MEDITAÇÃO SOBRE A PAIXÃO DO SENHOR XXXVIII

 


Disse o Anjo à Virgem Santíssima: "Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi.  Reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim" (Lc 1, 32-33).

Imaginai, irmãos caríssimos, o mistério que a Anunciação envolve! O Anjo Gabriel é enviado por Deus à Nazaré. É o primeiro anjo que se apresentará à Rainha dos Anjos! Ele sabe que Ela é Rainha, sua Rainha; ela ainda não sabe.

Maria Santíssima só compreende a Si mesma, na medida em que compreende Nosso Senhor. As palavras do Arcanjo não lhe revelaram apenas sobre o Filho que conceberia, mas lhe revelaram muito dela mesma: Cheia de graça, o Senhor é contigo...

É conhecendo a Nosso Senhor que nos conhecemos realmente. Muitos consideram que devem buscar-se a si mesmos para adquirirem o auto-conhecimento. Já a alma cristã compreende que o seu auto-conhecimento é concomitante ao conhecimento que tiver do Verbo Encarnado. Tal como S. Pedro, é quando proclamamos quem é realmente Nosso Senhor, que Nosso Senhor nos revela quem realmente somos.

Fez-se carne o Verbo de Deus.

E toma do ser de Maria Santíssima toda a sua Santíssima Humanidade, do corpo de Maria, forma-se o Corpo de Cristo de uma forma muito mais excelente e total, por não ter havida a participação de um homem, mas do Espírito Santo. De fato Maria, mais do que qualquer um pode dizer: "O meu Amado é meu!"

Mas o Anjo fala a Nossa Senhora de um reino, de um trono. Nossa Senhora não se exalta com essas palavras tão magnifícas, de algum modo intui que haverá um reino, haverá um trono, haverá uma coroa, mas que não serão segundo os parâmetros do mundo que o Seu Filho veio redimir.

Foi inaugurado um Reino de Paz. Um reino de paz aos quais os homens maus e o demônio, desde Herodes com o massacre dos inocentes até o anti-Cristo que se manifestará combateram com uma violência sem igual. Um Reino de Paz, cujos súditos são constantemente entregues à morte, tal como foi o seu Rei.

Foi talhado um trono. Não em ouro, prata, cedro... mas da tosca madeira que fez a Cruz do Senhor. E esse trono é para sempre. A cruz é o único trono que ninguém jamais derruba. Stat crux, dum volvitur orbis... A cruz permanece estável, enquanto o mundo dá voltas. Impérios, reinos, ducados foram e voltaram, perderam-se e esqueceram-se ao longo dos séculos, mas a cruz está ali, sempre, estável, enquanto o mundo dá voltas.

Foi preparada uma coroa. A coroa de espinhos. Nosso Senhor não apenas não a recusou como ainda ao longo da história não se cansa de oferecer a tantas almas privilegiadas que tiveram a ventura de ver Nosso Senhor oferecendo-lhes amavelmente a coroa de espinhos, como sinal de compartilhar o reinado d'Ele já aqui na terra. Mas também a nós Ele oferece essa coroa. Não precisamos ver Nosso Senhor, porque vemos a sua coroa em toda a parte: nas dificuldades, nas tentações, nos sofrimentos... ali está essa coroa pedindo que seja posta em nossa cabeça para reinarmos com Ele.

Hoje o Verbo se fez carne. Formou para si um Corpo, não glorioso, não impassível, não imortal. Mas pobre, capaz de sofrer e, sobretudo, capaz de morrer. E é esse mesmo Corpo que nos é dado em cada Santa Comunhão. Na Santa Comunhão, o Verbo não se faz pão, uma vez não haver mais pão pela transubstanciação. Não é o Verbo que se faz pão, mas o pão que se torna Corpo, verdadeiro Corpo... Ave, verum Corpus...

Recorramos hoje à Maria, somos seus escravos. Ela é Nossa Senhora, no sentido mais estrito do termo. E tomemos o propósito de não A deixar pela impureza. O único pecado capaz de afastar Nossa Senhora de uma alma é a impureza, porque nada há de mais avesso à Ela - Virgem Santíssima - que a degradação de um corpo pelo pecado. Virgem Pura, tornai-nos puros para vermos Jesus.

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