BOM PASTOR

Meus caros amigos, nesse domingo do Tempo Pascal, recordamos particularmente o Cristo Bom Pastor. Ele, Cordeiro de Deus, é ao mesmo tempo o Bom Pastor das ovelhas: "o Cordeiro redimiu as ovelhas" cantou a Igreja ao longo da Oitava Pascal.

Todos compreendemos a imagem do pastor. O homem que cuida de suas ovelhas, ou outro animal, para vender sua carne, sua lã, alimentar-se delas ou a utilizá-las em proveito próprio. Porém, Cristo não é pastor nesse sentido. Talvez o pastor que mais se aproxime do ideal de Cristo seja aquele que o profeta Natã descreve a David: "a ovelha era como uma filha para ele, comia de seu prato, dormia junto a ele".

A relação habitual do pastor com a ovelha é semelhante ao comerciante/mercadoria. Mas Cristo não assume essa postura em nenhuma de suas menções do binômio pastor/ovelha. É o pastor que deixa as ovelhas fiéis para buscar a tresmalhada, que se faz ele mesmo porta das ovelhas e que chegará ao extremos de dar a vida por elas. Ou seja, não são as ovelhas que servem ao pastor, mas o contrário. E, se o pastor podia dispor da vida de suas ovelhas; agora são as ovelhas que dispõe da vida do Pastor.

É claro que nesse rebanho de Cristo, todos são pastores e ovelhas. Cabe a um o cuidado do outro e Cristo cuida de todos nós. Não podemos achar que nosso lugar de ovelha nos exime do cuidado com nossos irmãos. Se agirmos assim, no dia do juízo, Deus repetirá para nós a mesma frase fulminante que dirigiu a Caim: "Onde está o teu irmão?"

A sociedade cristã se organiza também de um modo em que em pequenos núcleos há sempre pastores e ovelhas: o pai na família, o patrão no trabalho, o prefeito na cidade (ao menos idealmente...). Mas há aqueles constituídos pastores não pela vontade popular, mas por um desígnio misterioso de Deus.

Em alguns a imagem de Deus é tão perfeita que as ovelhas naturalmente os seguem e os aclamam como seus verdadeiros pastores, sinal vivo da presença do Deus vivo: S. Ambrósio, S. Agostinho, S. João Maria Vianney, S. Pio da Pietrelcina. Homens que agindo segundo Deus, com força e suavidade, souberam conduzir seus rebanhos aos prados eternais.

Em outros, o mistério se torna ainda mais misterioso de como pode Deus ter permitido que tal pessoa fosse constituída pastor. Suas falhas pessoais, seus pecados, seus vícios, quase anulam nele o dom do pastoreio.  Mas não anulam porque o pastoreio nunca é fruto dos dons, ou mesmo da santidade de alguém, mas é eleição divina para o bem de seu povo, seja como bênção, seja como castigo.

Quantos rebanhos só reconheceram que foram visitados por Deus quando foi privado de um santo pastor verdadeiro para ter um pastor medíocre!

Enfim, meus amigos, a oração pelos pastores da Santa Igreja para que aumentem em santidade e em número não é apenas um preceito do IV Mandamento, mas também uma ordem expressa de Cristo: "Pedi ao Senhor da messe!" Hoje rezemos especialmente pelos pastores da Igreja, rezemos por sua conversão - todos precisamos nos converter - por sua fidelidade, por seu amor ao verdadeiro Pastor de nossas almas, para que movidos por isso, possam de fato conduzir seus rebanhos para a vida eterna.



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