A CNBB TEM MEDO?

 A CNBB com medo?

Um documento vazado da atual reunião da Conferência dos Bispos do Brasil traz um elenco de entes que seriam os culpados pela divisão da Igreja e do próprio país, de tal modo que a postura desses entes seria oposta à unidade da Igreja e, consequentemente opostas à fé católica, uma vez que é a fé que gera a unidade da Igreja Católica.

Muitos interpretaram esse documento como se a CNBB estivesse com medo, e por isso, ataca esse entes.

Não é isso.

A CNBB não tem medo.

A CNBB não tem medo de um vídeo do CDB ou do Olavo de Carvalho ou da Fraternidade S. Pio X.

E isso se deve à algo antigo na Igreja do Brasil, algo que chamou, por exemplo dos primeiros missionários redentoristas (vindos da Alemanha) para o Santuário de Aparecida. Esses religiosos deixaram por escrito um testemunho que veio a ser corroborado depois por outras personalidades da Igreja no Brasil.

Os Redentoristas identificaram duas coisas: 

1. O povo brasileiro é extremamente devoto. Multidões vindas de todos os cantos do Brasil inundavam diariamente a antiga Basílica para se prostrarem aos pés da Virgem Aparecida para pedir ou agradecer graças. Faziam e cumpriam promessas, rezavam muito etc

2. O povo brasileiro é completamente ignorante nas questões da fé, tendo uma dependência negativa da hierarquia, de modo que as verdades mais básicas da fé católica assim o eram não por definição de Deus mesmo, mas porque o padre assim o disse. Essa fé “gelationosa” do povo levava a um catolicismo que muitas vezes se tornava “não praticante” ou mesmo sincrética.

Dom Sebastião Leme escreverá algo semelhante em sua famosa Pastoral, e, Dom Antônio de Castro Mayer perceberá o mesmo. Dom Antônio percebe que para muitas pessoas a Santíssima Trindade é o Pai, o Filho e o Espírito Santo porque foi isso que o padre disse, se o padre tirar ou acrescentar uma Pessoa, as pessoas julgando obedecer, repetirão ou que o Espírito Santo não é mais uma pessoa divina ou que S. José seria a quarta pessoa da Trindade.

Enquanto muitos ignoraram esse fenômeno e outros identificaram, Dom Mayer não se contentou em identificar, mas se dedicou – tal como Santo Afonso fez com os camponeses – em sua Diocese de Campos em formar muito bem os padres, mas também dar catecismo aos fiéis leigos.

De tal modo que os fiéis sabem que necessitam dos padres, mas sabem qual doutrina deve ser ensinada pelos padres e bispos.

Não desejo ser injusto, mas creio que em nenhuma outra diocese se teve um Bispo com esse zelo.

Foi essa a razão do “caso Campos”, se os padres resistiram ao sucessor de Dom Antônio era porque o povo resistia junto, e não “apenas porque os padres resistiam”, mas porque o que o novo Bispo queria introduzir era o que o povo sabia ser errado. Se todos os padres de Campos, quando da chegada do novo Bispo, se adequassem ao que ele desejava, muitas paróquias teriam ficado vazias e os padres ouviriam da boca de senhorinhas semi-analfabetas ou de magistrados de alto grau: “O que o senhor está nos ensinando é modernismo! E isso foi condenado por S. Pio X. Não podemos aceitar!”

Porém, como disse acima, isso foi um caso a parte, isolado, provavelmente único.

De algum modo, a CNBB mantém o povo na ignorância deliberadamente, ocupando-o com inúmeras “pastorais”, “dimensões”, “conselhos” etc. De tal modo que, queira Deus que eu esteja enganado, mesmo “pessoas importantes” no atual organograma eclesiástico se fossem submetidas simplesmente a um exame para a primeira comunhão na diocese de Campos antes de 1980, seriam reprovadas.

Essa prática de um super-ativismo laical e mesmo clerical, sem o conhecimento básico da doutrina perene da Igreja (e tão importante quanto saber a doutrina é saber que ela é perene) reforça ainda mais essa “dependência abusiva” da hierarquia, de tal modo que um coordenador do conselho mais importante de uma paróquia se acredita na Presença Real de Cristo no Santíssimo Sacramento, não acredita porque é verdade e uma verdade que o faça priorizar estar com Jesus Sacramentado sobre qualquer outra atividade, acredita porque o padre ou bispo diz que é assim.

De tal modo que se ao mudar o padre ou bispo, e se resolver tirar o Santíssimo da Igreja e colocar numa salinha externa, a fé de que é Deus mesmo que é retirado de Seu Templo para um lugar inóspito é substituída por um: o padre é que sabe, o Bispo é que sabe.

Repito essa ignorância do povo católico é mantida propositalmente.

Porque é ela que faz com que agora algumas pessoas realmente considerem que aqueles que fazem exatamente a mesma coisa que faziam seus avós não sejam mais católicos, ou não sejam tão católicos.

O “tão” católico hoje é diretamente proporcional a quantidade de reuniões, grupos, círculos que uma pessoa participa, não o quanto reza, cuida de salvar a sua alma e estuda o catecismo. Aliás, essas coisas serão consideradas ruins, se falará de uma fé individualista... como se a alma fosse comunitária...

Foi exatamente fruto da ação de Dom Mayer que um grupo de agricultores no extremo norte fluminense não permitiu que os padres da administração apostólica continuassem a ir celebrar a missa tradicional em uma capelinha.

A Missa era tradicional, mas a doutrina ensinada era modernista. “Os senhores não nos ensinam mais o que Dom Antônio nos ensinou, por isso não os queremos mais!”

A CNBB não teme os grupos que cita. Sabe que eles têm influência e sabe que crescem. Mas sabe que a imensa maioria dos católicos brasileiros acreditam que para ser católico deve ter um diploma da CNBB. E sabe que ao apontar esses grupos, afastarão deles um ou outro fiel que acha que a Santíssima Trindade existe enquanto a CNBB não fizer uma declaração em contrário.

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