MEDITAÇÕES SOBRE A SEQUÊNCIA DE PENTECOSTES XIX

 Meus caros amigos,

Começando um novo grupo de estrofes, a nossa sequência apresenta novos pedidos, bem diretos, ao Espírito Santo. O primeiro deles é: "Lava quod est sordidum".

Creio que quase não precisaríamos traduzir essas palavras: Lava o que é sórdido. Aqui, creio que poderíamos nos deter na primeira e última palavra desse verso. Primeiro, lava. O Espírito Santo é aquela água viva que Nosso Senhor promete no poço de Jacó. Como água é sinal de vida e de purificação. Precisamos de vida, mas de uma vida pura, como pedimos no hino Ave, Maris Stella à Nossa Senhora.

Para que a vida seja pura, o Espírito Santo, como água viva que é, não apenas concede a vida, mas também limpa, lava.

Mas, nesse viés, é forte a expressão que a sequência traz, não apenas o impuro ou sujo, mas o sórdido.

Na linguagem habitual dos santos, a castidade identifica-se com a pureza, e a impureza é sinônimo de não-castidade. Quando se fala em pensamentos impuros, não se refere tanto à pensamentos contra Deus ou de juízos contra o próximo, mas de pensamentos não-castos.

E a castidade, como praticamente todas as virtudes não apenas é uma luta para toda a vida, mas é uma luta tanto mais forte quanto a sordidez se instaura no mundo. E vivemos nesse tempo.

Parece que todos os limites que não apenas uma "cultura cristã", mas o puro bom senso imporiam diante às pessoas na guarda do pudor foram removidos. Em outros tempos havia horários de programações em que "aquelas coisas" só apareciam tarde da noite, ou pela madrugada. Em nossos tempos, mesmo os desenhos animados para crianças já são hiper-sexualizados. Cada vez mais cedo as crianças perdem sua pureza, e com o consentimento e presença dos pais.

S. Pio X, com visão profética, antecipou a idade da primeira comunhão para que Cristo Eucarístico entrasse nas almas das crianças antes que perdessem a inocência. Porém, hoje a indecência já está no berço da criança. Seja pela falta de pudor e pureza dos próprios pais, quando se os têm, seja pela mundo... não haveria outra palavra, sórdido, em que vivemos.

Todas as possíveis e mesmo impossíveis modalidades sexuais são apresentadas desde cedo e apresentadas como "liberdade", "empoderamento", "dignidade"... tudo é favorecido, incentivado menos que um rapaz e uma moça se guardem para descobrirem juntos a vida sexual após o Sacramento do Matrimônio.

O anonimato e a facilidade da internet, unidos aos mais baixos instintos do ser humano, a pan-sexualização, a consideração da virgindade e da pureza como "defeitos", tudo leva a passos largos homens e mulheres ao abismo da sordidez, ante-sala do inferno.

Diante de tudo isso, nos reconhecemos diante do Espirito Santo não como possuidores de uma sujeirinha, mas como sórdidos. Como pessoas que necessitam ser lavadas em suas mentes, em seus sentidos, em seus corpos, em suas almas.

Os que se preocupam e lutam pela sua pureza, tal como a Igreja sempre entendeu como sinônimo de castidade, são hoje acusados de viverem uma "moral da cintura para baixo", de serem rígidos, de serem escrupulosos... Grita-se nos confessionários que o mandamento principal é amar...

Mas os que fazem tais acusações esquecem-se que é justamente a impureza o grande óbice para o verdadeiro amor. A impureza desfigura o amor. O impuro não ama, simplesmente usa. O impuro é incapaz de amar a Deus e ao próximo, e os pecados sensuais não estão apenas da cintura para baixo, mesmo uma pessoa que perdesse toda a sensibilidade do pescoço para baixo, ainda teria a ampla arena dos pensamentos e da vista para lutar por sua inocência e pureza.

A amplificação de conceitos, levando a considerar impureza todo pecado (o que não deixa de ser verdade), não ajuda a combater com precisão cada pecado em suas causas, aplicando os remédios espirituais adequados. Ora, se estou numa guerra, preciso saber concretamente onde atacar o inimigo, mesmo que todo um país seja meu inimigo, atacar a esmo só desperdiça artilharia e soldados.

Portanto, hoje, nos colocamos diante de Deus como impuros. Como sujos. Dizemos-Lhe tal como o leproso do Evangelho: "Se quiseres, podes limpar-me", gritaremos do fundo de nosso coração com a sequência: "Lava a mim que sou sórdido..." E, se cooperarmos com a graça, de porcos que tantas vezes somos, nos transformaremos em arminhos.

O arminho é um animal cuja pele alvíssima sempre revestiu reis e pontífices. Ele é um símbolo de pureza, porque, sendo ágil não se deixa prender facilmante, mas - conta-se - que se um arminho se encontra encurralado entre um caçador e lama, "deixa-se" pegar, preferindo a morte à sujeira. 

Doce Espírito Santo, lava, e faz com que mantenhamos limpo, as nossas almas, quais tronos revestidos de arminhos para o Supremo Rei e Sumo Sacerdote, Nosso Senhor Jesus Cristo.

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