ELOS

 


Nosso Senhor guardou sua Santa Igreja com uma corrente de três elos: Ele mesmo no Santíssimo Sacramento, Sua Santíssima Mãe e o Papado.
De longe percebe-se que nessa corrente o elo mais frágil é justamente o Papado, por ser o único onde é possível encontrar alguma marca de pecado, não pelo Papado em si, mas porque essa instituição divina é ocupada por homens que podem, uns mais outros menos, estarem marcados pela fragilidade.
Assim, o Papado, como elo mais fraco da corrente, é o que mais necessita de auxílio.
Esse auxílio recebe em primeiro lugar dos dois elos anteriores, de Nosso Senhor e de Nossa Senhora, mas também necessita do auxílio daqueles mesmos a quem cabe proteger.
O auxílio ao Papado se dá de quatro formas: devoção, oração, submissão e resistência.
Em primeiríssimo lugar a alma católica ao ouvir o nome Papado, deve sentir-se como que atraída ao solo para ajoelhar-se. O Papado para um católico é fonte de extremada devoção. Saber que Deus confiou à Santa Igreja uma instituição que aparentemente humana recebe sua força de Deus e as graças necessárias para ser um baluarte da verdade na Santa Igreja, e tal como a verdade ser incapaz de enganar-se e enganar no que diz respeito à fé e a moral.
Todavia, essa instituição de Nosso Senhor subsiste numa pessoa, num homem, nascido com o pecado original e por isso mesmo sujeito à fraquezas, imperfeições e mesmo pecados. O Papado já nasce regado pela oração do próprio Nosso Senhor: "Pedro, eu roguei por ti..." e encontra a sua força também na oração dos fiéis. Nenhuma Missa é celebrada sobre a face da terra em que não seja nomeado o Santo Padre, nenhuma oração e nenhuma ação deveriam fazer os fiéis sem que antes houvesse ao menos um oferecimento geral pela Augusta Pessoa do Romano Pontífice.
Sendo o Papa dócil à graça de Deus próprias ao Papado e por aquelas que lhe chegam pelas preces dos fiéis, cabe ao católico ser radicalmente submisso ao Papa. Sem questionar nenhuma de suas decisões que, nesse caso, são a manifestação mais certa e segura do desejo de Deus e da voz do Supremo Pastor da Santa Igreja, Nosso Senhor Jesus Cristo. 
Porém, o quanto fere a alma católica isso, pode acontecer que haja um hiato entre o Papado e o Papa.
O Papado existe fundamentalmente para confirmar a fé, tal como disse Nosso Senhor na oração que fez por Pedro: "Eu roguei por ti (...), confirma os teus irmãos". Deste modo, o Papado é em si, uma instituição absoluta, mas o Papa não possuiu um poder absoluto. Sua autoridade está muito bem delimitada no que é a doutrina da Santa Igreja em questão de fé e costumes. O Papado existe para conservar a fé e os costumes da Santa Igreja. Se aquele sobre o qual recai o peso do Papado, excede esse limite, a instituição Papado continua incólume, mas à esta pessoa só resta a resistência dos fiéis, cuja origem é exatamente a devoção, a oração e a submissão ao Papado.
Quando Papado e Papa estão perfeitamente unidos é um verdadeiro dom do Senhor à Sua Igreja, mas quando há a separação entre um e outro, é o pior castigo que Deus pode enviar.
Mas os castigos de Deus nesse mundo têm sempre uma razão de cura. Deus castiga para curar. Nesse sentido, muitas vezes quando um Papa se afasta do ideal do Papado, muitos fiéis sentem arder em seus corações um zelo que os leva a conhecer melhor a doutrina vilipendiada e agir em caridosa resistência ao que ocupa, embora indignamente, a Cátedra de Pedro.
Foi esse o caso da grande Santa cuja festa celebramos hoje: Santa Catarina de Sena.
Essa Santa não temeu resistir aos sacerdotes, bispos e Papas indignos. Exortando-os à Santidade ou prevendo-lhes os castigos que, bem maiores do que aqueles que cabem aos simples fiéis, recairiam sobre esses prelados indolentes.
Aos sacerdotes que viviam em pecado, chamou-os de demônios; aos bispos e cardeais de diabos encarnados e ao Papa não temeu ordenar que se comportasse como um homem e voltasse à Roma, quando este preferia continuar na segurança e conforto de Avignon...
Ao mesmo tempo, compreendia e ensinava que o Papa, se fiel ao Papado, é o doce Cristo na Terra.
Como pode uma pessoa ora agir de um modo, ora de outro...
O amor ao Papado! E o desejo de que Papado e Papa sejam uma única coisa.
A resistência ao Papa, ou a qualquer autoridade eclesiástica é um dever, quando esta se afasta da Santa Doutrina, e peca mortalmente aquele que - para não complicar a vida - se submete a um pastor que se transformou em lobo ou mercenário.
Na Igreja a Santa Doutrina, é o que faz com que a devoção ao Papado seja fruto do amor à Nosso Senhor, não um culto ao Papa; ou a resistência ao Papa, que não conservou essa doutrina, seja consequência desse mesmo amor.
Uma mentalidade revolucionária, procura criar um sistema mais ou menos dessa forma: "se concorda, ama; se não concorda, não ama". Desse modo é difícil compreender que um amigo que corrige um erro de outro, seja de fato um amigo e não um inimigo...
Essa não pode ser a nossa mentalidade.
Não somos revolucionários, ao contrário, somos contra-revolucionários!
E, por isso, para nós, nada é mostra de amor maior do que corrigir e, até mesmo resistir, do mesmo modo como agiu Santa Catarina de Sena.


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