REFLETINDO SOBRE NOSSA REALIDADE

Nossa Senhora, Refúgio dos Pecadores

Queridos amigos, hoje gostaria de refletir com vocês sobre coisas que temos vivido e quem têm sido inculcadas em nossas mentes, muitas vezes com doses leves, de modo que sem perceber começamos a pensar de um modo oposto à mensagem do Evangelho.
A primeira coisa que gostaria de refletir com vocês é sobre uma realidade chamada tribalismo. Consiste, latu sensu, na idéia de que o ser humano ideal, correto e modelo para todos é o índio e, por conseqüência a sociedade ideal é a sociedade indígena. O índio é apresentado como modelo de relacionamento com a natureza, que para ele assume um caráter pessoal e divino e sua sociedade igualitária e sem posses pessoais é algo que precisaria ser almejado por nós.
Ao mesmo tempo, também, se pensa que esse “bon sauvage” é corrompido ao entrar em contacto com a sociedade tal como a compreendemos. De modo que todos nascem bons, sendo corrompidos pelo meio em que vivem, especialmente a sociedade ocidental e cristã onde valores como a autoridade, a propriedade e a ordem estão em grande conta.
Antes de tudo, é preciso dizer que estou abordando por um viés religioso, e por isso, a primeira coisa que precisamos ter em conta é que no coração de todo homem há um desejo profundo de Deus, que só se preenche com o conhecimento daqu’Ele Deus encarnado e revelado por Jesus Cristo, nosso único Salvador. Cristo ordenou a seus apóstolos que pregassem o Evangelho a toda a criatura, o que sempre resultaria no abandono dos falsos deuses e das falsas religiões. Isso não é uma agressão, ao contrário, é dar à pessoa o que ela deseja, ainda que sem o saber.
Por isso, trazer o Evangelho de Cristo para os povos indígenas e dar-lhes a oportunidade de conversão é uma obra de caridade que impulsionou milhares a atravessarem o Atlântico para que nessas terras todo joelho se dobrasse ao nome de Jesus.
Como todo empreendimento humano certamente houve falhas, abusos e mesmo crimes. Mas, repito, dar aos indígenas o Evangelho era ir ao encontro do maior desejo de seus corações.
O encontro com o Evangelho certamente leva a um shock onde certas práticas podem ser mantidas, outras modificadas e outras deverão ser extirpadas. A sabedoria e paciência dos autênticos missionários é algo de grandioso e inspirador para as atuais gerações que fazem da missão uma simples convivência e luta por valores como demarcação de terras.
Sabemos, por exemplo, que muitos índios (tal como muitos povos da antiga europa) eram povos nômades. Seu relacionamento com a terra era simplesmente usar até saturar e depois buscar outra terra. Os beneditinos na antiga Europa e os jesuítas na América ao trazerem o Evangelho de certo modo trouxeram também a enxada. Ou seja, o cultivo responsável da terra, favorecendo uma certa estabilidade dos povos.
Livraram também os povos de superstições que lhes causavam muito mais medo que devoção. Propunha-lhes um Deus que os amou por primeiro e que enviou seu Filho como vítima propiciatória. Um Deus sumamente perfeito em que não há qualquer sombra de maldade ou vício. Diferente dos deuses adúlteros, vingativos, irascíveis do paganismo em qualquer lugar onde se apresentasse. O fato de que se falasse do inferno é também uma obra de caridade. Ou não é caridade alertar sobre um perigo possível e fatal?
À teoria do “bon sauvage” a Igreja apresenta primeiro a realidade de que a corrupção não é fruto da sociedade, mas de nossa própria natureza decaída que necessita, sim, ser elevada pela graça divina dada a nós gratuitamente através dos sacramentos e também alcançada de Deus mediante a ascese. O meio, a sociedade, exerce uma influência incontestável, mas não absoluta, cabendo ao ser humano escolhas que pode e deve tomar pela liberdade que Deus conferiu-lhe para fazer o bem.
Junto com o tribalismo apresenta-se o ecologismo que coloca a natureza sobre o próprio homem. Quanto à natureza ela é um dom de Deus ao homem. Cabe ao homem “encher a terra e submetê-la”. O homem não cultua a natureza, nem suas forças, como centelhas da divindade (o que seria o panteísmo, ou seja, crer que Deus estaria como que dissolvido na criação, de modo que, cada criatura traria em si um “ser divino”). Mas deve dominá-la com sabedoria e com técnica. Deus criou o homem ut operaretur, isto é, para que trabalhasse a natureza.
