TRADICIONALISMO "GNÓSTICO"

 

Meus caros amigos,

Vivendo alguns anos com vários fiéis ligados à Tradição da Igreja, vejo-me preocupado com alguns que parecem considerar o conhecimento da crise na Igreja como uma espécie de "gnose", como uma espécie de iluminação intelectual à qual se chega quase que por uma intervenção divina que faz com que o fiel descubra uma realidade obscura, oculta e quase secreta, a qual compartilhará com alguns outros iluminados.

Meus amigos, isso além de muito equivocado é muito preocupante.

A crise pela qual passa a Igreja é evidente. Qualquer pessoa, desde que tenha um mínimo de honestidade intelectual, e simplesmente leia o que os Papas escreveram antes do Concílio e os Papas posteriores escreveram após o Concílio, percebem, sem precisarem de grande preparação ou cultura teológica, que se trata de realidades opostas.

E refiro-me aos documentos pontifícios, porque o que o Concílio Vaticano II e os Papas posteriores fizeram foi exatamente negar os documentos do Magistério anterior. A defininição da Eucaristia, as finalidades do matrimônio, a posição da Igreja perante o mundo, o Ecumenismo e tantos outros ensinamentos tradicionais da Igreja foram claramente negados, contraditos após o Concílio.

E repito isso é evidente.

É a proibição de um fiel ir à uma celebração ecumênica, sob graves penas e, o incentivo aos fiéis de irem às celebrações ecumênicas.

Simples assim.

Não se trata da personalidade dos papas, de uma evolução do pensamento teológico, ou de algo acidental ou simplesmente disciplinar. Falamos de uma proibição, por exemplo sobre o Pontificado de Pio XI, onde um católico sequer estava autorizado a ir à uma celebração ecumênica (que suporia apenas Católicos e protestantes) e o Papa João Paulo II trazendo para a Basílica de Assis os líderes das principais religiões (inclusive idólatras, panteístas, infiéis, xamãs) para que, junto com o Papa que estava no mesmo nível que eles, reunidos em círculo, cada um rezasse a seu "deus", pedindo a paz..

É realmente necessário ser um S. Tomás redivivo para perceber que há uma verdadeira contradição?

E se há a contradição, precisamos necessariamente considerar que todos os Papas anteriores estavam errados ao condenar o ecumenismo, ou que todos os Papas recentes estão em erro ao favorecê-lo.

Ponto.

Por isso, meus amigos, não se trata de questões litúrgicas, de mudanças de calendário, uso ou não do manípulo, poder ou não usar véu. Há algo mais profundo, mas ser profundo não quer dizer que seja menos visível, diria, menos gritante.

Ao contrário. É só ler os documentos e ver que não é possível conciliar boa parte deles, e essa boa parte é o núcleo da doutrina católica.

Entendo, meus amigos, que não precisamos - nem devemos - fazer dessa crise o ar que respiramos. Mas não podemos nos considerar um grupo seleto de grandes intelectuais com uma perspicácia quase de um um agente do serviço secreto americano, só porque vimos que a grama é verde.


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