OS NOVÍSSIMOS

 


A Igreja, repetindo as palavras do Espírito Santo, sempre ensinou: "Lembra-te dos teus novíssimos e jamais pecarás!", pensamento este que também se delineou em outros povos, mesmo pagãos, como os romanos que diziam: "Em todas as coisas, observe o fim". Todas as religiões que crêem numa vida além do túmulo, crêem que essa vida não será igual para todos.

Se assim nas religiões de cunho natural, iluminadas apenas pelo senso comum e por alguma concepção ética, quanto mais na Religião cujo saber veio de Deus mesmo. Desse modo, pela certeza da fé, se crê que passada esta vida são destinados aos homens três realidades: um juízo do qual se seguirá um prêmio ou um castigo. Após a morte, as disposições de uma pessoa não muda, ninguém "se converte" após morrer, ou se arrepende durante o juízo particular. Tal como viveu, assim morreu.

E assim passará a eternidade.

Mas se existem pessoas que vão se condenar, porque Deus as cria? Não seria melhor criar só pessoas boas?

Bem, tudo que Deus cria é bom. Mesmo as pessoas ou anjos maus não foram feitos maus, tornaram-se maus, pelo mau uso de sua liberdade que não é uma faculdade para escolher entre o bem e o mal, mas entre um bem e outro bem ainda maior. Deus, como efeito do seu amor, cria, numa linguagem filosófica, "dá o ser" às coisas. E se Ele deixasse as coisas no "não-ser", não seria Amor.

As pessoas que virão a se tornar más, ao ponto de serem condenadas ao inferno, embora o desígnio de Deus fosse que todos se salvassem, com suas maldades provam os bons nessa vida, fazendo com que exercitem a paciência, a perseverança e um sem fim de virtudes que se vivêssemos rodeados apenas por pessoas boas, nunca iríamos exercitar. Desse modo contribuem para o aumento da glória que teremos no Céu.

E após essa vida, a condenação dessas pessoas será uma manifestações da perfeição de Deus pela sua justiça. A justiça não é um defeito, nem é uma oposição à misericórdia, em Deus não pode haver contradição. A sua justiça é aclamada pelos Anjos e Santos no Paraíso que encontram na vontade de Deus a sua vida e a sua paz.

Ainda sobre o binômio justiça x misericórdia, creio ser conveniente recordar um ensinamento de S. Afonso de Ligório: a misericórdia de Deus leva mais almas para o inferno do que a sua justiça; porque o pecador que pensa na justiça de Deus, teme e se converte. Já aquele que só considera a misericórdia de Deus, retarda a sua conversão acreditando que terá um tempo que, na maior parte das vezes, não terá.

Não nos esqueçamos que o próprio Nosso Senhor, quando perguntado sobre a quantidade dos que se salvam, não respondeu diretamente. Mas falou de uma porta estreita de salvação e uma larga de perdição, do que sem dúvida se percebe que há um fluxo maior na porta larga. Os Santos, especialmente os que tiveram visões do inferno, nunca deixaram de relatar a vista não apenas de demônios, mas de multidões de almas a padecerem eternamente.

Paremos de brincar com nossa salvação e nos disponhamos a passar pela porta estreita.

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