Não faz parte desse trabalho, destruir por destruir. Mas utilizar tudo de modo que, como obra-prima da criação e criatura mais importante, o homem seja senhor da natureza, ora usando, ora cuidando. Ora colhendo para comer, ora semeando para crescer. O ecologismo levado ao extremo, como temos visto, trata o homem que come um frango como se fosse um fratricida. Ninguém seria contra a despoluição da Baía de Guanabara, cuidar do mundo é o grande trabalho que Deus confiou ao homem. Mas é contra a vontade de Deus compreender o homem apenas como um ser a mais no grande ser que seria a Mãe Terra, Gaia, onde todos são iguais e à qual todos devem se submeter como à uma divindade.
Dento desse domínio sobre a terra, surge a necessidade da propriedade. O homem organiza-se em pequenas sociedades, que são suas famílias. Essa sociedade familiar é destinada à fazer continuar o gênero humano e a cuidar um dos outros. E isso se desenvolve num lugar específico, de acordo com a necessidade de cada um. O direito à propriedade não é uma corrupção da sociedade, mas uma exigência de sua ordem. Que as propriedades sejam diferentes, umas maiores outras menores, não é, per si, uma injustiça: alguém que cultiva uma pequena horta necessita menos de quem cria vacas... Um trabalhador solteiro da indústria da computação não necessita morar numa fazenda...
E todos têm o direito à propriedade. De modo que aqueles que não a têm, são violados em seus direitos. De modo que a solução para aqueles que não tem propriedades não é retirar as propriedades daqueles que as têm tornando a todos miseráveis, mas em favorecer técnica, econômica e culturalmente a todos de modo que, quem não têm, encontre meios de adquirir.
O fato de que todos os seres humanos tenham os mesmos direitos não significa que todos sejam iguais. A própria natureza, endeusada por muitos, servindo aos desígnios de Deus torna os seres humanos diferentes: homens e mulheres, cultos e não cultos, trabalhadores manuais e intelectuais, fortes e fracos não são ofensas, mas fruto da legítima diferença que há entre os seres humanos. E cada um serve e é servido pelo outro de acordo com sua capacidade. Assim, um mecânico que talvez não tenha recebido tanta instrução, conserta o carro do médico. E o médico atende o mecânico quando ele não se sentir bem.
A igualdade dos seres humanos é uma igualdade em dignidade. Que a Igreja proclama como conseqüência de que todos foram criados à imagem e semelhança de Deus. Assim o Rei e o servo têm a mesma dignidade, mas por legítimas diferenças um está sobre o outro e isso para que o maior cuide e proteja o menor.
Muitos santos, por exemplo, consideravam que Deus concede mais bens materiais àqueles que são capazes de melhor administrá-los em favor dos mais necessitados. Assim agiram tantos reis e rainhas santos através de suas ofertas aos pobres e à Igreja.
A igualdade entre homens e mulheres está no fato de que ambos foram criados por Deus à sua imagem e semelhança. As diferenças que existem não podem ser ignoradas porque são, no mais profundo de sua razão, um complemento entre os dois. E essas diferenças devem ser valorizadas não como se aumentassem a dignidade de um sobre o outro, mas como modo de mútua colaboração. Quanto mais diferentes, tanto mais são capazes de fazer o bem ao outro.
O igualitarismo que julga toda diferença como algo a ser destruído é imoral e contra a própria natureza que torna os homens diferentes entre si. Assim, a sociedade moderna que numa hora prega o respeito absoluto pela natureza colocando-a em patamar divino, no segundo seguinte, despreza a mesma natureza dizendo que todos os seres humanos têm que ser iguais e que toda diferença é injusta. Inclusive a diferença mais básica da natureza que é a de macho e fêmea.
A sexualidade deixa de ser um dom recebido de Deus e da própria natureza, vinculada definitiva e naturalmente à continuação da própria espécie humana para ser uma decisão, ou várias decisões, tomadas pelo indivíduo durante sua vida. A sexualidade e sua vivência deixam de ser dom a ser cuidado, tal como a natureza, para ser propriedade que se usa da forma que se quer, irresponsavelmente. Para justificar e manter isso, criam-se novas expressões, novas palavras, novos artigos definidos e indefinidos, ou seja uma nova Babel. Dirigir-se à uma pessoa nascida mulher como “senhora”, hoje pode ser causa de prisão.
