VISITAÇÃO DE NOSSA SENHORA

 

Meus caros amigos,

Celebramos hoje a Festa da Visitação da Santíssima Virgem Maria. A ideia do Calendário Romano era como concluir a oitava do Nascimento de S. João Batista com a Festa da Visitação, para recordar a presença de Maria Santíssima junto ao Precursor do Senhor.

Por meio de Maria, por sua Mediação, S. João é santificado no ventre materno o que é manifestado na sua exaltação no seio de sua mãe quando esta escuta a voz da saudação de Maria. Uma Mãe saúda a outra, um Filho santifica o outro.

Sabemos que a ideia do serviço (e talvez para nós, brasileiros, isso seja ainda mais acentuado) é uma ideia de diminuição. Tanto que costumamos nos referir aos que trabalham nas coisas mais simples como “pessoas humildes”. A humildade, porém, não é uma condição imposta, mas uma virtude a se adquirir. É semelhante à pobreza.

Quando falamos em pobreza precisamos distinguir a situação financeira difícil e o coração absolutamente desapegado dos bens materiais, o que nem sempre coincide. O estar numa “condição humilde” não significa ter “um coração humilde”. Lembramos por exemplo, quando S. Bento, conhecendo os pensamentos, repreende um monge que ocupando um ofício humilde: segurar a vela para que o Santo pudesse ver a comida, se vangloriava de seus títulos e honras mundanas, considerando-se humilhado nesse serviço.

Mas, em Nossa Senhora a pobreza material e a pobreza virtuosa, a “humildade condicional” e a humildade virtuosa se encontram numa perfeita harmonia. A pobreza e a humilhação que A acompanharão por toda a vida, era como que amortecidas pelo Seu Imaculado Coração pobre e humilde.

Mas há três coisas que o Evangelho de S. Lucas fala ao narrar a ida de Nossa Senhora para visitar sua prima: Ela “Levantou-se” e “foi apressadamente”,  “às montanhas”.

Levantar em grego é o verbo que também se usa para se referir a ressuscitar. O verdadeiro serviço é sempre um ressuscitar. Servir é sempre deixar de “jazer nas trevas e nas sombras da morte”, como diz Zacarias em seu cântico. Servir é sempre a morte de si mesmo para a vida do outro. S. Paulo definirá o “serviço apostólico” como “morte para nós e vida para vós”. Porque o serviço cristão é primariamente salvar, redimir com Cristo, com o Sangue de Cristo. Por isso, o que fez Nossa Senhora nos meses em que esteve com Isabel não se menciona, nem tampouco se fala da sua presença quando Zacarias recobrava a fala. O “serviço” de Maria foi levar Cristo para Izabel e para a santificação de S. João no ventre materno.

Essa mentalidade é salutar para os religiosos de vida ativa ou para os seculares, mesmo leigos, há um núcleo central do seu serviço chamado Nosso Senhor Jesus Cristo, o resto é um mero pretexto para O dar aos demais. A freira que trabalha num hospital, o frade que é professor, o secular em seu trabalho e em sua família só “servem” (em todos os sentidos da palavra) se levam Cristo e para levar a Cristo em nosso corpo, é necessário portar a sua morte, para por ela, dar a vida.

Depois S. Lucas fala que Maria foi “apressadamente”. A pressão não é inimiga da perfeição, mas é aliada do amor. O amor dá asas, como ensina um Padre da Igreja. O amor deixa tudo leve, e, portanto, ágil. Há quem pense numa espécie de lerdeza como aliada do amor e da devoção, então tudo deve ser feito devagar, demoradamente. E quanto mais demorado, mais amor, nesse pensamento. Pensamento equivocado. A vida de oração deve ser breve, particularmente a oração em comum. As orações faladas como o Padre nosso e a Avé Maria, devem ser ritmadas, quase como os soldados que falam seus lemas de forma cadenciada enquanto correm. E ainda mais a caridade que se manifesta no serviço ao próximo; pensar é importante, mas pensar demais geralmente não ajuda muito. Às vezes a pessoa pede uma esmola para almoçar e o nosso pensamento precisa ser tão meticuloso que quando decidimos ajudar, a pessoa já precisa almoçar e jantar. Santa Teresinha dizia que "quem ama não sabe calcular". Pode ajudar em nossa meditação hoje, pensarmos em Nossa Senhora com pressa. Tão diferente do que talvez considerássemos uma equivocada perfeição... Pressa porque ama.

E, o último ponto é que a Santíssima Virgem vá às montanhas. O verdadeiro serviço evangélico é “levantar-se”, “apressadamente”, e “subir a montanha”. Subir a montanha, na Sagrada Escritura é um sinônimo de encontrar-se com Deus: Moisés, Elias, Eliseu e o próprio Nosso Senhor têm nessa expressão o símbolo do encontrar-se com Deus. O serviço cristão, ao mesmo tempo que é levar Deus é encontrar-se com Ele naquele a quem se serve.

Essa identificação de quem precisa ser servido com o próprio Jesus nos é ensinada por Ele mesmo, dentre outros lugares, no capítulo XXV de S. Mateus: “foi a Mim que o fizestes”. A caridade cristã da qual a Santíssima Virgem é a imagem humana mais perfeita é sempre levar Deus para encontrar-se com Deus. Maria vai até Izabel, para nela servir ao Senhor.

Curiosamente, muitas aparições da Santíssima Virgem se deram em montanhas: Guadalupe. La Sallete, Fátima...

Em Fátima canta-se: “Senhora, um dia descestes, à Terra que em vós confia, descestes à Serra d’Aire, em plena cova da Iria...”

Celebrando hoje a Visitação de Nossa Senhora, peçamos que sempre nos disponhamos a ouvir a voz de Maria e a, cheios do Espírito Santo, louvarmos a Santíssima Virgem, para com Ela "magnificarmos" o Senhor.

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