SEDEVACANTISMO PRÁTICO?

Meus prezados amigos, antes de tudo, devo afirmar que não falo pela Fraternidade S. Pio X e nem sou padre da Fraternidade, o que faço é unicamente em defesa da verdade e da honestidade intelectual.

Muitas vezes, e recentemente um bispo fez essa afirmação, acusa-se a Fraternidade S. Pio X de “sede-vacantismo prático”. Devo confessar que tudo nessa expressão me causa repulsa. Quando me vejo na obrigação de falar em “sede-vacantismo”, sinto o mesmo movimento interior que quando tenho que falar em pessoa “trans”, “cis”, etc.

Porque a própria expressão é repulsiva por trazer para uma espécie de “posição teológica” algo que seria simplesmente a referência a um lapso temporal entre o reinado de dois papas.

Mas, não quero discutir sobre o tal do “sede-vacantismo”, quero me centrar numa acusação de “sede-vacantismo prático” da Fraternidade S. Pio X.

Vou tentar responder de forma bem simples a questão fazendo umas perguntas para os clérigos que acusam a Fraternidade.

1.       Os senhores cobram espórtulas?

2.       A homilia dos senhores demora mais que oito minutos?

3.       Os senhores usam paramentos com renda ou barrete?

Se o senhor respondeu sim a qualquer uma das perguntas que fiz, muito prazer, o senhor é um sedevacantista prático. Porque o Santo Padre Francisco claramente disse que a Igreja não deveria cobrar pelos sacramentos, que as homilias não devem passar oito minutos e que rendas são coisas da vovó.

Ah... O senhor me responde, mas essas declarações do Papa não são infalíveis. E, por isso, ainda que ditas por ele, não são vinculantes para um católico.

Ora, meu caro, é exatamente isso que a Fraternidade faz.

A Fraternidade sabe, como qualquer fiel deveria saber, o que é algo “vinculante” no magistério pontifício e o que não o é. Assim, o Concílio Vaticano II, auto proclamado pastoral, e muitas falas pontifícias que são muito mais “pastorais” que dogmáticas. E as que são dogmáticas não podem estar em contradição ao que foi dito anteriormente pelos demais papas. Sendo assim, pouco importa se a Presença Real de Cristo no Santíssimo Sacramento foi defendida por Pio XII ou Paulo VI, um não poderia contradizer o outro.

Estando, porém, Paulo VI claramente muito influenciado por elementos que não permitem que seus textos sejam tão claros como um de Bonifácio VIII, optamos pelo mais simples, pelo mais claro, mas sem com isso despapatizar a Igreja.

A Fraternidade S. Pio X e muito fiéis simplesmente optam pelo mais seguro, pelo mais claro, pelo mais simples, o que coincide com o mais antigo. Além de lamentar que infelizmente em muitos pontos, o magistério recente se ponha em oposição ao que foi ensinado anterior.

Nunca foi negar o papado discordar de uma ou outra posição não doutrinal do papa. Se assim fosse, o único católico sobre a terra seria apenas o próprio Santo Padre.

O que se chama infame e equivodacamente de sede-vacantismo prático é simplesmente a distinção do que se deve considerar como vinculante ou não no magistério pontifício, sendo, por mais estranho que possa parecer, a menor parte do magistério de um Papa.

Supõe-se que imensa maioria, para não dizer todas, as declarações doutrinais de um Papa serão apenas a repetição do que os seus antecessores disseram. Não poderia ser diferente. Por isso embora o Papado seja indispensável para a Igreja, a pessoa do Papa em si mesma não é tão relevante, uma vez que sua missão é guardar o Depósito da Fé recebido da Tradição, de modo que não importa tanto se tal verdade de fé foi afirmada por qual Papa, o que seria um desastre seria se tal Papa desdizesse o que outro Papa afirmou.

Nesse hipotético caso, cabe aos fiéis resistirem, de acordo com suas condições a essa heterodoxia, mas a simples resistência só existe porque há um reconhecimento da autoridade pontifícia. À uma autoridade, se for necessário, se resiste. À uma não-autoridade, simplesmente ignora-se.

A Fraternidade S. Pio X não ignora os Papas recentes, ao contrário. Seus superiores nunca deixaram de responder e de se fazerem presentes em todas as convocações recebidas, nunca na Fraternidade se deixou de rezar pelo Papa reinante e pelo Bispo Diocesano na Santa Missa e demais orações, ao contrário, desde Mons. Lefebvre sempre se entendeu que o único interlocutor que se poderia e deveria ter eram exatamente as autoridades romanas, mesmo que no final as conversas parecessem “conversas de surdos”, e que se reconhecesse com profunda lástima que parecia que essas autoridades não tinham mais fé.

À Igreja não se ajuda “de fora”, somente de dentro, mesmo que estar dentro seja a causa das dores mais lancinantes que se possa ter. E estar dentro é, do ponto de vista mais prático, primariamente reconhecer a sua hierarquia

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