublimes Deus "exagera" no incenso, de modo que suas grandes ações são vistas por nós o suficiente para não duvidarmos, mas vemos envolvidas numa nuvem de incenso. Assim, poucos pormenores nos são dados sobre a Assunção da Virgem o que é bom, porque podemos encher com a nossa imaginação esse momento da vida de Nossa Senhora, inclusive imaginarmo-nos lá!!!!  Queridos amigos, que o seu coração já esteja em festa, cheio de júbilo: Assumpta est Maria in coelum, gaudent angeli. Alelluia

QUARESMA DE S. MIGUEL

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  QUARESMA DE S. MIGUEL EM PERGUNTAS E RESPOSTAS   1.        O que é? A quaresma de S. Miguel é um período de pouco mais de quarenta dias em que se busca honrar os Santos Anjos, particularmente S. Miguel, com orações, ofertas e sacrifícios.   2.        De onde surgiu? O primeiro a realizar a quaresma de S. Miguel foi S. Francisco de Assis que tinha uma especialíssima devoção a S. Miguel. Sua devoção e a consciência que tinha da grandeza desse arcanjo eram tão grandes que, certa vez, S. Francisco foi em peregrinação ao Monte Gargano (local onde há um santuário dedicado a S. Miguel por causa de uma aparição sua). Lá chegando, S. Francisco não conseguiu entrar, não quis entrar, por não se julgar digno de pisar no mesmo local em que esteve presente o S. Arcanjo. Foi durante uma quaresma de S. Miguel que S. Francisco recebeu os estigmas.   3.        A quaresma de S. Miguel não “ofusca” a Quaresma “normal” para a Páscoa? De modo algum. Os tempos litúrgicos privilegiam aspec