PASTORAL

Meus caros amigos,

Há muito tempo utiliza-se a palavra "pastoral" como uma espécie de palavra-talismã sob a qual se abriga qualquer coisa. Hoje gostaria de compartilhar uma experiência "pastoral", se assim a quiserem definir que já fiz várias vezes.

O costume de praticamente nunca ter tirado a batina desde o dia da minha ordenação e de não ter funcionários para a casa, me levou a frequentar mercados, hortifrutis, lojas de material de construção etc. Como nem sempre tive carro, caminhar a pé ou ir de ônibus também proporcionou vários encontros "pastorais".

A conversa com pessoas das mais variadas, geralmente seguia esses caminhos: 
a) sempre fui de Igreja. Frequento lá no Padre tal.
b) nunca fui da Igreja (protestantes etc)
c) já fui (ou minha família foi) de Igreja, mas me afastei.
d) não era de Igreja, mas hoje sou católico fervoroso.

Bem.. a última quase nunca ouvi. A primeira era razoavelmente frequente, a segunda um pouco menos, e, quase igual à quantidade da primeira, ouvia a terceira. 

Há algum tempo, me mandaram um vídeo de uma cantora brasileira que dizia ter se afastado da Igreja, porque gostava, mesmo sem entender tudo, da missa em latim, órgão, incenso etc. E quando chegou na Igreja e ouviu musiquinhas no violão e teve que ficar olhando para a cara do padre, resolveu se afastar.

A dita cantora não estava sozinha. Uma das coisas que mais ouvi foram justificativas para saída da Igreja nessa linha "muito barulho", "não conseguia rezar, então rezo em casa", "o padre só falava de política", "têm muita gente mandando na Paróquia"... e coisas assim.

Nunca vi um senhor ex-coroinha que se dissesse traumatizado com o latim, ao contrário, parecia que a minha batina desbloqueava em muitos as respostas da Missa, incluindo o "complicado" Suscipiat Dominus de depois de ofertório. Todos se lembravam emocionados e quase coincidindo o seu afastamento como uma consequência de uma Igreja que se afastou de si mesma, particularmente na Liturgia.

Por outro lado, nunca ouvi dizer que alguém "foi" para a Igreja por causa de música alta, gritaria, padre cabo eleitoral etc.

Meus caros amigos, não apenas diminui o número de quem se diz católico, mas mesmo os têm alguma prática religiosa estão visivelmente abandonando a Igreja. E o que poderia ser-lhes oferecido para perseverarem? 
O exemplo dos Santos? Quais? Suas imagens foram desterradas.
A suprema dádiva do Sacramento Eucarístico? Desfinestrado do centro do presbitério para uma salinha conjugada?
A intercessão de Maria Santíssima? De quem se cala os louvores para agradar os protestantes?
O que, até fisicamente, são nossas "Igrejas modernas"? Salões de festa? Casas de espetáculo? Lugares de arquitetura, digamos, esquisita?

Onde a compreensão mais primária de que a Missa é essencialmente a Renovação do Sacrifício de Cristo se manifesta?  Qual compreensão de santo/sagrado temos hoje.

Lembro-me de um caso realmente emblemático, quando era seminarista teríamos uma hora santa numa capela distante que não tinha o Santíssimo Sacramento. De modo que precisei pedir na Paróquia para pegar a Hóstia Consagrada, não tive o menor problema para isso. Mas quando disse que precisaria do ostensório (aquela peça na qual fica exposta a Hóstia) me disseram que não podia pegar sem licença do pároco.

Ora, mas afinal o que (ou Quem) é mais importante?!

Já houve quem dissesse sobre o "Santíssimo Sacramento do Microfone". O sacrário todo mundo abre, leva-se o Santíssimo para cima e para baixo, homens, mulheres, qualquer um. Mas o microfone do padre... Ah... Esse não! Fica guardado na sala do padre só ele tem acesso. Quem é o Santíssimo aqui?

E o povo nota, o povo percebe, e instintivamente se afasta.

Talvez não saibam explicar o porquê, mas se afastam.

Às vezes correm atrás de uma migalhinha de catolicismo aqui e acolá. Um movimento mais conservador, um padre de batina, um canto em latim... O que será quando esse povo faminto descobrir que não longe deles está posta a mesa!

Sem migalhas, sem ambiguidades, sem preocupação em agradar, mas com a única preocupação de ser salvo e salvar e, meus amigos, esta é a ordem das palavras: ser salvo e salvar.

Rezemos pela Igreja, peçamos a Deus que cada um faça o que está a seu alcance para o Reino de Cristo para o bem da Igreja.

Comentários