TEMEI

Queridos amigos, Nosso Senhor nos ama infinitamente. O seu Coração que olhamos com tanto mais afeto nesse seu mês é, como rezamos na Ladainha, Fornalha ardente de Caridade.
Cristo é Pontífice, Sacerdote, na ordem de Melquisedec. O Seu Sacerdócio não Lhe vêm por uma escolha humana, mas por uma Unção Espiritual. O nome desse misterioso personagem - Melquisedec - também traz em si um mistério, porque pode ser traduzido de duas formas: Melech Shalom ou Melech Tsedecah, isto é: o primeiro Rei da Paz e o segundo: Rei da Justiça.
A justiça humana nos amedronta, porque é cheia de erros, equívocos, mentiras e mesmo corrução.
Mas a justiça de Deus é ao mesmo tempo paz.
Não se pode conceber um Deus "bipolar" ora justo, ora misericordioso.
Ou um Deus fraco, cuja misericórdia na verdade é uma fraqueza.
Em Deus não há contraposição, nem sobreposição entre justiça e misericórdia.
Em Cristo encontramos ao mesmo tempo Salvador e Juiz. Mais ainda, um juiz que, sem nenhum merecimento nosso, enquanto ainda estávamos mergulhados em nossos crimes, fez-Se Ele mesmo culpado diante do Pai por nós, para que todos os castigos que estavam destinados a nós caíssem sobre Ele, como de fato se fez.
Portanto, o seu juízo sobre nós pesa sobretudo no fato de que se pecamos, se nos condenamos, é absolutamente porque rejeitamos o seu Sacrifício, o seu Amor, a sua Misericórdia. É por rejeitarmos a Misericórdia que somos condenados no Juízo.
E existem três maneiras principais de rejeitarmos a Misericórdia de Deus.
A primeira é quando a julgamos uma fraqueza do Senhor que nos permitiria pecar à vontade, uma vez que sua misericórdia nos perdoará. Chama-se a isso de presunção. É o pecar pensando em confessar-se depois. É usar a Santíssima Misericórdia como um pretexto para nossos crimes.
A segunda é quando consideramos o Juízo um defeito do Senhor. Que aconteça o que acontecer nos condenará. Não somos capazes de arrepender-nos porque já nos julgamos condenados, e se é assim, continuamos pecando já que para nós não haverá misericórdia. É o desespero.
Percebamos que embora sejam um o oposto do outro, o resultado final é sempre o mesmo: lançar-se conscientemente numa vida de pecado, não arrepender-se de verdade.
E a terceira é quando não somos misericordiosos com os nossos irmãos. Frequentemente nos alerta o Senhor que mais misericórdia terá quem mais amar, que a medida que usamos sobre os outros será também usada sobre nós, que somos todos devedores ao caminho do juiz.
É quando invertemos o que foi a grande característica dos santos. A vida dos santos alternava-se entre indulgência e exigência. Com os outros eram indulgentes, ou seja, consideravam as suas fraquezas numa perspectiva de perdão e misericórdia. Mas em relação a si mesmos eram exigentes, tomando inclusive sobre si as fraquezas dos outros e, especialmente através da penitência corporal, tentavam reparar as misérias próprias ou alheias.
No Santo Evangelho de hoje, Nosso Senhor chama-nos a uma confiança infinita para com o Padre Eterno. Mas essa confiança nos conduz ao temor que é, como diz o Espírito Santo, o princípio da sabedoria.
E fala-nos do inferno.
O que é afinal o inferno?
O inferno é um local onde um fogo material queima as almas e, futuramente, os corpos dos condenados. Nenhum sofrimento terreno compara-se ao sofrimento do inferno.
Nosso corpo e nossa alma unida a ele possui grandes limites ao sofrimento. Por exemplo, diante de uma dor muito grande podemos perder os sentidos e desmaiar. Ou ainda podemos literalmente morrer com a dor (alguns médicos julgavam que no infarto o que mata não é ele propriamente, mas que a dor que causa no coração é tão forte que a pessoa não resiste e morre, não sou médico, coloco isso apenas como um exemplo...). E por pior que seja a dor que sentimos nessa vida sabemos que ela pode diminuir, ou que, pelo menos quando morrermos ela cessará.
