ESTILO LITERÁRIO ?

 


Diante da notícia de que, pela primeira vez em sua história, o Brasil irá publicar o Missal de acordo com as normas litúrgicas de 1962, naturalmente fazem-se referências às palavras do Papa S. Pio V na Bula Quo Primum Tempore, de 1570. Há quem afirme que esse valorosa empreitada seja, na verdade, um erro, uma ignorância, porque as palavras de S. Pio V em sua Bula seriam na verdade fruto de um estilo literário da época, não devendo ser compreendidas em sentido literal, do qual nunca teriam gozado.

Diante disso, nos perguntamos: as palavras de S. Pio V devem ser entendidas num sentido literal ou não? Recordo-me de que o sucessor de Dom Antônio de Castro Mayer em Campos dizia que “quando o Papa dizia que quem desobedecesse tinha que ser crucificado, esquartejado, enforcado, dilacerado... era apenas um jeito de falar dos papas da época”.

Bem, para começo de conversa, em nenhum momento o Papa manda crucificar, esquartejar ou dilacerar.

Não seria razoável pensar que quando um Papa escreve não esteja influenciado pelo estilo de seu tempo e que, dentro desse estilo, é importante considerar o que realmente está indubitavelmente definido e o que é fruto de um estilo literário. Porém, quando um Papa escrevia um texto, uma Bula, como é o caso, o mais comum era que não se servisse de "estilos literários", mas da forma mais clara e objetiva possível, definisse o que era necessário para a Igreja. Tanto que, quando se pediu a clareza nos documentos do Concílio Vaticano II, aí sim, disseram que os documentos eram "pastorais", outro modo literário.

Muito embora S. Pio V proíba qualquer alteração no Missal que promulgou, compreende-se por simples bom senso que era evidente que uma ou outra coisa, com o passar dos séculos seria alterada, MAS SEM ATINGIR A ESSÊNCIA do Missal. Por exemplo, era natural que fossem acrescentadas festas de santos canonizados após S. Pio V, uma ou outra revisão textual e até mesmo a inserção do nome de S. José no Cânon da Missa.

Podemos dizer que a Missa de S. Pio V teve leves toques até 1962. 

Já em 1965, embora ainda se considerasse a Missa como “a Missa de S. Pio V”, as alterações à que se somaram um tempo de livres “experiências” no campo litúrgico já começavam a alterar o que definimos como essência da Missa. 

A essência da Missa não é difícil de definir, é simplesmente sacrifício.

Exatamente por isso, a Missa promulgada por Paulo VI em 1970, já não era uma legítima variação da Missa de S. Pio V, NUNCA teve essa intenção, mas quis realmente ser uma Missa NOVA. A Missa Nova foi feita para ser uma ceia, alterando a própria essência do que é a Missa. Ora, se uma coisa é mudada em sua essência, simplesmente deixa de ser o que era, para ser outra coisa.

Nesse sentido poderíamos pensar na Missa de S. Pio V até 1962 como uma tora sólida da mais pura madeira (não faltam críticos à reforma da Semana Santa de Pio XII e mesmo à introdução do nome de S. José por João XXIII), mas não se pode negar que é absolutamente fácil reconhecer nela o desenvolvimento orgânico natural do que foi promulgado por S. Pio V em 1570. 

Já a Missa de 1965, que alguns chamam de “missa que não existiu” por ter sido usada no tempo das ditas "experiências" e ter durado apenas cerca de 4 anos, poderia ser comparada à uma madeira onde infelizmente já se detecta a influência de cupim. 

Já a Missa Nova de Paulo VI seria simplesmente um ninho de cupim num resto carcomido de madeira. 

O uso da Missa de S. Pio V, ou ao Missal de 1962 (que é o que é usado pela Fraternidade S. Pio X e que as autoridades romanas concederam aos que fizeram acordos para manter a Liturgia antiga), se dá porque é onde os fiéis do Rito Romano encontram a segurança doutrinal que não existe na Nova Liturgia.

Vejam, eu sou um fiel do Rito Romano. Me apresentam um Missal Novo, mas que além de variar de país para país, possui dezenas de fórmulas que não refletem sempre a doutrina perene da Igreja sobre a Missa, sobre a transubstanciação, sobre o sacerdócio católico, sobre a escatologia etc. Sendo um fiel do Rito Romano, eu não posso simplesmente ir para uma milenar liturgia oriental para não ter que lidar com o problema.

E a forma natural de lidar na Igreja quando uma coisa nova desdiz o que dizia uma coisa antiga sempre aprovada pelos Papas anteriores é que se se fique com o mais antigo. Simples assim.

Não temos nenhum apego ao passado, temos apego à fé. A liturgia tradicional é defendida e celebrada por nós não por ser tradicional, mas Tradicional. Não por ser um conjunto de orações e costumes pitorescos do passado, mas porque essas orações e costumes transmitem a fé de um modo que os novos ritos e orações não apenas não transmitem, mas, tanto pior enfraquecem.

A própria missa nova nunca quis ser uma continuidade orgânica da Missa tradicional, foi ela quem se pôs a romper com aquela liturgia e que se fabricou pelos escritórios e bares romanos com o auxílio de maçons e protestantes. E isso nunca foi escondido, não é teoria da conspiração, os próprios autores assim se referiram em livros, o L’Osservatore Romano publicou a foto dos pastores protestantes que colaboraram na fabricação da Missa Nova com o Papa Paulo VI.

E as traduções que foram feitas não seguiram um caminho muito mais virtuoso.

Por isso os fiéis devem guardar a Missa Tradicional como o mais precioso tesouro, e os sacerdotes a devem poder celebrar para sempre como – sem ser um mero estilo literário – definiu para sempre S. Pio V.

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