CONFESSAR

 Meus prezados amigos,

Celebramos hoje a Festa de Santo Agostinho, Confessor e Doutor da Igreja. A obra de S. Agostinho é monumental, algumas mais conhecidas, outras menos. Mas sem dúvida, a sua obra literária é um campo vastíssimo, onde se encontram comentários à Sagrada Escritura, textos dogmáticos, textos sobre a vida monástica, sobre sua própria vida etc.

As suas "Confissões" ajudaram inúmeros fiéis a compreender como mesmo sendo em algum momento envolvidos pelo pecado e pelo erro, Deus que fala ao nosso coração, constantemente nos chama à verdadeira luz.

Podemos dizer que, sob certo sentido, a palavra "confissões" é usada pelo Santo num sentido diverso. Em latim "confessar" é sinônimo de "louvar"; S. Agostinho em "Confissões" mais do que "confessar" pecados quer "confessar" a Deus, louvar a Ele que com paciência o esperou enquanto o nosso futuro santo buscava fora de si, Aquele que morava dentro de si e que gritou dentro dele a ponto de romper sua surdez.

Mas, na mesma linha de "Confissões", onde para glorificar a Deus, S. Agostinho repassa toda a sua vida, há um segundo livro menos conhecido que foi escrito próximo de sua morte e que se chama "Retratações". Nele S. Agostinho não repassa tanto a sua vida, mas as suas obras literárias e reconhece com humildade e sinceridade intelectual partes em que estivesse equivocado ou não tivesse sido suficientemente claro.

Vejam, meus amigos, estamos falando de um dos maiores bispos da História da Igreja, ele sabe que a Igreja é assistida pelo Espírito Santo, mas que essa assistência não significa que seja impossível a um bispo cometer um erro, isso não somente é possível, como há uma solução: retratar-se, reconhecer que pode ter se equivocado.

S. Agostinho não faz uso de sua autoridade, de seu prestígio, para dar à sua obra uma infalibilidade da qual ele sabia não gozar e repassa todas as suas obras para as corrigir.

É nesse sentido meus amigos, que creio que hoje devemos pedir a intercessão do Santo Bispo de Hipona. Que as autoridades da Igreja não pensem que seria um caos reconhecer que podem ter cometido um ou outro erro, não tanto os erros de sua vida (é claro que para sua salvação também isso é necessário), mas os erros de seus escritos.

Mesmo um Papa necessita compreender que a infalibilidade que Cristo prometeu a Pedro e seus sucessores se dá num campo muitíssimo limitado, que, certamente não abrange seus escritos, entrevistas etc.

Assim cada Bispo, assim o Papa, assim o último concílio que, ao proclamar não ser dogmático, mas pastoral, retirou-se daquele campo em que Cristo prometeu a infalibidade.

Não é humilhação reconhecer os erros, humilhação é persistir nos erros mesmo sabendo que são erros. E se alguém não reconhece os erros que tanto ferem a Igreja hoje, e que em sua totalidade esses erros brotam do Concílio Vaticano e dos documentos escritos durante e após o Concílio, ou é ignorante ou é desonesto intelectualmente.

Santo Agostinho, não temeu corrigir a si mesmo; e assim mostra sua grandeza de alma, sua sinceridade, sua humildade verdadeira.

Que, pela intercessão dele, esperemos confiantes e também façamos o que nos cabe para que a Tradição, da qual Agostinho é uma das vozes mais eminentes, reencontre seu lugar em Roma.

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