Mas e o sofrimento no inferno?
Primeiro é um sofrimento no grau mais elevado que se possa imaginar. E ali não teremos desmaios ou morte. Portanto é um sofrimento que jamais acaba ou alivia. Um sofrimento sem esperança. Tal como escreveu Dante à porta do inferno: "Óh, vós todos que entrais aqui, lançai fora toda a esperança!"
O fogo do inferno não é um símbolo, mas uma realidade, infinitamente pior que o fogo comum da terra. Aqueles que tiverem a desventura de morrerem queimados, logo o fogo destrói os nervos e a pessoa já não sente mais a dor do fogo. Todavia no inferno, o corpo estará sujeito ao sofrimento, mas sem os limites naturais que têm, então será um fogo que queima para sempre, sem alívio, sem diminuição, sem esperança de atenuar.
E mais ainda. Nossos corpos naturalmente se acostumam com a dor em certa medida. É o que acontece com certas pessoas que continuam tendo uma dor na mesma intensidade, mas dizem se sentir melhores. Não foi a dor que diminuiu, mas o organismo que se acostumou. No inferno a dor será perene, a alma e o corpo não se acostumarão à ela de modo que possa encontrar ao menos uma certa resiliência, sofrerá muito mais do que pode supor e para sempre.
Por isso, alguns teólogos julgaram que a alma dos condenados simplesmente seriam destruídas por Deus e deixariam de existir. Mas Deus é tão somente criador e não destruidor e jamais destruiria uma obra sua em sua própria essência (à exceção da essência do pão e do vinho na consagração). E se alma cai no inferno não é por culpa ou gosto de Deus, mas por sua insurreição constante à vontade de Deus.
Queridos amigos, suponho não ser assunto o mais agradável.
Mas se Nosso Senhor falou sobre ele, eu, seu pobre ministro, não posso me esquivar e calar sobre um destino no qual caem todos os dias milhões de almas.
A Virgem em Fátima, no dia 13 de julho, mostrou o inferno aos pastorinhos. Nossa Senhora não teve medo de os "traumatizar", não falou apenas, mostrou! E qual foi o resultado disso na alma daquelas crianças: passaram a rezar e a sacrificar-se mais para que menos almas fossem condenadas.
Santa Jacinta Marto, por instrução direta da Virgem ou por seus próprios pensamentos, dizia pouco antes de morrer que viriam muitas modas imodestas, indecentes e que o pecado que mais almas leva ao inferno são os cometidos contra a castidade.
Quantos por medo do que dirão seus "amigos", quantas por medo de perder o seu "amor", relaxam em questões de castidade, cometendo até mesmo pecados mortais. Temem criaturas, mas não temem a Deus.
Quantos se juntam para ver imoralidades, por que temem que possam ser considerados menos homens caso hajam de outra forma, quantos tem medo de desligar a televisão quando aparecem cenas imodestas, quantos satisfazem curiosidades vis nos meios de comunicação modernos, quantas aprendem danças imorais, às vezes desde tenra idade e com a falsa benevolência de seus pais, quantas são vestidas de forma impudica, trajando roupas que são mais maliciosas que a própria nudez!
Temei!
O pecado contra a castidade possui dois elementos que o tornam muito comum, além da própria natureza decaída que todos possuímos: ele tem um "quê" de popular... admira-se quem teve ou tem muitos parceiros, quem viveu várias aventuras, quem tem um corpo mais definido... e também tem um "quê" de anonimato, especialmente através da internet.
"O pecado que mais almas leva ao inferno são os pecados contra a castidade!"
Temei!
Queridos amigos, que o Coração de Jesus nos ensine a amar e temer a Deus e a viver segundo a sua Santíssima Vontade. O Coração de Maria seja para nós refúgio e abrigo nas horas amargas das tentações.

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