PREÇO

 


Você está andando na rua. Um pobre mendigo todo mal-tratado se aproxima de você e implora pelo amor de Deus um prato de comida. E você, generosamente, o convida a sentar-se na praça e lhe explica como ele deve gerir um futuro negócio para que tenha lucro e assim não precise mais pedir comida. Afinal, você sempre ouviu que não adianta dar o peixe, tem que ensinar a pescar.

Ok. 

Mas e a fome do mendigo? Será ele capaz de prestar atenção às suas progressões aritméticas e geométricas enquanto o estômago lhe adentra as entranhas? É necessário reconhecer um problema imediato que exige uma solução imediata.

Quando chegou em Ars, S. João Maria Vianney deparou-se com uma realidade que ele mesmo descreveria mais tarde: "Deixai uma paróquia vinte anos sem um padre e os homens se tornarão animais!" Ars não tinha ficado vinte anos sem padre, mas tinha ficado séculos sem um padre como Vianney. Isso, somado ao espírito da revolução francesa e à própria natureza decaída das pessoas gerou um caos.

E esse caos tinha uma representação bem clara para o Cura de Ars: os bailes.

De tempos em tempos, os moradores de Ars contratavam um músico que deveria tocar para eles por uma noite. Nessa noite dançavam: casados com solteiros, amasiados com solteiros, casados com casados de outro matrimônio, moças e rapazes (certamente hoje o cenário seria ainda pior...). Mas a dança, ainda que com algum resquício de pudor do século XIX, despertava outros sentimentos. E o pároco começava a perceber que no período de nove meses após os bailes aconteciam alguns casamentos, nasciam crianças de "pater ignotus", pai desconhecido, e algumas jovens passavam muito mal às vezes chegando a morte, porque sempre existiam "aqueles chazinhos" ou coisas do tipo.

O Cura de Ars nos sermões pregou, praguejou, ameaçou com o inferno... Mas os bailes continuavam. E eram verdadeiros acontecimentos na pacata Ars, que ainda hoje praticamente se resume a duas ruas... vinham até pessoas das outras cidades, especialmente jovens rapazes para tomar parte nos bailes.

Sendo assim, como camponês que fora, ao Cura d'Ars não faltara aquele espírito prático. Um dia viu chegar o músico, e o abordou: "Quanto lhe dão para tocar nesse baile?". O músico respondeu o valor. O Cura d'Ars pediu que esperasse um pouco, foi na Igreja e pegou duas vezes o valor que o músico dissera e deu-lhe dizendo: "Dou-te o dobro para que vás embora nesse instante". Na hora do baile, todos se reuniram, mas... cadê o músico. Sem música, como dançar e sem dançar primeiro... bem vocês já entenderam... E assim os forasteiros e moradores foram embora.

O segundo passo do Cura de Ars foi "atacar" as moças. Criou nelas um desejo profundo de castidade, incentivava uma terníssima devoção à Virgem Maria, era extremamente rígido na confissão, chegando a expulsar do confessionário aos gritos quem dissesse ter ido a um baile na cidade vizinha... E criou uma escola para meninas cujo nome não podia ser melhor: Providence, Providência. 

O Cura d'Ars tinha aquela mesma compreensão que a Igreja sempre teve sobre as mulheres: elas têm inata a capacidade de conduzir o homem. Para o bem ou para o mal. Mulheres Santas se unidas a homens terríveis, os tornarão bons, ou pelo menos razoáveis. 

Assim fez a Igreja na consolidação da Europa. 

Havia um rei ariano, herege, sacrílego, corrupto, violento, assassino, adúltero... E a Igreja fazia com que uma princesa santa se uni-se a ele em matrimônio. Assim, muitas vezes num tempo brevíssimo, o rei tornava-se cristão, mais respeitador de seu povo, mais justo... E a rainha, sempre amada pelo povo, dispunha de seus bens em favor dos pobres, dos doentes. E aquele inferno terreno que era tal reino, se converte pelo menos um pouco numa nova Cidade de Deus. E os futuros reis, educados por essas Santas Mulheres eram uma esperança de paz e justiça para as próximas gerações.

As mulheres têm essa força. E a Igreja sempre soube disso. Quanto mais virtuosa for uma mulher, tanto mais "aceitável" será o seu esposo. A Providência do Cura d'Ars tinha essa intenção, educar as meninas não apenas nas letras e afazeres comuns, mas dotá-las de um espírito cristão, torná-las virtuosas para que dali saíssem santas esposas ou santas religiosas.

Ao conseguir retirar as meninas dos bailes, o Cura d'Ars feriu os bailes na cabeça. Sem mulheres com quem dançariam os homens. Já não precisava mais pagar o músico. Era o fim dos bailes.

Alguns rapazes furiosos tentaram dar uma surra no Cura d'Ars, outros mais criativos espalharam a notícia de que ele era magro não por causa das penitências, mas pela vida sexual extenuante que tinha com várias moças e de cujos filhos era pai...

Mas o Cura d'Ars seguiu com suas batatas o seu caminho.

Com o tempo foi necessário ampliar a Igreja, dado o fluxo crescente de peregrinos que vinham confessar-se com ele, e ele ampliou a Igreja construindo capelas laterais, uma delas dedicada a S. João Batista, seu padroeiro pelo nome. Já não havia bailes em Ars há décadas, mas como um lembrete firme e direto, o Santo mandou que escrevessem sobre a imagem do Precursor: "Sua cabeça foi o preço de uma dança".

Queridos amigos, desculpem ter-me alongado tanto, mas quando vemos a morte de S. João Batista vemos essa capacidade, no caso mal usada, da mulher em conduzir o homem. Herodíades e Salomé levam Herodes (imaturo e inconsequente como a maioria dos homens... oferecer a metade do Reino!!!! só alguém extremamente imaturo faria uma promessa dessa!) a ordenar a morte de S. João.

Mulheres! Queridas mulheres! Se no matrimônio o homem é a cabeça, vocês são o cérebro! Usem dessa capacidade que Deus lhes deu de conduzir seus maridos para o céu! Com seu jeito, com suas doces palavras, e até com suas brigas façam de seus maridos verdadeiros santos! Muito depende de vocês! Não lhes ponho com essas palavras um peso, ao contrário, recordo-lhes esse mistério que Deus infundiu em seus corações. Foram as ações e as palavras de duas Mulheres que levaram a humanidade para a desgraça e para a graça. Diante de cada mulher estão Eva e Maria como opções de vida e de influência.

Escolham Maria! Entreguem-se a Ela. E através de vocês irão para Ela seus filhos e seus maridos (que às vezes vocês vão contar no número dos filhos...). Não é um peso! É um dom. Mais que dom é vontade de Deus e de Maria.

A salvação da humanidade não se dará sem a salvação em primeiro lugar das mulheres. O atual feminismo propõe que a mulher é mais mulher quanto mais erros dos homens comete. O feminismo na verdade ensina que a mulher precisa ser como um homem, no fundo é essa ideia.

Não! Sejam mulheres como Maria. Façam de suas filhinhas novas Marias. E o caminho para o Reino de Maria se tornará mais visível, mais possível, mais real.

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