QUAL BEM A IGREJA DEVE FAZER?

 

Imaginemos um padre que ao chegar em sua paróquia constata um número sem fim de infiltrações e outros problemas de ordem estrutural. Ele chamará um pedreiro, para fins profissionais a religião do pedreiro não importa, mas se esse pedreiro – pensemos que seja protestante – se, ao final de  um mês  ou dos meses trabalhando numa paróquia católica, convivendo com o padre e com os demais fiéis não cogita sequer a possibilidade de deixar o protestantismo e tornar-se católico, ele fez um bem à Igreja, ao consertar o edifício paroquial, mas a Igreja (o pároco e os fiéis) não fez um bem a ele, deixando-o no erro.

Se um padre resolve oferecer aulas de reforço gratuitas para os paroquianos mais pobres, e dentre os professores há também um espírita. E no final de um ano de curso esse professor continua muito confortável em sua religião, e talvez até mais seguro em permanecer nela, ele fez um bem à Igreja, mas a Igreja não lhe fez um bem.

Aliás o único bem.

A Igreja existe para salvar as almas. Tudo na Igreja orbita em torno do mandato de Cristo: “Ide e ensinai.”, se isso se perde, a Igreja se perde. Ela se torna mais um prédio a ser consertado e mais uma associação para apoio dos jovens carentes. E nisso, perde-se a Igreja.

Há algum tempo, na internet veio à baila um certo pastor protestante, que segundo se relatava foi apelidado de Mister Pentecostes. Teria sido alguém convidado por João Paulo II para levar o “””batismo””” no “’’’’’Espírito Santo””””” para os fiéis católicos que o desejassem receber, e que esse pastor protestante, que até onde se relatou não deixou de ser protestante, foi o único protestante a receber comendas que os Papas só davam a católicos, e a razão era o “”””bem””” que esse pastor tinha feito à Igreja.

Ora, meus amigos, compreendamos o seguinte.

É possível que um pastor ou uma pessoa de qualquer religião façam algum bem à Igreja? Sim. Dependendo do que se considerar o bem, a resposta é sim. Dei dois exemplos acima: o pedreiro e o professor. Ambos fizeram um bem à Igreja. Porém, esse bem deveria ter possibilitado a eles o único e grande bem que a Igreja DEVE fazer: salvar suas almas.

Sempre restará um gosto amargo quando um não católico se aproxima da Igreja com alguma reta intenção e não se converte. Sempre restará o questionamento, o quê fizemos de errado? Onde erramos?

Dizer que um pastor protestante, por pedido de um Papa, se entreteve com milhares de católicos pelo mundo, para conferir-lhes o “”””batismo””””” no “”””Espírito Santo””””” e que esse homem continuou protestante, e que mesmo sem converter-se ganhou  comendas que eram concedidas somente a católicos, nada mais é afirmar que para a Igreja Católica (ou ao menos para seus líderes), a conversão (e, consequentemente a salvação) de uma pessoa não possuem a menor importância.

Esse pastor poderia – se não fosse o que lhe foi pedido – ter feito um bem à Igreja, mas foi traído pela mesma Igreja que não lhe possibilitou converter-se.

Agora, necessitamos compreender o que seria o tal “”””batismo”””” no Espírito Santo.

Primeiro, a própria Igreja, particularmente a CNBB (cito a CNBB muito mais pelos que se apóiam nela do que por julgar relevante seus documentos) no seu documento 53 rejeita essa expressão e pede o uso da palavra efusão, o que também é teologicamente inadequado.

Voltando bastante no tempo, o Batismo no Espírito Santo servia nas primeiras gerações cristãs a distinguir o Batismo de Cristo – sacramento, do batismo de João – símbolo de arrependimento. Assim, o próprio S. João Batista já tinha se referido a Cristo como aquele que “batiza no Espírito Santo”. Batizar no Espírito Santo para a Igreja Católica é sinônimo de batismo, simplesmente assim.

Porém, ainda que um dos efeitos do Batismo seja que nos tornemos templos do Espírito Santo, a Igreja, desde o tempo dos Apóstolos, reconhece uma ação privilegiada do Espírito Santo num outro Sacramento, a Crisma.

Na Crisma, o fiel, recebe a plenitude do Espírito Santo e alista-se oficialmente como soldado nas fileiras do exército de Cristo. Só que isso se dá de uma forma absolutamente sóbria: pela unção com o Santo Crisma na fronte do crismando e com o dizer das palavras sacramentais. A teologia católica, e mesmo a poesia que a teologia desenvolveu como os hinos, antífonas e sequências, reconhece que a ação do Espírito Santo na alma se dá de forma sutil, calma, espiritual, doce.

Nada mais contrário à compreensão teológica da ação do Espírito Santo nas almas que uma espécie de histeria coletiva.

Consideremos todo o “show” que os profetas de Baal fazem e a simplicidade e, por isso, eficaz oração de Elias que faz literalmente cair fogo do céu e consumir um sacrifício exarcado de água.

As danças, os transes e demais ritos dos profetas de Baal não são muito mais parecidos com certos “ritos” desenvolvidos recentemente na Igreja como “manifestações” do Espírito Santo?

Meus caros amigos, sempre que alguém não se converte, a Igreja falhou. É claro que a Igreja é Santíssima e, por isso, a sua consciência é perfeita e sem mácula, mas do mesmo modo que a mãe amorosa que deu tudo o que podia a um filho, sente amargura se o filho vira bandido (unicamente por uma decisão sua e contrário a tudo o que recebeu da mãe), assim a Igreja se amargura ao ver alguém que a Providência trouxe para tão próximo dela, e mesmo assim, perdeu-se por estar no erro.

S. Paulo exorta a não se perder nenhuma oportunidade de fazer o bem.

Não se refere o Apóstolo apenas a dar uma esmola ou ensinar um ignorante, mas a salvar. Esse é o bem que a Igreja é chamada a fazer, e o faz através e muitas vezes apesar de nós.

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