PAPA

Num de seus sermões, Santo Agostinho frisa bem a diferença sobre a oração relacionada àqueles que já partiram deste mundo, distinguindo os mártires dos demais fiéis. O Santo ensina que rezamos pelos fiéis que já partiram deste mundo; quanto aos mártires não rezamos por eles, mas para eles. Porque aqueles que sofrem o martírio, por isso mesmo, são purificados de toda a culpa e por isso se lhes são abertas imediatamente as portas do Paraíso.
Esse mesmo conceito, queridos irmãos, se aplica nesse dia que solenemente celebramos: a Solenidade de S. Pedro e S. Paulo, e por conseqüência o dia do Papa.
A Antiga Roma foi fundada, segundo uma lenda, por dois irmãos: Rômulo e Remo. A Nova Roma, a Roma Eterna, é também ela fundada por dois irmãos: Pedro e Paulo, irmãos no apostolado. Os primeiros encontravam a sua força no leite de uma loba que os alimentava, estes encontraram sua força no Sangue de Cristo por eles derramado, a eles dado como Bebida e com eles vertido na hora de seus martírios.
Assim, o centro do cristianismo se tornou aquela cidade evangelizada e na qual foram martirizados o Príncipe dos Apóstolos e o Doutor das Nações. Sendo S. Pedro o primeiro Bispo da Cidade, os seus sucessores ocupariam não apenas uma sede episcopal, mas a sede episcopal do Vigário de Cristo, recebendo também eles, por esse mesmo fato, todas as promessas e todos os poderes que o próprio Cristo concedeu a Pedro.
Mas, por mais que seja alta a dignidade do Papado, de modo geral, o costume da Igreja não foi rezar ao Papa, mas pelo Papa.
Tal como Pedro encarcerado era objeto da oração de toda a Igreja, o Papa também o é. Porque todo Papa é um encarcerado.
Encarcerado nesse mundo, encarcerado em sua própria humanidade decaída, encarcerado em suas limitações.
E a Igreja ora para que Pedro seja livre. Porque somente livre pode governar legitimamente a Igreja, só libertando-se de todas as cadeias visíveis e invisíveis poderá fazer com que sua voz diga em uníssono com a voz de Cristo.
Ao nos mandar rezar pelo Papa, a Igreja nos recorda que os Papas são homens que, revestidos da mais alta dignidade que se possa ter neste mundo, continuam homens, com tentações, com fragilidades espirituais e físicas, são necessitados. E necessitados da nossa oração.
O nosso olhar para o Papa, ao mesmo tempo que devoto e rendidamente obediente, precisa ser também um olhar de misericórdia, porque se mais alta é sua dignidade como Vigário de Cristo, ninguém na terra carrega um peso maior que o que traz aos ombros: a solicitude por toda Igreja.
Sim, queridos amigos, hoje de forma especial não rezamos ao Papa (ainda que seja o único homem que possa ser chamado de Santo já nessa vida), mas rezamos por ele. A facilidade das mídias e muitas vezes alguma manipulação, torna o Papa mais próximo aos fiéis do que seu próprio pároco. Sabemos se espirrou, se tossiu, quem recebeu, o que disse para aquela pessoa, e isso todo dia, toda hora.
Quanto mais perto se está de um balé, tanto mais fácil se percebe os erros das bailarinas. Quanto mais próximos estamos de uma coisa, tanto mais percebemos suas perfeições e imperfeições. Oremos pelo Papa, para que com aqueles altos e baixos próprios dos mesmos S. Pedro e S. Paulo, conduza a Igreja para aquele destino desejado por Nosso Senhor, do qual é Vigário.

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