FÉ E BRASIL

 



Meus caros amigos,

Antes de tudo preciso dizer que sou brasileiro, carioca tijucano, amo meu país e minha cidade.

Sou padre, não historiador, de modo que deixo o estudo da gênese do que eu vou dizer a quem for especialista.

O povo brasileiro, de um modo geral, gosta de resultados não de meios. Por exemplo, a sorte e a malandragem são mais exaltadas que o trabalho e o esforço na mente de muitos brasileiros. Se dois pais estão conversando sobre os filhos que entraram na universidade, um por estudar duro durante anos e outro porque acertou a prova "no chute", este se sente em vantagem.

Não creio que seja um privilégio do brasileiro a preferência pelo fácil, mas para nós isso é mais forte. De tal modo que o difícil (estudar, trabalhar etc) é, digamos assim, tolerado, mas a vida seria melhor se não tivéssemos isso.

Ganhar na loteria, ser jogador de futebol, ter sorte, ser malandro, conseguir dar sempre "um jeito" são mais honoríficas para nós...

Sem dúvidas o povo brasileiro é um povo generoso. Mas essa generosidade não costume encontrar eco no que é sua obrigação, como o trabalho e o estudo, os quais para uma considerável parcela da população seria uma espécie de "mal necessário". O brasileiro é capaz de passar uma noite em claro fazendo o que gosta, mesmo que seja algo mais trabalhoso que o seu próprio trabalho profissional, mas em relação a este último a sua relação costuma ser pautada pelo estrito necessário.

Creio que é nesse sentido, de certa aversão ao que custa, que se deve a ignorância religiosa.

Essa ignorância religiosa se conjuga com uma compreensão equivocada da fé e da autoridade.

Para muitos brasileiros, em assuntos de religião, não há o que entender, mas o que acreditar quase que cegamente, sem necessidade de compreensão, e porque "o padre disse".

Os primeiros redentoristas que chegaram em Aparecida, chegaram a afirmar que a própria doutrina acerca da Santíssima Trindade para muitos fiéis tinha a sua base exatamente no fato de que "o padre disse", de tal modo que se o padre dissesse que eram duas ou quatro pessoas na Trindade, os fiéis só poderiam se adequar à essa novidade, sem questionar o próprio sentido do nome "trindade".

Não podemos negar que a Religião é apenas uma das faces desse problema, mas como católicos é o que mais nos importa.

Com palavras semelhantes, ainda que se aproximando mais de nossos dias, constataram a mesma coisa o Cardeal Leme e Dom Antônio de Castro Mayer.

Para todos era inquestionável uma "religiosidade" do povo brasileiro, mas sem profundidade doutrinal.

Como disse, mais próximo de nós e, consequentemente dos erros do nosso tempo, está Dom Antônio de Castro Mayer que, sendo o Bispo de Campos, me parece ter sido um dos poucos que aplicou à essa carência de doutrina o remédio adequado: o catecismo.

Assim, Dom Mayer promoveu o estudo do Catecismo em sua diocese, muitas vezes emoldurado por outras coisas, como campeonatos de ping-pong (onde ele mesmo participava) e sobretudo através de Cartas Pastorais.

Tal como disse Nosso Senhor, somos libertados pela Verdade.

Um povo instruído no Catecismo não depende do seu padre para cada passo que deve dar, ao mesmo tempo que não se afasta da verdadeira fé. Os sacerdotes têm a graça de simplesmente aprofundar em seus sermões aquilo que se torna tão natural para o fiel como o seu próprio nome: as verdades de fé, os mandamentos, os rudimentos da Liturgia...

Assim, por exemplo, as pessoas devem se vestir de acordo com seu sexo e de acordo com a modéstia. Isso ensinado no Catecismo por gerações, criava uma sociedade modesta, a tal ponto que se chegasse um padre ou bispo, ensinando o contrário, ele não poderia mudar o que já se tinha tão fortemente arraigado na alma das pessoas, fossem simples ou doutas, ainda mais nas simples.

Uma outra realidade que não podemos negar é o afeto do povo brasileiro, esse afeto unido às vezes à uma carência das figuras familiares também é fonte de muitos males.

Porque se nada se pode sobrepor à Verdade, muitas vezes lança-se mão de argumentos torpes como, por exemplo, não "gostar". "Ah, vocês não gostam do Papa...", "Você não confia em mim, seu Bispo, seu pai?", "O padre x é nosso paizinho, eu não posso dizer que ele está errado..."

Isso é baixo e vil.

As autoridades, em qualquer situação, mas especialmente na Igreja, existem para guardar a Verdade. Se não o fazem, não adianta apelar para sentimentalismos. Não se pode usar a bondade e amabilidade do povo brasileiro para lançá-lo no erro.

Sempre será útil recordar o princípio de que não importa quem disse, mas o que foi dito.

Ainda hoje podemos nos alegrar com vários frutos da grandiosa obra de Dom Antonio de Castro Mayer, mesmo que, desde dentro a tenham tentado destruir. É consolador encontrar fiéis simples que sabem melhor do que padres com doutorado o que é a obediência e quais limites lhe são impostos, o que é certo e o que é errado, o que é herege e o que é católico, e muitas vezes é o sentido prático e laborioso de um homem do campo mais aguçado para isso do que quem se gloria de títulos inúteis se não estiverem plenamente a serviço da fé católica.

Escrevo isso, meus amigos, para incentivá-los no estudo do Catecismo, especialmente o Catecismo de S. Pio X, em perguntas e respostas, simples como a Verdade. Pode nos parecer de início custoso, vamos encontrar desculpas para não fazer... Mas se fizermos, não estaremos sujeitos aos ventos que por todo lado nos querem afastar daquele Porto Seguro que é a fé católica.




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