MEDITAÇÕES SOBRE A SEQUÊNCIA DE PENTECOSTES VI

 Meus caros amigos,

Há algum tempo meditávamos sobre "o raio de tua luz" que a Igreja pede que o Espírito Santo envie dos céus. Hoje, meditaremos na invocação que a sequência traz na qual chama o Espírito Santo de "lumen cordium", que comumente é traduzido como "luz dos corações".

"Veni, lumen cordium": Vem, luz dos corações.

Quando meditamos no raio da luz, recordamos uma espécie de luz independente, luz em si mesma, tal como no início da criação Deus separa a luz das trevas antes mesmo de criar o sol. Portanto, quando pensamos em luz, podemos considerar duas espécies: uma luz em si mesma, como o raio; e uma luz fruto de uma combustão, como a luz que brota do fogo, como a luz de uma candeia.

Essa parece ser a tradução melhor para "lumen", que não é tecnicamente sinônimo de "lux". Recordemos que na Vigília Pascal, a Igreja ao apresentar o círio não diz: Lux Christi, mas Lumen Christi. O fogo que se alimenta da "cera virginal da abelha", produz luz, consumindo em sacrifício a "coluna de luz" que é o círio pascal.

Quando o Espírito Santo é chamado de "lumen cordium", o consideramos no duplo aspecto de fogo que gera a luz. Ora, o fogo supõe um combustível. No caso dessa invocação, o combustível é o coração humano. O Espírito Santo tal como a chama que arde e ilumina, o faz a partir do coração humano. Ele queima os corações, purificando-os, e tornando-os, tal como Ele, luz e fogo.

S. João da Cruz utiliza essa imagem para descrever o processo da "divinização" do homem. Ele se refere à capacidade do fogo de transformar todas as coisas em si mesmo. O Santo Doutor dá o exemplo de uma madeira lançada ao fogo: a madeira emite odores, estala, muda de cor - quase que "sofrendo" com essa mudança, até que começa a identificar-se com o fogo, a tornar-se uma brasa viva de tal modo que o espectador não consegue mais distinguir o que é fogo e o que outrora fora madeira.

Assim age o Espírito Santo no coração humano.

Isso não impede que, por vezes o coração se ressinta, mas se persevera, se se "mantém no fogo", se torna fogo. A tal ponto que dirá o Santo que o demônio teme a alma unida a Deus como ao próprio Deus.


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