NÃO ESTAVA

 Nesse segundo domingo da Páscoa, a Igreja nos traz um Evangelho que aborda uma espécie de vácuo de oito dias. É o vácuo da alma de Tomé, que se dá entre o Domingo da Ressurreição e os "oito dias depois".

Cristo havia anunciado aos seus discípulos com detalhes, tudo o que Lhe estava para acontecer em Jerusalém, anunciou sua morte e sua ressurreição três dias depois, mas não "agendou" nenhuma aparição após a Ressurreição. Não disse que após ressuscitar apareceria tal dia e tal hora no cenáculo.

Mas há dois fatos que S. João aponta sem dar explicação, sem dizer o porquê: Cristo se faz presente, Tomé se faz ausente. Da mesma forma que nada pode explicar a presença de Cristo, nada pode justificar a ausência de Tomé.

Mas o fato é que o Cristo aparece. Não repreende os Apóstolos, não dá uma medalha a João... Aparece e dá a Paz e o Espírito Santo, porque é impossível ter um sem o outro. O Espírito Santo só vêm na Paz e a Paz é fruto do Espírito Santo. E para que Paz e Espírito nunca mais se afastassem de seus discípulos, Jesus lhes dá o poder da remissão dos pecados.

Tudo graça.

Tudo de graça.

Tudo mais do que de graça. Porque se todos os Apóstolos tivessem permanecido fiéis até a cruz e estivessem do lado de fora do sepulcro esperando a ressurreição, ainda assim não mereceriam tais dons, quanto mais tendo fugido e não acreditando na Ressurreição até aquele momento! 

Uma coisa é dar, outra é dar porque se merece e outra ainda maior e dar, mesmo que aquele que ganha não mereça. Esse terceiro é o modo predileto de Deus.

Mas Tomé não estava.

Se o Evangelho desse alguma razão para a ausência de Tomé, nós poderíamos encontrar nela uma justificativa para nossas ausências. Não há razão para a não presença de Tomé, e o que esta não presença trouxe para ele: perde o encontro com Cristo.

O encontro com Cristo, meus amigos, é sempre um dom da graça. Mas, de modo geral, é um dom da graça que se dá na perseverança.

Um dia e não teve Cristo, um segundo dia e não teve Cristo, um terceiro dia até a tarde e não teve Cristo... Tomé não persevera, e por isso, deixa de estar com Jesus que veio à noite. Não lhe ocorreu esperar, pelo menos até o terceiro dia acabar?

Talvez sim, mas e nós? Será que os limites da nossa paciência coincidem com os limites da ação de Deus? Os salmos, por exemplo, sempre falam do Deus que age no limite do homem, no máximo limite. No fim de toda esperança, porque enquanto houver humana esperança ainda não resplandece que a graça é só de Deus. Quantas vezes tivemos paciência para ver isso? Ou, ainda mais, tivemos fé para crer nisso?

A não presença de Tomé o priva da presença sensível de Cristo.

Não importa se não soube esperar um dia ou uma hora. Desistiu de esperar, desistiu de Cristo.

Meus amigos, quando perseveramos na oração, é natural que, muitas vezes, tenhamos a impressão de que estamos num monólogo, nem sempre o que pedimos acontece e menos ainda sentimos gosto na oração. É raro. Mas para que o raro aconteça é necessário esperar, perseverar.

Aquele que vive desistindo, nunca saberá se não teria sido no minuto seguinte que Cristo lhe viria ao encontro e lhe diria: "Não sejas incrédulo, mas fiel!" Aqueles que caem numa espécie de roda existencial do "peca, deixa de rezar, confessa, volta a rezar" sai tanto do Cenáculo - não tanto pelo pecado, mas pela falta de oração, que não consegue coincidir a sua presença com a de Cristo.

E assim Tomé cai nesse vácuo: todos viram, mas ele não. Cristo durante oito dias dá ao Apóstolo a graça de se manter fiel, de perseverar, de não acreditar acreditando. 

Enfim! "Põe o teu dedo, Tomé..."

"Meu Senhor e meu Deus!"

Ao tocar a carne de Cristo, a alma de Tomé, como que, toca a sua divindade. Não proclama apenas o retorno do Mestre, mas adora e proclama o Deus que é o Mestre.

Dali para frente, serão felizes não mas o que vêem, mas o que crêem. E se crêem, tocam. 

Cristo não permite que Madalena lhe toque, porque, Ressuscitado, o modo de O conhecer não é mais material, mas sobrenatural. Não é mais apalpando o homem, mas crendo no Deus,

E crendo no Deus, toca-O pela fé.

Toca-O pelo ato de crer, mas também toca-O reconhecendo a sua Presença Eucarística, onde mais do que O tocar, O comemos e todas as outras presenças que como rios espirituais brotam e conduzem a esse Mar Eucarístico.

Meus prezados amigos, nesse domingo, peçamos ao Senhor a graça da perseverança. A graça de que nossos limites coincidam com os d'Ele. E que nunca lhe deixemos de proclamar: "Meu Senhor e Meu Deus!".







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