MEDITAÇÃO SOBRE A PAIXÃO DO SENHOR XXXVI

 

Diz a Esposa: "Ó tu, que habitas nos jardins, faze-me ouvir a tua voz" (Ct 8, 13).

No Cânticos dos Cânticos o grande local do amor entre o Esposo e a Esposa é o jardim. Mesmo a sua casa é sustentada pelas árvores da floresta e o seu leito é verdejante. Tudo remete ao jardim.

Foi num jardim que o homem se afastou de Deus. Deus plantou um jardim, pôs nele o homem e o homem desobedecendo a Deus, perdeu a Deus e perdeu o jardim.

Se num jardim começou o reino do pecado e da morte, num jardim teria que começar o reino da vida. Quando imaginamos o Calvário, temos em mente, como praticamente todos os lugares da Terra Santa, uma paisagem quase desértica: areia, pedras, poeira e sol. Mas o Evangelista S. João, que nos acompanha especialmente nesse tempo da Paixão, embora não descreva diretamente como era o Calvário, nos diz que "próximo ao lugar onde fora crucificado havia um jardim". 

Não importa tanto como era o Calvário fisicamente, importa que ele é o jardim onde Deus curou as feridas feitas no primeiro jardim. O Calvário é jardim, porque possui flores e árvores. No centro dele, está plantada a nova árvore da vida, a Cruz, que possui um fruto que não conduz à morte, ao contrário, salva da morte: Nosso Senhor. No Calvário há a Rosa Mística que é a Virgem Maria, uma rosa branca e púrpura: Rainha das Virgens e Rainha dos Mártires. Há ali o lírio de pureza que é o Apóstolo virgem, S. João. Há ali as penitentes violetas de Madalena e das Santas Mulheres... O Calvário é um jardim.

E nesse jardim Deus habita, e para esse jardim Ele nos chama!

"Ó tu que habitas nos jardins, faze-me ouvir tua voz!"

Precisamos ouvir a voz do Senhor a partir do jardim do Calvário. Aquelas Sete Palavras que tão bem faria às nossas almas meditar, mas todas as lições que Ele nos dá silenciosamente. Porque o silêncio também é fala de Deus.

Lições de humildade, de perdão, de misericórdia, de justiça, de oração, de confiança, de caridade sem igual.

Ó cristãos, adentrai nesse jardim! Vede que a espada flamejante que estava dirigida contra nós já foi desviada para Ele, para que ninguém pudesse temer entrar nesse jardim! Senti o perfume das flores que encontram vida em torno dessa árvore, senti o perfume das almas santas, em particular o suavíssimo perfume que exala de Maria Santíssima!

Entrai, entrai nesse jardim. Não temei estender vossas mãos para tomar o fruto, não mais proibido da nova árvore da vida. "Tomai e comei, pois este é o meu Corpo!", diz-nos o Senhor. E se "aquele que comer da árvore da vida morrerá"- quando se tratava da primeira, escutai o que se diz dessa nova árvore da vida: "Se não comerdes a Carne do Filho do Homem e não beberdes do Seu Sangue não tereis a vida em vós!"

Ó Jardim de delícias que só as almas eleitas conseguem enxergar! Ó casa edificada por ciprestes, ó leito verdejante em que Amado e Amada se unem num matrimônio sem fim!

Ó tu que habitas nos jardins, faze-me ouvir tua voz!



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