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Mostrando postagens de junho, 2020

DORMIA

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Dentre vários métodos de leitura bíblica há um que nos convida a escolher a "palavra mais forte" num texto do evangelho e refletir pausadamente sobre ela. Penso que no caso de hoje, concordaríamos que essa palavra seria esse "dormia" de Jesus. O Evangelista chega a dizer que as ondas cobriam o barco! E Jesus dormia. Esse sono do Senhor é um testemunho da sua confiança em Deus. Em saber-se guardado por "aquele que não dorme nem cochila, o Guarda de Israel". Jesus não é alheio às dificuldades, mesmo às suas próprias, causadas pelos males no coração dos homens, mas conhece nelas a mão amorosa do Pai que O conduz, protege e ampara. Que mesmo que a maldade dos homens, infinitamente pior que as fúrias da natureza, o leve à cruz, ali também estará o Pai. Que o Seu "abandono" é ao mesmo tempo "presença". Nosso Senhor devia admirar o sono de S. José. Em momentos cruciais da sua vida, marcados pela dúvida e pelo temor, S. José dorme. Dorme

PAPA

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Num de seus sermões, Santo Agostinho frisa bem a diferença sobre a oração relacionada àqueles que já partiram deste mundo, distinguindo os mártires dos demais fiéis. O Santo ensina que rezamos pelos  fiéis que já partiram deste mundo; quanto aos mártires não rezamos por  eles, mas para  eles. Porque aqueles que sofrem o martírio, por isso mesmo, são purificados de toda a culpa e por isso se lhes são abertas imediatamente as portas do Paraíso. Esse mesmo conceito, queridos irmãos, se aplica nesse dia que solenemente celebramos: a Solenidade de S. Pedro e S. Paulo, e por conseqüência o dia do Papa. A Antiga Roma foi fundada, segundo uma lenda, por dois irmãos: Rômulo e Remo. A Nova Roma, a Roma Eterna, é também ela fundada por dois irmãos: Pedro e Paulo, irmãos no apostolado. Os primeiros encontravam a sua força no leite de uma loba que os alimentava, estes encontraram sua força no Sangue de Cristo por eles derramado, a eles dado como Bebida e com eles vertido na hora de seus mart

DO QUÊ?

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Já passaram algumas décadas desse fato, mas sempre me lembro dele no dia de hoje.  Estava numa igreja terminando os preparativos para uma concelebração em honra do então Bem-aventurado Josemaría Escrivá. Até que dei-me conta que não havia uma imagem dele. Procurei uma senhora e pedi que providenciasse imediatamente um quadro para que o puséssemos junto do altar. Poucos minutos chegava o quadro e enquanto arrumava-o no presbitério, uma outra senhora, que não conhecia S. Josemaría perguntou-me: "Quem é esse padre?". "É o beato Josemaría Escrivá, fundador do Opus Dei", respondi. A senhorinha ficou apenas com a minha primeira palavra e me perguntou o que era um beato. Tentando abstrair toda teologia que pudesse ter naquela hora, respondi: "É uma pessoa santa." E ela continuou: "Ah, então é um santo?" Eu devo ter respondido que, de certo modo era (ainda não tinha sido canonizado, mas isso só iria complicar mais a senhorinha...).  Quando p

JAMAIS

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Ao concluir o Sermão da Montanha, Nosso Senhor fala daqueles que, mesmo tendo operado verdadeiros milagres em nome do Senhor, não seriam conhecidos por Ele: "Jamais vos conheci!", dirá o Senhor. Ora, como seria possível que milagres fossem operados, profecias realizadas, demônios exorcizados e os "autores" dessas ações tão santas fossem "desconhecidos" por Jesus? Queridos amigos, os milagres, a pregação, a libertação do mal nos são concedidos por Deus por duas razões: o mérito daquele que pede e a necessidade daquele que deseja a graça. Sendo, por Sua infinita caridade, o segundo mais importante que o primeiro. De modo que, mesmo pessoas indignas podem alcançar graças para os outros.  Isso acontece de forma especialíssima nos Sacramentos. Como seria bom que todos aqueles que ministram os Sacramentos fossem colunas de santidade. Mas ainda que não sejam, a graça sacramental é concedida aos fiéis independente do ministro; tal como o ouro não perde

