ORAÇÃO

 

Quando vamos nos encontrar com uma pessoa muito especial, geralmente sentimos um monte de coisas. Esses sentimentos, sejamos honestos, tendem mais a nos atrapalhar do que ajudar. Mas quando essa pessoa muito especial se torna alguém de nosso convívio, nossas conversas naturalmente se tornam mais racionais, mais centradas e mais equilibradas.

Em certo sentido, assim acontece com a oração.

A oração é falar com Deus, ou até menos (ou mais) do que isso, é elevar o nosso pensamento a Deus (mesmo sem dizer nada). É normal que muitos passem pelo chamado "fervor de noviço", que por alguma razão, durante algum tempo, a oração seja cheia de emoções, sentimentos e outras realidades, digamos, românticas.

Mas o romantismo é inimigo do amor.

Por isso, é natural e necessário, que com o tempo, as nossas orações se tornem "normais", que o falar com Deus ou elevar o pensamento até Ele seja como falar ou pensar na esposa ou nos filhos.

Diante da futura noiva, o rapazote sente seus joelhos tremerem; diante do filho recém-nascido o pai está chorando de emoção - caso não tenha desmaiado durante o parto... Mas chega um momento em que essas pessoas se tornam "normais", não nos provocam mais grandes explosões de sentimento. É aqui que reside o amor. O amor poderia ser definido como tornar especial quem poderia ser comum.

Assim amamos a Deus. Ninguém é mais comum que Deus: está presente em todos os lugares, em todos os sacrários, em nossa alma, se estivermos em graça. S. Agostinho usava a expressão "intimior intimo meo": mais íntimo que o íntimo de mim. Portanto, é natural, que passando ou não por momentos de grandes elevações, Deus nos seja simplesmente normal.

E é assim que estaremos com Ele na oração.

Com essa naturalidade. Que não exige romantismos, ao contrário, os despreza. 

Com a alma despida, sem nada, sabendo que nada lhe é oculto e nada lhe é impossível. Sabendo que Ele sabe mais, que viu e ouviu coisas que nós não vimos e não ouvimos.

Confiantes.

Confiantes ao ponto de dizer que a vontade d'Ele é a nossa, mais do que querer que a nossa seja a d'Ele. E a Quaresma é o tempo de exercitar isso, de termos prática de oração, de nos introduzirmos ainda mais nessa arte, ainda que só de vez em quando saia um rabisco. É o ato de perseverar na oração a oração mais eficaz que se pode ter.

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