MEDITAÇÕES SOBRE A SEQUÊNCIA DE PENTECOSTES IV

 Meus caros amigos,

Repetindo por algumas vezes a palavra "veni", vêm, a Igreja começa a designar o Espírito Santo com nomes cujo sentido pretendemos agora nos deter particularmente.

"Veni, Pater pauperum": Vinde, Pai dos pobres.

Não é nenhuma imprecisão teológica chamar ao Espírito Santo de "Pai". Nosso Senhor Jesus Cristo mesmo chama seus discípulos de "filhinhos", compara-se à galinha que reúne os "filhotes", e muitos cristãos, incluindo santos e doutores se referiam a Cristo como "Pai".

Talvez por isso, tradicionalmente na língua portuguesa, se manteve para Deus Pai, a designação de "Padre": "Padre nosso", "Creio em Deus Padre", "Glória ao Padre" etc. De modo a distinguir o sentido estrito do sentido figurativo.

"Vós só tendes um Pai, Deus", ensina Nosso Senhor. Em sentido estrito, somente Deus Pai é Pai. Cristo revela o nome de Pai para Deus, e estabelece, Ele mesmo, os nomes com os quais se invocará a Santíssima Trindade: "Batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo." Deus Pai, assim é chamado por ser a fonte do Ser, não apenas dos seres criados, mas também das outras Duas Pessoas divinas incriadas: o Filho e o Espírito Santo. O Filho é gerado pelo Pai, e o Espírito Santo procede d'Ele através do Filho.

Porém, tal como afetivamente podemos nos considerar "filhos" de pessoas que não sejam biologicamente nossos pais e também devocionalmente nos dirigimos a alguns santos como "pais", não há dificuldade em considerar num sentido amplo que tanto Cristo como o Espírito Santo exercem sobre nós um cuidado paterno.

Uma vez entendida a palavra "Pai", vamos a de quem ela se refere: "pauperum", dos pobres.

O Evangelho não é exclusivo. Não é, por natureza, apenas dos pobres. 

Se o Evangelho não exclui, o mesmo não podemos dizer dos ricos. Os ricos não apenas excluem, como se excluem do Evangelho. Excluem-se do Evangelho porque o Evangelho não admite partes, mas tudo. Os ricos, muitas vezes querem fazer do Evangelho, "mais uma de suas coisas", enquanto que o Evangelho que é uma Pessoa, Cristo, não admite ser mais um, mas exige ser único: "Amarás, de todo, de todo, com toda, com todas..."

Nesse sentido, ao pobre o Evangelho se torna mais fácil, porque não tem mais nada.

É claro que tivemos santos que tiveram muitos bens, e que, justamente por causa do Evangelho, os colocaram à disposição dos pobres e da Igreja. Santos reis e rainhas, sem descuidar de seus compromissos para com suas nações, ergueram hospitais, universidades, igrejas, mosteiros, asilos, e, muitas vezes, podendo deixar os compromissos de seu estado, se recolheram nesses lugares "como um a mais" abrindo mão de tudo. 

Deixar tudo não é uma opção para quem ser discípulo de Cristo.

Também o financeiramente pobre que não ama a sua pobreza e reconhece nela um local de encontro com Cristo, não se distingue aos olhos de Deus do mais sovina dos homens.

O Espírito Santo é pai dos pobres, porque se ocupa deles, os consola, os fortalece, e, uma vez que nada têm, pode preencher esse vazio com sua Presença e com seus santos dons e carismas.

Ao homem "cheio", pouco pode dar o Espírito Santo.

É nesse sentido que Deus enriquece os pobres, como cantou Nossa Senhora no Magnificat.

Deus não eleva os pobres dando-lhes mansões e carros, fazendo-os ganhar na loteria, mas tornando-os participantes de Sua Pobreza, e, consequentemente da Sua riqueza.


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