JOÃO

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Conta-se que quando S. Zacarias percebeu que S. Izabel estava para dar à luz, acendeu uma fogueira para que servisse de sinal aos amigos e vizinhos que o menino estava para nascer. Ontem ao cair da tarde, peguei uns gravetos e fiz uma mini fogueira. Abençoei o fogo, com a fórmula própria da fogueira de S. João,  e diante dele rezei as vésperas. Embora tentasse fazer com que coração e voz concordassem, e por mais que tenha acendido uma fogueira e não um balão, uma música não saía da minha cabeça:  O balão vai subindo Vem caindo a garoa O céu é tão lindo A noite é tão boa São João! São João Acende a fogueira Do meu coração Num dado momento, chegando às preces, resolvi fazer dessa música a minha oração. E compreendi que devia pedir a S. João que realmente acendesse uma fogueira em meu coração. Mas que fogueira seria essa? Bem, olhando para a admirável figura dessa criança hoje nascida penso que três serão os materiais dessa fogueira. Primeiro a intemperança,

PORTA

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Tudo o que disse Nosso Senhor é importantíssimo para a nossa salvação. Cristo é misericordioso e deseja a nossa salvação geralmente mais do que nós mesmos a desejamos... Mas há um contexto geral das palavras de Nosso Senhor e este aparece no Santo Evangelho de hoje: uma porta estreita para a salvação  versus uma porta larga para a perdição. Já o primeiro Salmo nos recorda os dois caminhos que se abrem diante de cada homem, e Nosso Senhor hoje nos ensina que não são apenas dois caminhos, mas dois destinos. Aqueles que escolherem o caminho de Nosso Senhor, por causa d'Ele, passarão por grandes dificuldades. Mas encontrarão já aqui a alegria que só Cristo nos dá e que não é incompatível com a cruz, ao contrário, tem nela as suas raízes. Mas há um outro caminho, uma outra porta. Este convidativo, largo, aparentemente cheio de alegria, prosperidade e contentamento, mas que consiste em fugir de Deus durante a nossa vida. E a preencher o espaço infinito de Deus que temos em nossa a

JULGAR

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No Santo Evangelho de hoje, Nosso Senhor nos alerta sobre o vício de julgar os outros. O Apóstolo Santiago nos exorta de forma dura: "Há um só Legislador e um só Juiz. Quem és tu para julgar o teu irmão?" O costume de julgar os irmãos, que afeta a grande maioria de nós, traz muitos males para nossa alma. Diminui ou mata em nós a caridade para com a pessoa, uma vez que a consideramos culpadas de muitas faltas, e muitas delas em relação a nós mesmos. Aumenta a soberba, porque nos faz considerar que uma ofensa feita contra nós, tem, praticamente, o mesmo peso de um pecado mortal. Nos torna incapazes de desculpar e perdoar. A desculpa é quando, reconhecemos que houve uma falta, mas pensamos que quem a cometeu não teve culpa, por falta de intenção ou de conhecimento. O perdão é quando reconhecemos que houve uma falta, mas a anulamos dentro de nós, sem nos importarmos com o mal cometido e buscando tratar os ofensores como se nada houvesse. Por fim, aumenta em nós a pre

TEMEI

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Queridos amigos, Nosso Senhor nos ama infinitamente. O seu Coração que olhamos com tanto mais afeto nesse seu mês é, como rezamos na Ladainha, Fornalha ardente de Caridade. Cristo é Pontífice, Sacerdote, na ordem de Melquisedec. O Seu Sacerdócio não Lhe vêm por uma escolha humana, mas por uma Unção Espiritual. O nome desse misterioso personagem - Melquisedec - também traz em si um mistério, porque pode ser traduzido de duas formas: Melech Shalom ou Melech Tsedecah, isto é: o primeiro Rei da Paz e o segundo: Rei da Justiça. A justiça humana nos amedronta, porque é cheia de erros, equívocos, mentiras e mesmo corrução. Mas a justiça de Deus é ao mesmo tempo paz. Não se pode conceber um Deus "bipolar" ora justo, ora misericordioso. Ou um Deus fraco, cuja misericórdia na verdade é uma fraqueza. Em Deus não há contraposição, nem sobreposição entre justiça e misericórdia. Em Cristo encontramos ao mesmo tempo Salvador e Juiz. Mais ainda, um juiz que, sem nenhum merecimento n