E essa confusão é oferecida às crianças e adolescentes que, por definição, já são naturalmente confusos. Gerando danos físicos e psicológicos que são escondidos, tal como o altíssimo nível de suicídios de pessoas ditas transgêneros. Ou, se é dito, a culpa do suicídio não é porque a pessoa jamais foi capaz de amar o que ela realmente era, mas pela intolerância da sociedade. Mas que sociedade? Há décadas a sociedade vê e aplaude o que hoje se chama de “trans” em espetáculos, shows de TV, programas de rádio... As Tv’s, a internet, as mídias sociais estão repletas de panegíricos à essas pessoas, apresentando-as como praticamente sobre-humanos...
O igualitarismo deixando o indivíduo em plena confusão, dirige-se então à sociedade, colocando-os todos iguais, negando toda e qualquer autoridade e apresentando-a sempre como algo digno de desconfiança. Assim os filhos devem se considerar oprimidos pelos pais que são “proibidos de proibir”. Os pais perdem o direito de educar seus filhos, tendo-os que confiá-los ao Estado que os doutrinará nesses princípios. Os empregados devem entender que seu patrão é um inimigo, e os súditos serão chamados a ver o chefe da nação – se este estiver fora desse establishment – com desconfiança e mesmo ódio.
Na Igreja também ocorre o mesmo fenômeno. A composição tradicional da Igreja como Igreja Docente (o Papa, os Bispos e os Padres) e Igreja Discente (os fiéis leigos) se torna “injusta e opressora”, usa-se a imagem da pirâmide para mostrar que poucos estão acima de muitos e os oprimem. E pede-se o “compartilhamento” das autoridades. De modo que o Papa deve compartilhar sua autoridade com os Bispos, os Bispos com os Padres e os Padres com os leigos. E como às mulheres não é conferida a ordem sacramental, e portanto, não fazem parte da hierarquia, são elas as mais excluídas desse “sistema opressor”. Então, como o clero é uma estrutura injusta, a solução apontada é, pasmem, clericalizar todo mundo.
Desse modo, valoriza-se o leigo não reforçando seu valor no meio do mundo, mas tornando-o clérigo, geralmente diácono. E a mulher valoriza-se não como apóstola de Cristo na sociedade especialmente em casa, mas “clericalizando-a” o tanto quanto a criatividade o permitir. Já temos mulheres “vigário-geral” no mundo... já se perdeu o limite entre criatividade e... insanidade.
Por qual razão quis hoje trazer essas reflexões?
S. Pio X dizia que o pastor que não mata o lobo, trai o rebanho. Certa vez uma pessoa não crente visitou o Papa e disse que, mesmo sendo não crente, ao ver S. Pio X, teve a impressão de estar diante daquele anjo que com uma espada flamejante guardava o paraíso terrestre. A força, virilidade e santidade desse Papa são realmente impressionantes.
Foi S. Pio X que condenou o modernismo, que não é exatamente uma heresia, mas a junção de todas.  Mais do que condenar, o Santo Papa, identificou, denunciou, combateu e ofereceu o remédio para esse mal. Porém suas santas atitudes foram lentamente sendo abandonadas nos anos seguintes. 
Sendo o discurso modernista primeiramente dúbio, dá a possibilidade de ser entendido de uma forma correta ou de uma forma errada. É dito geralmente de forma mansa, aproveitando-se de ocasiões extremas e geralmente indicando que a destruição do que um dia foi a cristandade é a solução para os problemas atuais. Leva a odiar e envergonha-se de um passado que, mesmo tendo suas sombras, teve muito mais glória e honra do que os dias atuais. 
O modernismo gera expressões que ninguém consegue definir, que não são aplicáveis à realidade, mas que dão um ar de sabedoria e refinamento. Por exemplo o que é “ser pastoral”, o que significa “liberdade religiosa”, onde existe um “estado laico”, qual o sentido da expressão “igreja em saída”?
O tribalismo, o igualitarismo, a ideologia de gênero... tudo encontra apoio na própria Igreja se ela não seguir o que foi indicado por esse Papa, Pio X.
Esse discurso já caiu em nossas mentes. Fomos formados assim em nossas escolas, faculdades e mesmo nas homilias de certas missas. Sem perceber pensamos como tribalistas, apoiamos a ideologia de gênero (afinal eles se amam, ooohhhh) e todas as outras atrocidades fruto das Revoluções do diabo e dos homens contra Deus.
Mais do que nunca precisamos de conversão.
Mas tudo ainda não está perdido.
Porque o Coração de Maria ainda não triunfou.
As coisas vão piorar. E muito.
Mas como disse a Virgem em Rue du Bac a S. Catarina Labouré: “quando chegar o pior, quando tudo for mal, Eu estarei lá” e unindo essa aparição à de Fátima: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”

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