MEDITAÇÕES SOBRE A SEQUÊNCIA DE PENTECOSTES I

 Meus caros amigos,

A Santa Igreja no dia de Pentecostes invoca o Espírito Santo de forma particular pela sequência Veni, Sancte Spiritus, uma joia preciosa da liturgia, da poesia e do canto gregoriano. Ao longo dos próximos dias pretendo meditar verso por verso a sequência para que possamos adentrar com mais profundidade nesse texto venerável.

A sequência começa com essa invocação: "Veni, Sancte Spiritus": Vem, Santo Espírito!

A expressão Espírito Santo, ou Santo Espírito já é encontrada no Antigo Testamento, mas não com a compreensão que a temos. O Espírito de Deus, ou Espírito Santo, Espírito do Senhor (ruah qados, ruah adonai) que vemos por exemplo no Gênesis ou no Salmo 50, não são se referem literalmente à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, mas à uma emanação vivificante de Deus, ou uma forma de presença de sua Pessoa. 

A palavra espírito nesses textos refere-se à uma forma misteriosa da presença de Deus, ou ao sopro vivificador d'Ele que anima e dá a vida a todas as coisas, particularmente ao homem. É um vento místico, ora impetuoso, ora suave, é o sopro de sua boca que faz com que o barro modelado se torne homem.

Num sentido literal, não encontramos aqui a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, mas um atributo de Deus.

Somente no Novo Testamento é que se manifesta a compreensão correta. A começar por S. Gabriel na Anunciação, tanto à Nossa Senhora quanto à S. José, depois na boca de João Batista, dos Apóstolos e sobremaneiramente na boca de Nosso Senhor Jesus Cristo.

No Novo Testamento já não se compreende mais o Espírito Santo como simples ruah qados, um sopro ou brisa sagrados, mas como um Alguém, um Ser Pessoal que fecunda Maria, que impele a Cristo, que encoraja, age e fala através dos Apóstolos. Um Ser Pessoal que não é um outro Deus, mas o mesmo Deus em sua Natureza, porém, diverso em Pessoa.

E então à luz do Novo Testamento se compreende plenamente o Antigo, e se torna ainda mais bela a imagem do Espírito de Deus que paira sobre as águas ou a súplica do pecador David para que Deus não lhe retire o Seu Santo Espírito.

É à essa Pessoa Divina que a Igreja invoca: Veni! Vem!

Porém, é necessário invocar o Espírito Santo? Não está para sempre o Espírito na Igreja? Não está na alma que conserva a graça? Que necessidade haveria de chamar o Espírito Santo, uma vez que Ele jamais se ausenta da Igreja?

Ora, pensemos no tempo do Advento. No tempo do Advento chamamos a Presença de Quem jamais nos deixou: Cristo. Chamar, para a Igreja não supõe ausência, supõe uma nova disposição interior em gozar da Presença. Clamar pela vinda de Cristo, clamar pela vinda do Espírito Santo não significa que ficamos privados, mas que estamos mais dispostos, mais amantes, mais prontos. 

E assim, sem nos ter deixado, Ele vêm de novo. Tal como as ondas que se sucedem na beira do mar se alternam em suas vindas, o Espírito de Deus vêm sempre de modo novo sobre a Igreja e sobre cada alma fiel.

É nesse sentido que o Espírito ao qual a Igreja diz: "Veni", com ela diz ao Cristo: "Veni". Spiritus et Sponsa dicunt: Veni - O Espírito e a Esposa dizem: Vem!

A Igreja chama o Espírito e Ele, em vindo, unido à Igreja-Esposa, diz ao Cristo: "Vem"!

Cada vinda do Espírito Santo não é apenas "protológica", para gerar um início, mas também "escatológica", tendendo para a vinda de Cristo no fim dos tempos.

É com isso em mente que a Igreja começa a sequência: Vem, Santo Espírito.

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