VINDE

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Basílica do Sagrado Coração em Montmartre, Paris Há em Paris um monte que ficou conhecido como Monte do Mártir, Montmartre , porque ali foi degolado S. Dionísio e dali caminhou carregando a própria cabeça por seis quilômetros, pregando sobre a necessidade de que os pagãos se convertessem, até chegar ao lugar de sua sepultura. Ali, no século XIX, foi levantada uma das mais belas igrejas do mundo, o Sacre-Coeur , o Sagrado Coração de Montmartre. No Altar principal há um belíssimo mosaico que representa a Nosso Senhor de braços abertos rodeados pela Virgem Maria, Santos, Bispos e Papas que lhe apresentam a Igreja erigida em sua honra, como um modo de reparar as blasfêmias e pecados cometidos a partir da Revolução Francesa. O Senhor de braços abertos... Vinde. Dentre os modos que a iconografia sagrada têm de representar o Sagrado Coração, devo dizer que este é o que mais me comove. Um Deus que de braços abertos nos mostra seu coração. Seus braços abertos para nós. Seu coração feri

REFLETINDO SOBRE NOSSA REALIDADE

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Nossa Senhora, Refúgio dos Pecadores Queridos amigos, hoje gostaria de refletir com vocês sobre coisas que temos vivido e quem têm sido inculcadas em nossas mentes, muitas vezes com doses leves, de modo que sem perceber começamos a pensar de um modo oposto à mensagem do Evangelho. A primeira coisa que gostaria de refletir com vocês é sobre uma realidade chamada tribalismo. Consiste, latu sensu , na idéia de que o ser humano ideal, correto e modelo para todos é o índio e, por conseqüência a sociedade ideal é a sociedade indígena. O índio é apresentado como modelo de relacionamento com a natureza, que para ele assume um caráter pessoal e divino e sua sociedade igualitária e sem posses pessoais é algo que precisaria ser almejado por nós. Ao mesmo tempo, também, se pensa que esse “ bon sauvage ” é corrompido ao entrar em contacto com a sociedade tal como a compreendemos. De modo que todos nascem bons, sendo corrompidos pelo meio em que vivem, especialmente a sociedade ocidental e

RECOMPENSA

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S. Teresa de Ávila Queremos ser santos ou ser adestrados? A santidade baseia-se no amor a Deus. O adestramento, tal como com animais, se baseia na recompensa/castigo. Coisas boas: recompensa. Coisas ruins: castigo. A santidade vai além da recompensa, ela se firma no amor ao Amado. Quantas vezes, queridos amigos, estamos mais preocupados com o fogo do inferno do que com a fornalha ardente de caridade que é o Coração de Jesus. Eles já receberam a sua recompensa... Assim fala Nosso Senhor sobre aqueles que fazem o bem com a intenção de serem vistos. Essa é a recompensa: são vistos, elogiados... Mas aquele que faz o bem sem ser visto, recebe uma recompensa de Deus, mas Nosso Senhor não diz qual é. Porque é Ele mesmo. Queridos amigos, queria terminar com um poema de S. Teresa. Já a transcrevi outras vezes. Se você já a conhece, tem a oportunidade de compreendê-la melhor. Caso não conheça, veja ali a essência da santidade: Não me move, meu Deus, para querer-te O céu que me

INIMIGOS

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Conta-se de um homem que prestes a morrer dizia: "Agradeço por deixar esse mundo sem ter um só inimigo!" E as pessoas que ouviram disseram: "Oh! Como o senhor deve ser caridoso!" E ele respondeu: "Não sou!". "Mas disse que não tem inimigos!", disseram-lhe. E ele quase como suas últimas palavras disse: "Matei a todos!". Talvez a maior exigência do Evangelho seja exatamente o modo como devemos tratar os nossos inimigos. Para que possamos refletir corretamente, precisamos pensar quem são nossos inimigos? Geralmente diremos que não temos. Mas temos pessoas que evitamos, que não queremos próximos de nós, que "não nos descem"... São, na verdade, nossos inimigos. São inimigos porque não os amamos e, geralmente, não queremos amar. Ou realmente nos fizeram mal. Mas quando o Senhor nos manda amar os nossos inimigos, pode nos parecer que Ele está do lado deles, e que teremos que ficar à mercê deles. Mas não é bem assim. O ódio que

800

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Queridos amigos, celebramos hoje o dia de nosso amadíssimo Santo Antônio. Todos sabemos que o grande santo "italiano" na verdade é português, nascido com o nome de Fernando de Bulhões. Sentindo o chamado divino, Fernando ingressa no Convento Agostiniano de Lisboa, sua cidade natal. Talvez pela constante presença de parentes e amigos que lhe impediam dedicar-se à oração e ao estudo como desejava, pediu transferência para Coimbra, para o convento de Santa Cruz. Nessa época, chegavam a Portugal os primeiros franciscanos que se instalaram próximo do convento onde estava Fernando, em Santo Antonio dos Olivais. O conventinho franciscano era dedicado ao grande padre do deserto chamado Antonio, ou Antão. Pouco depois cinco frades enviados como missionários ao Marrocos: Vital, Berardo e Otão que eram sacerdotes, Pedro que era diácono, Acúrsio e Adjuto que eram leigos. No caminho passam por Coimbra e conversam bastante com Fernando sobre o desejo de levar o Evangelho de Cristo par

