MEDITAÇÕES SOBRE A SEQUÊNCIA DE PENTECOSTES XXVI

 Meus caros amigos, 

Conquanto a Personagem principal da nossa sequência seja o Divino Espírito Santo, o verso que hoje meditaremos, traz uma breve explicação sobre quem são os fiéis (fidelibus) do verso anterior: "In te confidentibus": "Em ti confiantes".

Ou seja, ao crer segue a confiança. O crer sem confiar, se assemelharia ao estudo de uma mitologia, que embora possa ser interessante, pitoresca, curiosa, não enlaça a alma na confiança ao que se sabe. S. Agostinho diz isso de forma semelhante, se consideramos que a confiança em Deus é fruto do amor que temos por Ele e que sabemos que Ele tem por nós, ao afirmar que se "creres e não amas és como os demônios", como já dizia S. Tiago que também os demônios crêem e estremecem.

Em certo sentido, as "profissões de fé" mais belas e completas que trazem os Evangelhos são feitas por pessoas que estavam sob a ação do diabo. O diabo sabe, mas não ama, não confia. O seu "non serviam" a sua negação em servir a Deus é também uma negação de confiar que Deus é capaz de preencher todo o seu ser, e, ao invés de se deixar preencher por Deus, quer encher-se de si mesmo, e ao fazer isso mergulha no inferno onde cada criatura que lá está só sabe dizer: "eu".

Assim, na essência do cristianismo, está não o "eu" humano, mas o "Tu" divino. O homem pela religião não busca a si mesmo, mas a um Outro, totalmente outro. Deus não está dissolvido na criação, de modo que necessitamos encontrar a "centelha divina" que seríamos nós mesmos. O cristianismo estabelece uma relação entre dois seres, onde quem busca é Deus; não é o homem que busca encontrar a sua própria "essência divina", mas Deus que rasga os céus para buscar o homem que d'Ele se afastou.

E uma vez alcançado por Deus, para usar uma expressão de S. Paulo, o homem se relaciona com Deus pela virtude da religião: crendo e, consequentemente, confiando. A confiança não é exatamente um sinônimo da crença, mas uma consequência dela, como, por exemplo, o culto. O culto externo decorre logicamente da crença, desse modo, a confiança se torna uma espécie de culto interno, onde o homem se torna capaz de sacrificar suas ideias para dar lugar a ideia de Deus.

A confiança não é uma ideia mais ou menos otimista - num sentido puramente material - de que "tudo vai ficar bem"; de fato cremos que tudo ficará bem, mas não necessariamente aqui, nesse mundo, agora. A confiança verdadeira projeta o homem para a vida eterna, onde "sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados".

A confiança apoia-se na certeza de que Deus não nos abandona, que o seu Espírito está em nós, que esse Espírito é penhor de glória futura e de bem-aventurança eterna.

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