MEDITAÇÕES SOBRE A SEQUÊNCIA DE PENTECOSTES XXIV

 Meus caros amigos,

O próximo pedido de nossa sequência é de que o Espírito Santo assuma a direção de quem se desviou: "Rege quod est devium". 

Ora, meus amigos, o desvio supõe uma possibilidades de caminhos, já o salmo primeiro exalta o homem que escolhe o caminho reto, o caminho de Deus. Na Torah, Deus também apresenta ao homem: "a vida e a morte, a bênção e a maldição" e quase que numa súplica ao homem acrescenta: "escolhe, pois, a vida".

A liberdade do homem ou o seu livre-arbítrio, não consiste na capacidade de escolher entre bem e mal, mas entre um bem e outro bem ainda superior. A escolha do mal, embora sempre possível, na verdade não é liberdade, mas escravidão. Ainda assim, há tantos que se desviam. Que destinados ao céu pela vontade salvífica universal de Deus, escolhem outros caminhos e nenhum caminho leva para o Caminho.

Quando a expressão "caminho" assume uma proeminência no diálogo de Jesus com os Apóstolos na última ceia, S. Tomé desejoso por seguir a Cristo no caminho para o Pai, interroga a Jesus que caminho seguir. O Senhor então responde-lhe ser Ele mesmo: Caminho, Verdade e Vida. Uma tradução bem literal do texto grego trará O caminho, A verdade e A vida.

Uma simples análise sintática, concluiria que esses O/A antes das palavras são um artigo definido, que naturalmente exclui outros. Não se trata de um caminho, mas de O caminho, Cristo.

O Espírito Santo é quem coloca nossos passos nas pegadas de Jesus. Mas para isso, o pedido que a sequência nos faz dizer é "Rege" que poderia ser traduzido como "levar para trás".

Mas como o Espírito Santo nos põe nos passos de Jesus trazendo-nos para trás?

Primeiro porque já estivemos um dia sobre os passos de Jesus. Todos nós, um dia, já amamos mais a Deus. Não O amamos como deveríamos, mas o amamos mais do que agora. Nem sempre a conversão é a ida para um estado novo das coisas, mas muitas vezes, talvez a maioria seja "voltar ao primeiro amor", como exorta o Espírito às Igrejas da Ásia: "esquecestes teu primeiro amor". Nesse sentido a conversão não apenas mudança, mas é renovação. Não é, por exemplo, que a rosa se transforme em outra coisa, mas que a rosa murcha recupere seu viço, e para que isso aconteça é necessário voltar atrás, voltar atrás no tempo e no coração.

O Espírito Santo, Deus, têm pleno domínio sobre o tempo e misticamente nos leva continuamente a sermos contemporâneos de Cristo, a sermos perdoados por Ele e nos alimentarmos d'Ele a presenciarmos sua Paixão, se Ele pode isso, também pode constantemente "renovar a face da terra", renovar a face de nossa coração, torná-lo sempre novo, sempre ardente, sempre vivo por Cristo.

A segunda razão pela qual o Espírito nos conduz para trás é porque muitas vezes não queremos seguir no ritmo de Cristo. O ritmo de Cristo nos parece demasiado devagar. "As demoras de Deus"... por vezes nos são insuportáveis, e porque já demos um outro passo no caminho que é Cristo, julgamos que podemos seguir por conta própria e, naturalmente nos perdemos.

Uma terceira e última razão que trago é justamente relacionado a expressão O caminho, que intimamente se une À verdade e À vida. Crer que haja um só caminho, significa considerar como falsos e maus todos os outros. O mundo atual quer nos ensinar vários caminhos, dentre eles um pouco do de Cristo, várias verdades, junto com elas um pouco da de Cristo. Porém Cristo é único, nada é mais falso do que querer considerá-lo "um a mais". Quem segue os caminhos do mundo e as verdades do mundo, não terá a Vida de Cristo.

Pedir que o Espírito Santo traga de volta o que se desviou, é reconhecer que fora de Cristo só encontramos desvio. Cristo não é inclusivo, ao contrário, é exclusivo. Se para um romano antigo um deus a mais um deus a menos não fazia muita diferença, um cristão estava disposto a morrer ao invés de queimar um grão de incenso diante de um ídolo pagão.

Essa invocação é um combate ao relativismo religioso em que tantos estão mergulhados. Por eles e por nós peçamos: Rege quod est devium.



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