O EDIFÍCIO DE NOSSA VIDA
Muitas pessoas buscam a direção espiritual num contexto de
desolação, geralmente porque perceberam que não têm cumprido bem seus deveres
de estado: “não tenho sido bom esposo”, “gostaria de ser uma mãe mais zelosa”...
O que falta a essas pessoas, muitas vezes, é compreender a si
mesmos como uma casa construída em honra do Senhor. Pense em usar a tinta mais
cara, mais bonita, de melhor qualidade, numa casa onde não se cuidou bem na
edificação de eliminar certas infiltrações... a tinta vai estufar e cair como
se fosse uma tinta de péssima qualidade.
Assim, muitos se preocupam em ser bons esposos, ou bons
padres, mas não se preocupam em ser bons cristãos. Por isso, a tinta cai.
Dom Chautard em “A alma de todo apostolado”, lembra o
princípio de charitas prima sibi, que poderíamos compreender como “é
necessário, em primeiro lugar, cuidar de sua própria vida espiritual”
(obviamente não é uma tradução...).
Só será um pai exemplar, aquele homem que primeiro, cuidou (e continua cuidando) de sua própria estrutura humana, principalmente através das virtudes
(paciência, bom-humor, caridade, rigeza...), particularmente aquelas virtudes
que exigem um exercício duro e constante. Muitas pessoas deixam de fazer um retiro ou até mesmo de rezar ou fazer uma boa leitura espiritual porque pensam que isso atrapalharia algo que deveriam fazer.
Se um esposo trai sua esposa, o que lhe faltou não foi tanto
ser um bom cristão, mas não ser um animal. Porque fidelidade e castidade são
virtudes humanas – adquiridas com a ajuda da graça, evidentemente – mas virtudes
humanas, muitas vezes encontradas e valorizadas entre pessoas que simplesmente
querem ser “pessoas direitas”, sem terem ainda conhecido o anúncio do Santo
Evangelho.
Por isso, muitas vezes na Direção Espiritual, é necessário
voltar atrás e não pensar nos problemas do esposo ou do pai ou do padre, mas
nas faltas do homem e do cristão.
Um pai pode deixar muito a desejar não porque não ame
seu filho, mas porque não reza por ele. Porque não busca na oração as graças
para viver bem seu papel de pai.
É claro que na construção da casa, as coisas se dão em etapas. Na vida
não é bem assim.
Ou seja, não é uma pessoa que chegou ao vértice mais alto de
sua maturidade humana e cristã que se casa. Se fosse assim, nem muitos
velhinhos se casariam...
Mas as coisas vão caminhando juntas, ou numa visão mais
apropriada para Igreja Militante que somos: estamos numa guerra com várias
frentes de batalha.
Isso não é um problema, é a realidade. Mas, jamais nos
esqueçamos que Deus combate por nós e conosco. Nessa luta para ser um bom
homem, um bom cristão, um bom esposo, um bom pai, um bom profissional, um bom amigo...
Deus está conosco! Deu-nos ainda um anjo só para nos ajudar nisso. E pôs ao
nosso lado aqu’Ela que é terrível como um exército ordenado, Maria.
Apenas seu nome, seja para nós um brado de guerra, semelhante
àqueles que quando o exército está quase se entregando, alguém grita e surge
força onde só havia fraqueza.
Como sugestão concreta, gostaria de propor a Leitura Espiritual Dupla. Trata-se de uma invenção minha, mas que, apesar disso, pode dar certo. Seria o costume de que a pessoa tivesse dois tempos, de dez ou quinze minutos no máximo de leitura espiritual. No primeiro (preferencialmente pela manhã) a leitura seria sobre temas de formação pessoal (virtudes, vida de oração, sacramentos, aproveitar os próprios defeitos etc) e em outro tempo, preferencialmente à tarde, onde se leria sobre a vocação à qual Deus o chamou: leituras sobre o casamento cristão, sobre ser um bom pai, vida de santos que viveram essa vocação etc. Que tal tentar?
Ah, tenta antes de dizer que não tem tempo. Charitas prima sibi.
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