ESMOLA

 

Dentre as três grandes práticas da vida cristã que sobressaem na quaresma está a esmola. Ela está intimamente ligada à oração e o jejum.

Quando rezamos não nos tornamos todos como pobres diante de Deus? Quando lhe pedimos graças, ainda que sejam grandes, não reconhecemos - como a mulher siro-fenícia - que são como migalhas que caem de sua mesa? A oração nos faz reconhecer a nossa indigência.

Já o jejum e a abstinência fazem com que recordemos a nossa fraqueza corporal. Sentimos fome, sentimos vontade de consumir algo que por algum tempo vamos nos abster. Muitas vezes, deve haver um nome para isso, o simples fato de determinamos um jejum ou uma abstinência já faz com que acordemos com fome ou com um desejo insaciável pela coisa que nos vamos nos abster.

Se mais do que saber que as pessoas precisam comer, nós também sentimos fome, isso necessariamente nos leva ao encontro daqueles que não por escolha vivem em jejum e abstinências perpétuos.

Precisamos ter muito cuidado com uma certa "espiritualização" do jejum e da esmola.

É comum ouvir que se deve fazer jejum de rede social, ou de julgamentos; ou que se deve dar a esmola da atenção, da escuta. Não nego que isso também é importante, mas muito secundariamente. Ouvir de um pobre que tem fome não sacia a sua fome, abraçar um pobre com fome não sacia a sua fome.

As práticas da Quaresma são bem "práticas", e assim devem ser em nossa vida.

É claro que se hoje pegássemos um pão grande, tipo os que algumas imagens de Santo Antônio têm, e saíssemos distribuindo aos pobres, talvez o pão voltasse em direção à nossa cabeça. Mudaram os pães e também mudaram os pobres. Muitos dos que povoam as nossas ruas lá estão não por um despejo ou por perderem tudo nas mãos de usurários, mas há o grande problema da dependência química, por exemplo.

Por isso, o católico que deve dar esmola, precisa ter em mente uma realidade imediata e uma realidade de médio prazo. A realidade imediata é que se alguém está com fome, ele deve dar de comer. Mas também deve pensar soluções ou cooperar com as que já existem para que aquela pessoa não tenha fome.

A esmola não é apenas o dinheiro dado a um mendigo. Também cooperar com instituições que cuidam da infância e dos jovens, com mosteiros e casas religiosas, com sacerdotes, é esmola.

A própria doação à Igreja é uma esmola. É incrível quando num tempo em que as pessoas eram muito mais pobres, com muito menos recursos tecnológicos as Igrejas e seus ornamentos eram infinitamente mais belos que os riscos traçados de hoje em dia. Fruto das esmolas e especialmente das esmolas dadas por pessoas pobres.

Mas as esmolas dadas à Igreja ou seus representantes é também sempre destinada aos mais pobres. Numa escola católica, nem sempre todos os alunos são capazes de pagar e mesmo assim, permanecem lá estudando. Numa Igreja bela, entram  igualmente o pobre e o rico, porque é a Casa de Deus. Um padre ou monge são sempre interpelados na rua por alguém que lhes pede ajuda, ajuda que por si mesmos não teriam como dar, é da esmola que recebem por uma missa, ou por doação espontânea que aquele homem que por sua veste é um embaixador da Igreja, e assim é reconhecido pelo pobre, pode aliviar o sofrimento do pobre.

A esmola ao não ser definida, é algo que todos podem viver. Mesmo um pobre que retira de sua quentinha um frango e dá a outro pobre vive a esmola. 

Meus amigos, ao longo da história muitos quiseram roubar os pobres de nós. O protestantismo, o comunismo e tantos outros se consideraram donos dos pobres, mas foi sempre nas portas das Igrejas que os pobres encontraram o seu lugar. Os pobres, como ensinou S. Lourenço, são nosso tesouro. Tesouro aqui e tesouro no céu. Cristo, em certo sentido, diz que os pobres são como que um banco, o que damos a eles, depositamos no Céu, onde ladrão não rouba e traça não corrói.


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