SIMPLES

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Santo Elias, Basílica de S. Pedro no Vaticano Há na Sagrada Escritura a grande figura profética que se manifesta em dois homens: Elias e Eliseu. São dois profetas, mas movidos pela mesma força espiritual que o primeiro comunicou ao segundo. Pode-se falar do ciclo do profeta Elias e do ciclo do profeta Eliseu. Em ambos encontramos uma referência à uma das maiores marcas de Deus: a simplicidade. No ciclo de Elias há a visita de Deus no monte, onde, nem no vento, nem no terramoto, nem no fogo - todos elementos estrondosos e chamativos, o Profeta reconhece a presença do Senhor. Mas a percebe na brisa suave. No ciclo de Eliseu a simplicidade de Deus escandaliza o Sírio Naamã, que esperava praticamente um show de pirotecnia espiritual , e é surpreendido pelo recado que o profeta lhe manda lavar-se no rio Jordão... A simplicidade é o selo de Deus. ainda quando age de forma extraordinária, Ele é simples e escolhe os simples. Para as grandes aparições marianas Deus escolheu crianç

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Custódia de Toledo, Espanha Quando Deus se manifesta a Jó, e expõe a ele a sua grandeza, a sua sabedoria, a sua providência, o seu amor, o Jó compreende que falou demais e que diante de tão alto mistério só lhe restava pôr a mão sobre a boca e... silenciar. É esse o sentimento que experimento e, tenho certeza que tantos outros experimentam, na solenidade hodierna. O que dizer? Se a Encarnação acontecida uma só vez no seio da Virgem já é um auge de amor e rebaixamento do Verbo, quanto mais a diária e mais que diária Transubstanciação ocorrida nas mãos dos sacerdotes. Talvez por isso, o grande Santo Tomás, propositalmente ou não, manifesta a admiração do mistério eucarístico utilizando-se da interjeição "Oh" nos hinos que compôs para esse dia. O Sacrum convivium... O Salutaris Hostia... O res mirabilis... Oh, Sagrado Banquete... Oh, Hóstia de Salvação... Oh, coisa admirável... Oh... A compreensão, enquanto possa a debilidade humana, de tão grande sacra

SOZINHO

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"Só eu restei..." Assim diz o Profeta Elias diante dos 450 profetas de Baal. Quantas vezes também nos sentimos assim! Como é sofrido perceber a força do mal, mais ainda, sentir em nós essa força. O mal tem o poder de nos fazer sentir a solidão. São tantas as vozes contra, é tanta violência contra, que não conseguimos passar além. Estamos sós. Mas não é bem assim. Elias teve Deus, que nunca abandona. E Deus é mais que os 450 profetas. Deus é mais que o rei apóstata. De fato essa solidão de quem sofre por Deus se converte na solidão de quem sofre com Deus, e com Santa Faustina podemos dizer: "ó solidão, momentos da mais elevada Companhia!" Queridos amigos, a mão de Deus não está mudada. Ele está conosco. Se é possível, Ele está mais conosco quando todos nos faltam.

VAI

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S. José de Anchieta, enquanto era cativo dos índios escreve o poema à Virgem Maria na praia de Iperoig "Olá! Bom dia. Então, decidi uma coisa: você vai para o Brasil. Na verdade, eu estou dizendo que você vai, não sei se você vai chegar.  Como você sabe serão meses no oceano, onde além de perigos naturais, como tempestades, há ainda os piratas que, de modo geral, são protestantes. Caso eles interceptem seu navio, pode começar a fazer sua contagem regressiva para a eternidade. Se você não pegar uma doença no navio, se o navio não naufragar e nem for atacado por piratas, muito provavelmente você chega no Brasil. Lá você terá muitas novidades: há doenças que você nunca imaginou, há o ódio dos senhores de terra, porque somos contra a escravidão dos índios, há o ódio dos índios que acham que estamos do lado dos senhores de terra... mas fique tranquilo. Não são todos os índios que não gostam da gente. Há alguns que gostam muito de nós, especialmente se estivermos bem te