MEDITAÇÕES SOBRE A SEQUÊNCIA DE PENTECOSTES XXII

 Continuando nossa reflexão conduzida pelos versos da Sequência de Pentecostes "Veni, Sancte Spiritus", a qual ouviremos na Santa Missa do santíssimo dia de Pentecostes, hoje, e nos próximos dias, na Oitava de Pentecostes, meditaremos sobre o seguinte verso: "flecte quod est rigidum", isto é, flexiona o que é rígido.

Obviamente, numa tradução, podem aparecer vários outros sinônimos para "flecte" e para "rigidum", mas o sentido mais imediato dessas palavras latinas é esse. O Espírito Santo é aquele que é capaz de flexionar o que se tornou rígido.

Ora, se consultarmos a Sagrada Escritura, a primeira "reclamação de Deus" por alguma rigidez se refere à dureza de coração e de cerviz do povo eleito: um coração duro que mesmo diante de tanto carinho não ama e uma cerviz dura que mesmo diante de tanto poder não se inclina. O Espírito Santo é aquele que torna o coração capaz de amar e aquele que leva a alma e o corpo a inclinar-se diante de Deus.

Toda analogia referente a Deus que possamos fazer com as coisas criadas, sempre será falha e, como no caso que usarei agora, simplória. Mas pensemos na água fervente, de modo geral a água fervente amolece as coisas, por exemplo, a batata. Mas a mesma água quente torna firme outras coisas, como, por exemplo o ovo... Coloquemos numa panela de água fervente uma batata e um ovo, a batata amolecerá e o ovo se tornará firme.

Assim o Espírito Santo age em cada alma, dando-lhe o que mais convém: para alguns mais força, para outros mais doçura.

Mas voltemos à rigidez.

A rigidez aqui não é o ter uma doutrina segura, ou uma clareza moral - isso não é rigidez, é simplesmente ter estudado o catecismo - rigidez é a incapacidade de inclinar-se diante de Deus e de o amar. Por isso, particularmente no Pentateuco, não poucas vezes ouvimos falar, como disse acima, de dureza de coração ou de dureza de cerviz.

Dureza de cerviz (muitas vezes traduzida como "cabeça dura") é, na verdade, como se houvesse uma rigidez nos músculos próximos à nuca que impediriam a pessoa de inclinar a cabeça. Ou seja, é uma imagem do povo que sendo agraciado ou castigado é incapaz de se inclinar diante de Deus.

O Salmo 94 que a Igreja coloca diariamente na boca dos sacerdotes traz esse apelo divino: "Se hoje ouvirdes sua voz, não endureçais o coração"... e "Vinde, adoremos, dobremos nossos joelhos e prostremo-nos diante d'Ele". São atitudes que somente pela obra do Espírito Santo somos capazes de fazer em espírito e em verdade.


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