MEDITAÇÕES SOBRE A LADAINHA LAURETANA XV

 

VASO ESPIRITUAL

Seguem na Ladainha três invocações iniciadas com a palavra "vaso": espiritual, honorífico, insigne de devoção.

Primeiramente Nossa Senhora é chamada de Vaso Espiritual, porque n'Ela jamais houve espaço para o "homem carnal" como diz S. Paulo, ou seja, para as fraquezas próprias do pecado original. Nossa Senhora de grandeza em grandeza crescia em sua vida espiritual desde o momento de sua Imaculada Conceição. 

Concebida sem pecado, Nossa Senhora é preservada de toda ação do pecado e do demônio. Perfeitíssima, sua alma nunca esteve subjugada ao seu corpo, muito pelo contrário. Seu espírito não apenas animava o corpo, mas o conduzia.

Vaso espiritual significa que Nossa Senhora é em grau perfeitíssimo o receptáculo daquela vida espiritual que Nosso Senhor pede de cada um de nós.

Daí que, imediatamente após conceber o Salvador, quando seria natural que seu corpo buscasse descanso, seu espírito busca servir, e vai apressadamente às montanhas servir Isabel.

E nesse caso, vemos ainda que o próprio serviço de Maria é muito mais espiritual que material. O serviço que Nossa Senhora presta à Izabel não é apenas um auxílio nos afazeres da casa, mas a efusão do Espírito Santo e a santificação de João Batista ainda no ventre de sua Mãe.

Nada em Nossa Senhora é puramente material, e o que é material assume imediatamente um valor espiritual ao ponto de que a sua união com Deus fosse tão intensa, que a mais comum das ações de Maria tenha mais mérito diante de Deus do que as mais heróicas ações de todos os santos juntos.

Em Maria vemos reproduzida em absoluta perfeição aquela vida espiritual da qual devemos participar.



VASO HONORÍFICO

Essa invocação pode ser compreendida de dois modos: que Nossa Senhora é digna de honra e que Ela mesma existe para servir de honra a Deus.

Nossa Senhora é digna de honra: se devemos honrar aqueles que nos fazem o bem, na medida em que nos fazem o bem; não encontramos criatura alguma que nos tenha feito um bem maior que Nossa Senhora. Por isso, se todas as nações do mundo fizessem um ato público de consagração à Nossa Senhora e revestissem as Igrejas à Ela dedicadas de toda a sorte de preciosos ornamentos, ainda seria pouco, diante do que Ela merece.

Ela é infinitamente digna de honra, porque infinito é o Bem que nos vem através d'Ela: Nosso Senhor Jesus Cristo.

Mas, ao mesmo tempo, Nossa Senhora existe para honrar a Deus. Toda a sua vida foi consagrada para honrar ao Senhor: sua conceição imaculada, seu nascimento, sua consagração no templo, a anunciação... não houve momento da vida de Maria que não fosse em honra do Senhor. Sua respiração, as batidas de seu Imaculado Coração, tudo é em honra do Senhor.

O homem foi criado para honrar a Deus. Mas somente Nossa Senhora foi capaz de realizar em si mesma a plenitude dessa destinação de todo ser humano. Por isso, ela contem em si o merecimento de toda a honra que deve receber de toda a criação, e, ao mesmo tempo, ela é em si mesma toda a honra devida a Nosso Senhor.



VASO INSÍGNE DE DEVOÇÃO

Essa invocação nos aponta em primeiro lugar a particularidade da Santíssima Virgem: Ela é insigne.

Muitos artistas quando realizam sua obra prima, destroem as formas, os esboços, para que a sua obra prima não seja repetida por mais ninguém. Deus, que não se repete jamais, fez de Maria a sua obra prima. Se cada ser humano é único, tanto mais única é a perfeição que Deus pôs em Maria.

No dizer do grande Santo Marial, S. Luís Maria Grignon de Montfort: "ao ajuntamento de todas as águas Deus deu um nome: mar; ao ajuntamento de todas as graças Deus deu um nome: Maria".

Nossa Senhora é insígne, como insígne são, por exemplo, os louvores dados a Ela da parte do próprio Deus, ora através do Anjo, ora através de Isabel.

Mas, a invocação completa é: Vaso insígne de devoção.

Já compreendemos que a expressão vaso, significa receptáculo. Nossa Senhora é o receptáculo sem igual da devoção, ou seja do culto a Deus.

Nenhuma alma devota compara-se à Nossa Senhora. Todas as almas devotas juntas, no fervor maior de sua devoção na via unitiva, não se comparam à devoção de Nossa Senhora para com Deus.

Em Nossa Senhora não acontece, como acontece tantas vezes conosco, um rompimento entre devoção e afazares, há n'Ela o dom da oração constante, sendo Ela o modelo perfeito de fazer todas as coisas em estrita união com Deus. Nossa Senhora é a primeira a fazer todas as coisas por Ele, com Ele e n'Ele.

Por essa razão, a justica exige que a nossa devoção para com Ela também seja insígne. Nossa Senhora não é uma Santa a mais. Nossa devoção por Ela não pode ser uma devoção a mais, mas ser a devoção.

Muitos santos, quando lhe pediam um conselho, invariavelmente respondiam: "devoção à Nossa Senhora", o Coração Imaculado de Maria, é, de fato, a porção escolhida do Reino de Deus que, se buscamos, todo o resto nos vêm por acréscimo.

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