MEDITAÇÕES SOBRE A SEQUÊNCIA DE PENTECOSTES II

 Meus caros amigos,

Após invocar a Pessoa Divina do Espírito Santo, a Igreja começa o primeiro dos vários pedidos que fará ao longo do texto: "Et emite caelitus", "E envia dos ceús".

No próximo texto meditaremos sobre o quê o Espírito Santo envia; nesse verso, porém, nos interessa o "de onde" nos envia: dos céus.

A cosmologia judaica distingue com certa clareza o céu dos céus. Sendo, de modo geral, "o céu" a realidade visível dos astros e estrelas e "os ceús" uma espécie de camada superior ao "céu" onde Deus habita. Em muitas línguas, como no inglês por exemplo, se concebem essas realidades em duas palavras distintas como sky e heaven. Mas em português, como em latim, a diferença se dá simplesmente entre singular e plural.

No Novo Testamento, como no caso do Pai Nosso, é feita a distinção: "estás nos céus", "assim na terra como no céu". O Pai habita nos céus, sua vontade abrange toda a criação, a saber: a terra e o céu.

O Espírito Santo, com o Pai e o Filho, habita nos céus. Partilha a Vida e a Essência Divina, sendo um Único Deus com o Pai e o Filho, sendo, ao mesmo tempo, uma Pessoa distinta do Pai e do Filho. E da morada celeste, dos céus, que Ele vêm. É de lá que Ele manda os seus dons.

A invocação do Espírito Santo é sempre um olhar para os céus. É sempre um transcender a realidade material para conhecer adequadamente a realidade material. Sem o Espírito Santo, sem a sua Presença, vive-se o que escreveu S. Agostinho: "seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam se não fosse por Ti". Ele que sustenta no Ser todas as coisas é o único capaz de nos fazer interpretá-las adequadamente, e isso se dá quando deixamos de olhar as coisas para olhar para os Céus, para dizer: Veni, Sancte Spiritus.

O olhar para os Céus, faz com que o homem não caia na idolatria das coisas, mas se renda à Adoração  daqu'Ele que criou todas as coisas. Olhar para os Céus é ordenar adequadamente a Fé, a Esperança e o Amor. 

O Espírito Santo não vem das coisas da terra, não é um fantasma vagando por entre as coisas da terra. É o Espírito de Deus, o Deus- Espírito, por isso penetra na alma humana desde o céu, movendo o homem como brisa suave, como vento que se sente ao mesmo tempo que se desconhece.

Falta-nos muitas vezes esse olhar para os Céus. As realidades terrenas não são mais reais que as celestes. Um outro ser humano para um cristão não é mais nem menos real que um anjo. As realidades celestes, para um cristão, são verdadeiramente "reais", sua invisibilidade habitual não as torna menos reais.

Por isso a necessidade de transcender o que é palpável, para dirigir o olhar para o que, embora não seja palpável é tão ou "mais" real do que as realidades terrenas, fadadas a um dia se extinguirem, enquanto que as realidades celestes jamais se extinguirão.

"Envia dos céus..." Meus amigos, que estremecimento amoroso deve penetrar nossas mentes quando ouvimos "céus", tal como o peregrino ou exilado sente quando escuta "casa".

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