PESCAR PELA CABEÇA

 Perto da casa onde vivi boa parte da minha infância, num casarão antigo, funcionava uma loja chamada Caça e Pesca.

Eu, franciscanamente nunca cacei. E Deus não me dotou da paciência necessária para ser um pescador.

Ainda assim, eu gostava de entrar naquela loja, porque havia vários artigos, redes maiores e menores, iscas das mais variadas cores... Era bonito de se ver.

E tinha que ser assim.

Se você vai pescar siri, é de um jeito, se for peixe é diferente e às vezes é diferente dependendo do peixe. Para uns um anzol com isca colorida, para outro um pedacinho de carne e assim vamos quase infinitamente... 

Nessa grande pescaria do Reino de Deus não é diferente! Somos pescadores de gente, mas se pesca a todos da mesma maneira.

E há pessoas que são como peixe, pescadas pela cabeça.

Não adianta para elas contar a vida dos santos, levar numa missa, chamar pra rezar o terço... Tudo isso acaba tendo até o efeito inverso e a pessoa só se afasta mais.

E preciso pescar pela cabeça, no sentido de que a fé não é um absurdo, o seu conteúdo é Deus mesmo que se revela de um modo absolutamente inteligível partindo desde a racionalidade da existência de um Ser supremo, ao abraço no Abbá que Jesus, pelo Espírito nos revelou.

Nós precisamos estar prontos não apenas para contar coisas bonitas, mas para dar as razões da nossa esperança, como recorda S. Pedro e como fez S. Justino, cuja memória hoje celebramos.

Esse santo dos primeiros séculos, mesmo sem ser sacerdote é chamado de Padre da Igreja, porque dentre outras obras, escreveu defendendo a nossa fé, explicando o que cremos e o que celebramos, num tempo em que tudo de mal que acontecia era considerado culpa dos cristãos, que eram chamados de ateus, por não cultuarem os deuses pagãos.

S. Justino pescou muita gente pela cabeça.

Agora isso não é fácil porque exige de nós um bom conhecimento das coisas e, sobretudo, uma vida de acordo com o que fizemos crer.

Paulo VI disse certa vez que o mundo moderno só aceita o mestre e o mestre também for testemunha.

E isso foi S. Justino um mestre e um mártir que morreu por causa de sua fé.

Nessa Trezena de S. Antônio (que foi enviado às regiões onde havia mais hereges para pescá-los pela cabeça, pela conversa, pelos argumentos e... Pelos milagres) que faça de nós verdadeiras testemunhas do Evangelho e nos ajude na nossa missão de pescadores.

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