MEDITAÇÕES SOBRE A SEQUÊNCIA DE PENTECOSTES XIV

 Meus caros amigos,

Na meditação anterior considerávamos que a Igreja chama de forma mais intensa o Divino Espírito Santo, o que se deu pela invocação O lux beatissima, "Ó Luz Beatíssima". E consideramos também o quanto a nossa sequência insiste na associação do Espírito Santo como Luz, o que podemos compreender como sinônimo de Verdade.

Verdade não apenas como um conjunto de proposições sumamente verdadeiras, mas Verdade enquanto Pessoa, enquanto Deus. De fato, a pergunta que Pilatos dirige a Cristo no contexto dramático de Sua Santíssima Paixão: "O que é a verdade?", resume a busca mais íntima de todo homem que seja capaz de refletir minimamente sobre a própria existência.

Todo barulho, em grande parte proposital em que estamos submersos, desde os barulhos de buzinas e motores até às músicas que são propostas como "sucessos" visam unicamente destruir no homem esse instinto sobrenatural de buscar a Verdade. E para aqueles que ainda a tentarem buscar, apresentar-se-á um panteão de verdades no qual a Verdade Cristã seria apenas uma a mais.

Mas é justamente essa a grande questão que a Igreja enfrentou ao longo de sua história, particularmente na conversão dos povos pagãos. Para um pagão que cultuasse uma dúzia de deuses, Cristo bem poderia ser um a mais. Mas Cristo não admite ser um a mais, a Sua Verdade não é mais uma, é única. Exatamente em detrimento de todas as outras.

A fórmula hebraica do Adonai Ehad, "o Senhor é um", não se trata de uma indefinição, semelhante a "um... ", mas é um numeral bem preciso: único. E se é único, portanto os demais não são, não existem, se desvanecessem diante d'Ele.

Mas toda essa batalha se dá primeira e necessariamente, como vemos no verso de hoje: cordis intima: "no íntimo do coração". O verso diz, continuando a invocação anterior: reple cordis intima: "enche o íntimo do coração".

A luz beatíssima que é o Espírito Santo deve plenificar o íntimo do coração humano. A verdade que a que o Espírito Santo conduz o homem deve iluminar seu coração de tal modo que se compreenda que nada existe sem Deus e que para Ele tudo se ordena. E, tal como a luz expulsa as trevas, essa Verdade expulsa as "verdades", para usar uma terminologia moderna.

Não existe verdades, minhas verdades, suas verdades... A Verdade transcende o homem, vai além de suas más inclinações, de sua visão limitada, de suas grandes fraquezas. A Verdade existia antes do homem e continuará existindo após ele. Não lhe resta - a não ser que decida viver na instável loucura da mentira - viver na estabilidade da Verdade de Deus: et veritas Domini manet in aeternum: e a verdade do Senhor permanece para sempre, como diz o Salmo 116.

Mas, voltando à ideia anterior, isso se dá no coração humano. a ação primordial do Espírito Santo é íntima. Não é visível, nem palpável, nem sensorial, nem experimental, é puramente interior.

Trará, como se pode perceber, consequências visíveis, palpáveis etc. Mas não começa "de fora", mas "de dentro". E para se chegar a esse "dentro" é necessário exatamente o oposto do que se vê em determinadas seitas que quase sugerem uma possessão do Espírito Santo com a pessoa perdendo até mesmo o domínio sobre seu corpo mediante transes e histeria: requer silêncio.

"O Espírito de Deus pairava sobre as águas". Imaginemos no início da criação, sem ainda os seres vivos emitindo seus próprios sons, sem ainda o mar ter a força e a vida que lhe são tão características; é nesse momento que pela primeira vez faz-se alusão a quem, considerando a Plenitude da Revelação, é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. É nesse silêncio primordial que age o Espírito Santo. Somente sobre as águas calmas da intimidade de um coração sedento de Verdade, é que o Espírito Santo encontra a matéria prima para poder agir.

Comentários